O novo führer - entre a distopia e o mundo real
Caso Trump cumprisse as promessas doidivanas de invadir a Groenlândia, o México ou o Canadá, o primeiro efeito colateral seria o fim da OTAN
Entre os gritos insanos do novo führer – Trump – e sua margem de manobra no mundo real, há um gritante fosso de realidade. Se o führer original, para tornar o Reich grande, com a mesma ideia de alargamento das fronteiras do "espaço vital", para garantir mercados e fontes de matérias-primas, lançou o mundo numa guerra com 50 milhões de mortos; no planeta nuclear do século XXI, uma guerra de tal dimensão, acabaria por transformar o mundo num planeta só de baratas, que não saberão cantar o hino russo, chinês ou estadunidense. Até para uma guerra de grandes dimensões a margem de manobra do mundo atual é o Apocalipse.
Caso Trump cumprisse as promessas doidivanas de invadir a Groenlândia, o México ou o Canadá, o primeiro e significativo efeito colateral seria o fim da OTAN e uma total reconfiguração da geopolítica da guerra, com uma provável secessão total entre UE e EUA, com a perda de bases militares estratégicas e do apoio, sempre tão dócil, de Alemanha, Inglaterra (lembrando que o Canadá formalmente faz parte da Comunidade Britânica) e tornado-se, o próprio EUA, uma ameaça pesada à UE.
No mundo real para além do discurso de Trump existe uma coisa chamada CGV – as Cadeias Globais de Valor – no capitalismo do século XXI, do qual nenhum país do mundo consegue escapar. É bom lembrar que seu palhaço-mor, Elon Musk, que fez a saudação nazista para festejar a posse do novo führer, cumpre sem reclamar todas as determinações que a China impõe ao X e tem a maior parte da produção do Tesla em território chinês.
Obviamente você pode colocar barreiras setorizadas, como a correta posição de taxar as comprinhas de bugigangas da Shein e Shopee, por parte do governo brasileiro; mas tachar setores inteiros de insumo significa, ao fim a ao cabo, tachar o próprio produto final estadounidense.
Um IPhone – tomemos o produto como exemplo – é desenhado no vale do Silício, suas baterias de longa duração dependem do triângulo do lítio na América do Sul, sua fabricação final é chinesa ou ele pode ser empacotado e ter alguma pequena operação final nos EUA, suas ações são vendidas nas bolsas de Nova Iorque, Tóquio e Pequim, já sua sede contábil é na Irlanda. Qualquer sobretaxa na sua CGV afeta o valor do produto final, seja nos EUA, China ou UE e acaba pesando contra o lucro das próprias empresas ianques.
Ao fim e ao cabo, quem pode acabar perdendo valores, ou mesmo elos da cadeia neste processo são os EUA – já que as empresas, mesmos as estadunidenses, buscam o lucro maior a qualquer custo, e não se importaram em garantir melhores fatias de lucros fugindo de sobretaxas dentro do território estadunidense – deslocados para elos fora da guerra comercial contra a China, com quem todas as grandes empresas ianques têm simbiose e sinergia hoje em dia. Vale lembrar que a China é a maior credora individual dos EUA e também uma das suas maiores parceiras comerciais.
O "mercado local e curto" – com exceção de produtos em pequena escala da agricultura familiar, de algumas redes muito locais – é apenas uma utopia. Make America Great Again serve como propaganda fascista. Como estratégia de competição no capitalismo atual é uma distopia inalcançável. Se os EUA sobretaxarem o México, por exemplo, vai afetar são suas empresas maquiladoras localizadas ao Sul da fronteira que perderão competitividade – conseguida em boa parte pelos péssimos salários e desconsiderações com os danos ao meio ambiente que podem impor ao país vizinho.
Fora dos discursos misântropos de Trump, na economia do mundo real, "Make América Great Again" é só um discurso desmiolado do novo Führer. Lembram do filho do Bolsonaro fazendo fanfarronice em frente à embaixada chinesa? E Bolsonaro no segundo seguinte embarcar com centenas de empresários do agro para pedir penico ao Xi Jinping? O mundo da economia real é mais forte que as baboseiras da ultra direita.
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