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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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A trairagem é regra na direita brasileira

O extremo individualismo é a marca indelével dos reacionários. Bolsonaro quando presidente largou muitos “amigos” na poeira

Ato bolsonarista em São Paulo-SP (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

A História mostra que a política é feita de lealdades e rasteiras, mas no campo da direita a trairagem parece ser a regra. Talvez resida no extremo individualismo, marca indelével dos reacionários, a motivação de certos políticos para passarem a perna em aliados à menor desconfiança. Não prevalecem interesses comuns ao grupo e muito menos ao país, vide o que fazem os Bolsonaros contra o Brasil com a única finalidade de livrar o patriarca da cadeia. Não à toa impera o caos entre a turba. 

Jair Bolsonaro quando  presidente largou muitos “amigos” na poeira, alguns dos quais também passou a atacar. Seu vice, general Hamilton Mourão, foi completamente ignorado a partir de certo ponto do mandato e nem sequer foi convidado, ao que parece, a participar da trama golpista ora desvendada e punida. Sérgio Moro, que abandonou o barco da Justiça por não suportar interferências - isto na versão oficial -, foi atacado publicamente pelo ex-chefe.

O que dizer do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, obrigado a deixar o governo por não ser um negacionista da ciência durante a pandemia de Covid-19? Nem se fale do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, persona non grata no núcleo bolsonarista depois de ter sido um bravo paladino da destruição do ensino pretendida pelo governo do capitão.

A lista não pode deixar de contemplar o general Santos Cruz, Major Olímpio, Gustavo Bebianno, Joice Hasselmann, Luciano Bivar, Roberto Jefferson, João Doria. E, claro, Carla Zambelli, pistoleira bolsonarista abandonada aos leões.

Trair, mudar de lado, desdizer-se. Não que isso não ocorra na esquerda, como prova Aldo Rebelo, mas na direita trata-se de característica dominante entre seus expoentes há bastante tempo. Lembre-se de Carlos Lacerda, aliado dos militares em 1964, mas logo rompido por pretender ser candidato à Presidência da República. Ele próprio sentiu-se traído, mas também abandonou antigos aliados civis do golpe para tentar se beneficiar.

O “babalorixá” Antônio Carlos Magalhães, sempre dado como exemplo de político de direita malicioso e pragmático, tinha fama de abandonar aliados quando não lhe serviam mais — por exemplo, rompeu com José Sarney após ter sido um dos seus pilares. Mais tarde, distanciou-se de Fernando Henrique Cardoso quando viu vantagem em se aproximar de Lula no início dos anos 2000.

Em tempo: este jornalista considera de direita os políticos do Centrão, sem exceção.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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