“Preferimos perder”, diz Gleisi sobre PL que limita PF e critica Derrite
Ministra critica relator do PL antifacção e afirma que escolha de Derrite é “contra o país”
A ministra Gleisi Hoffmann afirmou que o PL antifacção, relatado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), limita a atuação da Polícia Federal e afronta o combate ao crime organizado no Brasil. Em entrevista, ela disse que a escolha do relator incomodou o governo, que prefere ser derrotado no Congresso a aceitar retrocessos na segurança.
A ministra das Relações Institucionais reforçou que o Palácio do Planalto avalia como “má escolha” a indicação de Derrite, secretário de Segurança de São Paulo, para relatar o projeto. Segundo ela, a designação é “contra o país”.
Gleisi avaliou a escolha de Derrite como uma provocação política, por ele ser secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial adversário de Lula (PT) na disputa presidencial de 2026. Segundo ela, a indicação acendeu alerta porque vincula o comando do relatório a um aliado direto do governador paulista.
O debate ocorre após Derrite apresentar parecer ao PL 5.582/2025 condicionando a atuação da PF à provocação de governadores. A proposta também mexe na jurisdição da Justiça Federal em portos e aeroportos. Integrantes do Ministério da Justiça classificaram o texto como tentativa de esvaziar investigações sobre facções e lavagem de dinheiro.
“É preferível ser derrotado do que negociar entregando pontos essenciais”, disse Gleisi, ao afirmar que o governo não aceitará “meia-conciliação” que enfraqueça instituições federais. Ela cobrou do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), “mudar isso aí”.
A resistência no Executivo e na base foi vocalizada também pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), que evocou críticas constitucionais e chamou o texto de “escandaloso”.
O presidente da Câmara defendeu debate amplo e disse que segurança é pauta suprapartidária. Ele afirmou que o projeto endurece penas e mantém avanços, e que conduzirá a discussão com “firmeza e diálogo”.
Nos bastidores do Congresso, parlamentares avaliam que a reação pública do governo busca travar uma articulação da ala bolsonarista para restringir investigações sensíveis. A leitura é que, ao condicionar a PF a governadores, o texto cria blindagens políticas e abre brecha para questionamentos judiciais em série. Fontes da PF também alertaram para riscos operacionais.
A discussão expõe a disputa central sobre quem comanda o combate ao crime organizado num país com redes interestaduais e conexões internacionais. A entrevista de Gleisi sinaliza que o Planalto não aceitará retrocesso institucional em troca de acordo político.
O embate sobre o PL antifacção entrou na zona de confronto aberto entre governo e oposição. A segurança pública exige coordenação nacional e autonomia investigativa. O país não pode transformar proteção institucional em moeda parlamentar.
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