TV 247 logo
      Washington Araújo avatar

      Washington Araújo

      Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

      157 artigos

      HOME > blog

      Soberania desafia e vence tarifaço

      Tarifa de Trump desafia, mas isenções para 694 produtos, mostra robustez e firmeza brasileira em defesa de sua soberania

      Lula e Donald Trump (Foto: ABR | Reuters)

      A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros, elevando a taxação total a 50%, anunciada em 30 de julho de 2025, inclui uma lista de exceções com 694 itens, divulgada pelo governo americano como parte do decreto.

      Essa relação abrange setores cruciais da pauta de exportação brasileira, como a indústria aeronáutica e o agronegócio, sinalizando que a medida não foi aplicada de forma indiscriminada, mas com o intuito de mitigar impactos em áreas vitais.

      Principais produtos isentos incluem aeronaves e insumos, como aviões da Embraer e peças de reposição — pneus, motores e turbinas; produtos de ferro, aço, alumínio e cobre, metais básicos para indústrias diversas; madeira, matéria-prima para construção; minérios, abrangendo ferro, estanho e derivados; carvão, gás natural, petróleo e derivados, fontes energéticas; castanha-do-brasil, relevante para mercados internos e externos; suco e polpa de laranja, bebidas de alta demanda internacional; e fertilizantes, insumos agrícolas essenciais.

      Essa seletividade reforça a robustez brasileira, permitindo que o país transforme o desafio em uma alavanca para maior soberania econômica e diversificação comercial. Longe de representar um bloqueio total, a ordem executiva de Trump, ancorada em alegações de ameaças à segurança nacional, economia e política externa dos EUA, expõe uma perspectiva intervencionista e enviesada.

      Acusações sobre violações à liberdade de expressão, perseguição política e interferências em empresas americanas são escancarados pretextos para protecionismo, misturando questões internas brasileiras com um bocado interessadas econômicas. Referências a ações judiciais, como as do ministro Alexandre de Moraes, e à suposta caçada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, destacam uma tentativa de politizar o comércio.

      Não tenho dúvida de que, com isenções preservando fluxos em setores estratégicos, o Brasil ganha uma boa margem para reafirmar autonomia e explorar novas rotas.

      Em primeiro lugar, a tarifa, atenuada pelas exceções, acelera a diversificação de mercados. Os Estados Unidos, apesar de relevantes, cedem espaço para destinos como China, Índia e União Europeia, principais interessados por itens brasileiros, especialmente commodities e manufaturados.

      Em 2024, a China capturava 26% das exportações, contra 10% dos EUA.

      As isenções em energia, minérios e agroprodutos mantêm receitas estáveis, facilitando negociações bilaterais que diminuam dependências e elevem ganhos. O Mercosul, por sua vez, pode revitalizar-se como polo integrado, com liderança brasileira em cadeias regionais.

      As isenções estimulam inovação doméstica. Setores afetados, como manufaturados não excepcionados, impulsionam aportes em tecnologia e valor agregado. É nesse contexto que penso o Brasil, tradicional exportador de primários, prioriza agora industrialização, ampliando competitividade.

      Iniciativas da Embrapa e BNDES expandem suporte a empresas menores, fomentando bens sofisticados e reduzindo exposição a barreiras.

      Não podemos ser eternos exportadores de matérias-primas. Não estamos mais nos séculos 19 e 20. O século XXI é o século da tecnologia de ponta, da imersão científica, da criatividade em todos os campos da atuação humana e não será exportando soja nem café que o Brasil mudará sua posição de “deitado eternamente em berço esplêndido” para alcançar o futuro que lhe é destinado. E que não tem nada a ver com o “destino manifesto”, aquela destrambelhada visão centenária dos irmãos do Norte.

      A medida de Trump também fortalece a diplomacia econômica brasileira e esse será tema do próximo artigo. Porque merece.

      Na OMC, contestações à legalidade das tarifas — com precedentes como o caso do algodão em 2009 — demonstram expertise. A ameaça de escalada em retaliações abre vias para posturas claras, inequívocas, aliando-se a parceiros globais contra unilateralismos.

      As isenções, ao limitar danos imediatos, concedem tempo para estratégias precisas.Por último, o decreto, com suas exceções, pode unificar o país. Histórico de superação em crises une produtores, autoridades e sociedade em torno de desenvolvimento soberano.

      Acredito que a visão de Trump, que retrata o Brasil como risco, contrapõe-se com diplomacia firme, exibindo solidez institucional.

      Assim, a tarifa, moderada por isenções, emerge não como entrave, mas como catalisador de reinvenção. E com nosso território vasto, recursos abundantes e talento humano, o Brasil converterá pressão em marco de robustez econômica e independência estratégica. Isso se chama defesa real da soberania do país.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...