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Gustavo Tapioca

Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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O incrível dia que o Brasil condenou militares golpistas

No Brasil, em 2025, o 11 de setembro já é uma data histórica

Primeira Turma do STF (Foto: Antonio Augusto/STF)

O 11 de setembro insiste em marcar a história da humanidade com sangue e tragédia. Do golpe de 1973 no Chile ao atentado às Torres Gêmeas em 2001, a data ficou associada ao horror.

No Brasil, em 2025, o 11 de setembro já é uma data histórica. Marca para sempre na história do Brasil uma data, até ontem, inacreditável. O dia que mostrou que o Brasil pode, sim, condenar militares de alta patente que tentaram um golpe de Estado para resgatar a ditadura sanguinária de 1964, que durou 21 anos.

O 11 de setembro se inscreve no calendário como o dia em que a Justiça alcançou Jair Bolsonaro e os principais artífices de uma organização criminosa, arautos de um projeto golpista e assassino. O Supremo Tribunal Federal condenou o capitão ex-presidente, generais de quatro estrelas, um almirante, um tenente-coronel, e figuras-chave do bolsonarismo, todos implicados na tentativa de destruir a democracia brasileira.

Bolsonaro condenado

Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República, foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado. A pena exemplar encerra a trajetória de um líder que, desde sempre e com mais intensidade a partir do seu primeiro dia de governo, em 2018, conspirava contra as instituições.

No banco dos réus, Bolsonaro foi sentenciado por crimes contra a ordem democrática, por liderar uma organização criminosa e uma operação que incluía o assassinato do presidente da República e seu vice — eleitos democraticamente e já empossados — , além de um ministro do STF.

A operação Punhal Verde-Amarelo foi o nome atribuído ao plano golpista articulado pela extrema-direita. A conspiração previa a derrubada violenta do governo eleito e incluía o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, além da prisão de parlamentares e governadores progressistas considerados inimigos.

Inspirada em manuais da ditadura militar, a operação previa o fechamento do Congresso e a suspensão das liberdades democráticas. Se tivesse sido executada, teria instaurado uma nova ditadura militar nos moldes da ditadura 1964, que durou 21 anos. A operação Punhal Verde-Amarelo foi descoberta e desbaratada durante as investigações do Polícia Federal e tornou-se prova central no julgamento que condenou Bolsonaro e seus generais.

Militares condenados

A grande novidade histórica do julgamento é que, pela primeira vez, generais de quatro estrelas e um almirante — membros da elite das Forças Armadas — foram condenados por um tribunal civil por tentativa de golpe.

- General Walter Braga Netto – ex-ministro da Defesa e ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro. Condenado a 26 anos de prisão.

- General Augusto Heleno – ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Condenado a 21 anos de prisão.

- General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa de Bolsonaro. Condenado a 19 anos de prisão.

- Almirante Almir Garnier Santos – ex-comandante da Marinha. Condenado a 24 anos de prisão.

- Tenente-Coronel Mauro Cid – ajudante de ordens de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Condenado a 2 anos em regime aberto, após delação premiada.

Civis condenados

Ao lado dos militares, civis com funções-chave no governo Bolsonaro também receberam penas duras:

- Anderson Torres – ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF. Condenado a 24 anos de prisão.

- Alexandre Ramagem – ex-diretor-geral da Polícia Federal. Condenado a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão.

O 11 de setembro brasileiro

A condenação desses homens, até ontem intocáveis, mostra que o Brasil sangra em suas datas marcantes, mas resiste. O 11 de setembro de 2025 ficará na história como o dia em que a democracia brasileira sobreviveu a uma tentativa de assassinato, e impôs penas duras aos conspiradores.

Ao contrário do Chile de 1973, onde o golpe venceu, o Brasil de 2025 provou que a Justiça pode prevalecer sobre a violência. Ainda assim, o sangue na data insiste em nos lembrar que a luta pela democracia é permanente e que a conspiração contra a soberania popular nunca desaparece — apenas muda de forma.

Sim. Chegou a hora das comemorações que começaram na noite feliz do 11 de setembro de 2025, se estendeu por todo o fim de semana, e vai se prolongar por todo o mês, pelo ano inteiro. E sempre a cada dia 11 de setembro.

A extrema-direita continua viva

Mas não podemos deixar de lado o fato de que a extrema-direita é perversa no Brasil e no mundo. Vai continuar tentando, por todos os meios, matar a democracia — por dentro, conforme o modelo descrito por Levitsky e Ziblat em "Como as democrtacias morrem" — , por fora e ou no modelito clássico de golpe de Estado.

Bolsonaro e seus militares tentaram os dois modelos, por dentro e por fora, foram mal sucedido em ambos. Mas seus seguidores continuam ativos contando com o apoio da extrema-direita trumpista e global.

Traidores da Pátria

A campanha de 2026 já começou. Eles estão em plena guerra. Os traidores da Pátria, a exemplo de Eduardo Bolsonaro, vão continuar sendo instrumentos da extrema-direita trumpista na tentativa de ganhar a eleição de 2026 a qualquer custo.

E por falar em traidor da pátria, surgiu mais um durante o julgamento da organização criminosa brasileira: Luís Fux, o único voto pela absolvição dos comparsas. Já circula que Fux se prepara para ser candidato a governador ou senador pelo Rio de Janeiro. Daí seu voto demonstrando de que lado está.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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