Rubens Paiva e uma lição da ditadura: é proibido esquecer
Cerimônia de 8 de outubro irá reunir representantes de 102 famílias, irmanadas por um motivo singelo e, ao mesmo tempo, de valor histórico
Em cerimônia marcada para 8 de outubro, no Largo de São Francisco, em São Paulo, brasileiras e brasileiros recuperam um elemento fundamental de nossa verdade histórica.
O reconhecimento, definitivo, de que o empresário e deputado Rubens Paiva, personagem valioso da resistência ao regime militar, não sofreu uma morte acidental, como se tentou veicular na época, mas foi vítima de um crime intencional, um assassinato político cometido pela ditadura de 64.
Parlamentar articulado, atuante e corajoso, Paiva era titular de um patrimonio que lhe permitiria usufruir as delícias de uma vida confortável e próspera, como tantas personalidades de sua classe e posição social.
Em vez disso, engajou-se a fundo na resistência contra um regime de força, que em 64 interrompeu um esforço de décadas, pelo desenvolvimento autônomo do país para entregar nossas riquezas e nosso futuro ao domínio imperialista, como se veria nas décadas seguintes.
Parte necessaria do esforço pela reconstituição da memória da nação, indispensável para a formação da consciência de todo um povo, a cerimônia de 8 de outubro irá reunir representantes de 102 famílias, irmanadas por um motivo singelo e, ao mesmo tempo, de valor histórico.
Décadas depois dos crimes cometidos no porão militar, seus familiares terão direito a uma reparação simbólica, que diz respeito a memória de todo o país. Vão receber um atestado de óbito que faz justiça à verdade histórica.
Ali se informa aos interessados que a morte de Rubens Paiva não foi um episódio natural da existência humana, mas produto de um crime, descrito sem rodeios nem eufemismos: "Morte violenta causada pelo Estado no contexto do regime ditatorial instaurado em 1964." Está lá, registrada em cartório. A verdade, apenas a verdade.
Embora nenhuma medida possa diminuir a dor e a indignação de amigos e familiares das vítimas de atos de barbárie, cabe registrar um fato essencial.
A recuperação da verdade, sem enfeites nem subterfúgios, segue um processo delicado e nem sempre facilitado pelos poderes públicos, comprometidos pela memória da ditadura militar. Representa por isso um fato essencial para a formação da consciência de brasileiros e brasileiras, alimentando a esperança de que a barbárie de uma época possa ser estudada e debatida por novas e velhas gerações, para nunca mais se repetir.
Este é o ponto essencial da cerimonia de 8 de outubro.
Alguma dúvida?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.