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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Que cidade é essa?

É a cidade que revela, da forma mais escandalosa, o fracasso da “guerra às drogas”

Panorama da cidade do Rio de Janeiro com destaque para as montanhas do Corcovado e Pão de Açúcar (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasi)

Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, a mais linda do mundo, das praias mais belas. A cidade do sol, do mar, a cidade do Carnaval mais maravilhoso do mundo!

Tudo isso convivendo, esquizofrenicamente, com a cidade mais violenta do Brasil. Uma cidade em que, ao mesmo tempo em que as praias estavam lotadas, ocorria a chacina que produziu mais de 130 mortos!

Como convivem os dois Rios de Janeiro? Como podem coexistir duas cidades tão antagônicas?

É a cidade que revela, da forma mais escandalosa, o fracasso da “guerra às drogas”.

Uma operação desastrosa do governador direitista do Rio de Janeiro revelou, de forma clara, a dimensão do problema. Considera-se que quase metade do estado do Rio de Janeiro está controlada por grupos narcotraficantes.

Existe o narcotráfico porque existe o consumo de drogas. Além da injustificada proibição legal da maconha, que já foi legalizada, com grande sucesso, no Uruguai, sem nenhum problema.

Um consumo que se concentra em setores das classes médias e das mais ricas, que vivem, em geral, na zona sul da cidade. A articulação entre a produção, o tráfico e o consumo de drogas ajuda a explicar esses enigmas da cidade e permite entender as duas faces de uma mesma realidade.

Há uma porque há a outra; uma depende da outra. Uma de suas expressões mais cruéis é a existência dos “aviõezinhos”, as crianças que são usadas para circular as drogas, dos traficantes até os consumidores, valendo-se da impunidade dos menores e da necessidade de algum tipo de trabalho nas comunidades mais pobres da cidade.

O Rio de Janeiro, mesmo quando deixou de ser a capital do Brasil, nunca perdeu sua beleza, que faz dela a maior atração turística – nacional e internacional – do país. A fama da violência convive com a tranquilidade da zona sul da cidade, frequentada por setores das classes médias e altas e pelos turistas, onde estão os hotéis e restaurantes procurados por eles.

Os que vivem na cidade, ou os que costumam visitá-la, sabem de tudo isso, convivem com isso, desfrutando, ao mesmo tempo, das belezas da cidade.

As camadas populares vivem entre dois fogos: o da polícia e o dos narcotraficantes. Nas escolas desses bairros, as professoras instruem os alunos a se esconderem embaixo das carteiras quando começam os tiroteios, sem, com isso, conseguirem escapar das balas.

É essa trama complexa de fenômenos que articula, de forma contraditória, a existência dessa cidade ao mesmo tempo maravilhosa e violenta, que é o Rio de Janeiro.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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