Os asseclas do Jair

Alexandre de Moraes decretou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Demorou! Contudo, a decisão acertada do ministro foi suficiente para que setores do empresariado brasileiro, mídia golpista e personagens do meio jurídico saíssem em defesa do “coitadinho” do Jair. Os mesmos agentes que agora criticam a decisão do ministro, defendendo o direito de criminosos atacarem instituições, autoridades e a democracia são os mesmos que nunca dão um pio quando meninos negros são espancados e mortos pela polícia. São os mesmos que fazem cara de paisagem quando mulheres são agredidas na rua, nas redes sociais, como no caso da primeira-dama do país, ou até mesmo no Congresso Nacional, como foi feito recentemente com a ministra Marina Silva.

Diz-se que a decisão do ministro Moraes foi exagerada, que possui “fundamentos jurídicos frágeis”, e que até seus pares concordam com isso, o que poderá levá-los a suspender a decisão do colega de Corte. Que suspendam, e que Moraes deixe a relatoria do caso, entregue tudo ao presidente da Casa e tire um ano sabático de férias numa praia paradisíaca em um lugar desconhecido! O curioso nisso tudo é que nunca se consideram exageradas as decisões que mandam para as masmorras brasileiras os jovens acusados de roubar uma bicicleta, um bolo ou uma barra de chocolate. Enfim, a hipocrisia! 

Jair Bolsonaro é um criminoso contumaz, reincidente e sempre disposto a atentar contra o Estado Democrático de Direito, como está dito linha por linha na papelada apresentada pela PGR ao STF. Mas Jair não anda só. Está aí aquela ONG que apoiou a Lava Jato, que não me deixa mentir. Jair, político medíocre do chamado baixo clero, não teria nem chegado onde chegou sem o inconteste apoio da burguesia. Jair é homem branco, rico e poderoso. Jair sabe onde fura a cerca. Jair casou e batizou por mais de trinta anos sem ser incomodado pelos freios e contrapesos da República. Montesquieu se remexe na tumba! 

Em torno de si, Jair criou um séquito que enriqueceu graças às suas benesses. Tais seguidores (apenas os escolhidos) comeram da ambrosia do poder e se refestelaram com o mel pago por aqueles que mal têm o que comer, mas que também o seguem como zumbis. E no momento em que o líder da seita é retirado de cena, os asseclas entram em pânico, surtam e se tornam ainda mais perigosos a ponto de ocupar a Câmara e o Senado, impedindo que as atividades do Congresso sigam seu curso. Comunistas! Não, pera.

Esparadrapo na boca, olhos e ouvidos. Piada pronta. Circo de horrores e vergonha alheia. Nunca na história deste país parlamentares de direita e de extrema direita ocuparam o Congresso Nacional em defesa dos direitos do trabalhador, por melhores condições de trabalho e salário para professoras e professores, defesa do meio ambiente ou contra a matança da população preta. Nunca na história do Brasil, parlamentares extremistas anunciaram “obstrução total” de todas as pautas da Câmara e do Senado até que se parasse o extermínio dos povos indígenas e assassinatos de mulheres. Ah, mas agora a pauta é “mais importante”! É necessário parar tudo até que o bandido de estimação da casa-grande seja posto em liberdade, que seja votada a anistia aos criminosos do 8 de janeiro e que Alexandre de Moraes seja expurgado do STF. É AI-5 parlamentar que chama? 

Em tempos líquidos, vivemos para ver aqueles que sempre atacaram as liberdades, defenderem agora a “liberdade de expressão”. Vivemos para ver criminosos que sempre atacaram os direitos humanos (“esterco de vagabundo”) recorrerem aos direitos humanos, para passarem uns dias fora da cadeia. Vivemos para ver um juiz ser perseguido e sancionado por uma potência estrangeira, em claro desrespeito à nossa soberania, por seguir as leis e a Constituição do país, ou seja, fazer o seu trabalho. Que tempos!