O dia em que perguntei a Lula, que estava preso: “O senhor aceitaria usar tornozeleira eletrônica?”
A resposta foi um discurso sobre honra e coragem, que contrasta com a postura de Jair Bolsonaro, cujo filho foi pedir ajuda ao presidente dos EUA
Em junho de 2019, eu entrevistei Lula na prisão e perguntei a ele: “O senhor aceitaria usar tornozeleira eletrônica?” A resposta de Lula foi um discurso sobre honra e coragem. “Não sou ladrão nem pombo-correio”, disse ele.
Era a quarta entrevista de Lula desde que fora preso, em consequência da condenação decidida por Sergio Moro, que depois, juntamente com a esposa, iria para a carreira política.
Foi um cárcere político, já que o então juiz se tornou ministro de Jair Bolsonaro, que Moro ajudou a eleger, ao retirar da disputa o favorito no pleito.
Lula dizia ter esperança de que provaria sua inocência e, por isso, não queria nenhum benefício, nenhuma alternativa que passasse a imagem de que estaria assumindo a culpa.
Ele chegou a dizer para um assessor, atual chefe de gabinete, Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola, que resistiria fisicamente a qualquer tentativa de lhe colocarem tornozeleira.
Quem patrocinou essa ideia da tornozeleira foi Sepúlveda Pertence, que, juntamente com Cristiano Zanin, era seu advogado.
Ex-presidente do STF, Pertence havia conversado com ministros e a disposição destes era conceder prisão domiciliar com o uso de tornozeleira eletrônica.
Lula disse mais: “minha casa não é prisão”.
Esse episódio aproximou ainda mais Lula de Zanin, que não concordava com Sepúlveda Pertence.
Com a negativa de Lula, Pertence acabou se afastando da defesa do então ex-presidente, e Zanin ganhou mais autonomia.
Ele atuava em sintonia com a vontade de Lula.
Fiz um vídeo em que trato desse episódio e dou a resposta de Lula. Veja abaixo.
580 dias
Luiz Inácio Lula da Silva foi preso em 7 de abril de 2018 na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, após ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.
A condenação ocorreu em segunda instância, apesar da ausência de provas e por um tribunal que tem como marca a submissão a Moro, que, como juiz, obteve um vídeo que mostra a orgia de desembargadores do TRF-4 com garotas de programa.
A submissão também ficou patente quando ele, como juiz, liderou um movimento que resultou no afastamento do desembargador Dirceu de Almeida Soares, que tinha sido presidente do tribunal.
Durante o período em que ficou preso, Lula esteve impedido de disputar as eleições presidenciais de 2018 – fundamentado na jurisprudência que permitia prisão após condenação em segunda instância, posteriormente considerada inconstitucional.
A própria jurisprudência foi criada em 2016, no auge da Lava Jato, depois que Sergio Moro teve um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em que defendia a prisão após sentença de primeira instância.
O documentário “580 dias – A prisão e a volta triunfal de Lula”, que eu dirigi, juntamente com Patri Salgado, e apresentei, mostra como foi a rotina de Lula no cárcere, a partir de depoimentos de advogados, militantes da Vigília Lula Livre, amigos e parentes.
Em 2021, o STF, por 7 votos a 4, reconheceu a parcialidade de Moro e anulou as decisões.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU também revisitou o caso e concluiu que os direitos políticos de Lula foram violados em 2018, quando o Tribunal Superior Eleitoral impediu sua candidatura a presidente.
Lula foi solto em 8 de novembro de 2019, depois que o STF declarou inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância.
Posteriormente, o ministro Edson Fachin anulou as condenações por falta de competência da Vara de Curitiba, seguida da confirmação da suspeição de Moro, e as acusações foram revertidas, tirando Lula da condição de réu.
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