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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Relator da “anistia”, Paulinho da Força não é confiável

O Solidariedade de Paulinho da Força está insatisfeito e já declarou que apoiará Ronaldo Caiado

O deputado federal Paulinho da Força (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Noticia-se que o deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, deverá ser o relator do tal projeto de anistia, aberração parlamentar bem afeita à composição atual do Congresso Nacional. Diz-se das ótimas relações do pelego com o Hugo Motta, o pusilânime presidente da Câmara dos Deputados. O jornalismo “fontista” que reina em Brasília também informa que o ex-sindicalista tem sido o interlocutor da Câmara perante ministros do Supremo Tribunal Federal, na tentativa de encontrar um texto palatável a gregos e troianos, como se qualquer ato condescendente com os golpistas não constituísse um novo golpe.

O deputado garante que não será elaborado projeto que contemple “anistia ampla, geral e irrestrita”. Nossa, que bom!

O leitor e a leitora apostam na palavra de Paulinho? O que esperar da relatoria de um “representante dos trabalhadores” que foi fervoroso defensor do impeachment de Dilma Rousseff ao lado de entidades patronais, e da Lava Jato, até ser enredado por ela? Oportuno lembrar de quem se trata.

Em 2007, o Ministério Público Federal relacionou Paulinho a um esquema que teria desviado recursos de financiamentos do BNDES. Em setembro de 2015 a Segunda Turma do Supremo autorizou o recebimento de denúncia que transformou o caso em ação penal no STF.

Em 5 de junho de 2020, a Primeira Turma do STF condenou Paulinho da Força a 10 anos e dois meses de reclusão, além de multa e outras sanções, como perda de mandato e impedimento de exercer função pública. A votação foi apertada - três a dois. Votaram pela condenação os ministros Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, em sua versão punitivista, e Rosa Weber. Alexandre de Moraes e Marco Aurélio Mello votaram pela absolvição de Paulinho. Também fixou-se ressarcimento ao BNDES de182 mil reais, com correção monetária.

A execução da pena foi sendo postergada pela interposição de recursos. Em 21 de novembro de 2023, o Plenário do STF decidiu reverter a condenação de Paulinho. Ou seja: a sentença de 2020 foi anulada e revista pelo Supremo.

Terá nascido dos diálogos “recursais” travados entre 2020 e 2023 o “bom relacionamento” de Paulinho com ministros do STF, que o credencia para negociar o perdão aos golpistas?

A capivara de Paulinho de Força, contudo, é um pouco mais extensa. No âmbito da Lava Jato, investigações apontaram que o parlamentar teria recebido entregas de recursos por meio de caixa 2 da Odebrecht, totalizando, segundo a investigação, cerca de R$ 1,8 milhão — com relatos de quatro entregas ocorridas em 2014 na sede da Força Sindical.

A Polícia Federal indiciou Paulinho por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A acusação de que Paulinho da Força teria recebido a bolada foi arquivada pelo STF, por decisão do ministro Dias Toffoli, em fevereiro de 2025. A justificativa central foi que as provas principais - planilhas da Odebrecht - foram anuladas, restando apenas delações sem evidência corroborativa suficiente.

Com integrantes ocupando cargos secundários no atual governo Lula, o Solidariedade de Paulinho da Força está insatisfeito e já declarou que apoiará Ronaldo Caiado nas eleições presidenciais de 2026. É a face do peleguismo, a mesma que redigirá o projeto golpista de anistia.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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