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Fernando Horta

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Galípolo faz Lula trabalhar para os ricos

'Galípolo é o principal cabo eleitoral do Bolsonarismo', escreve o colunista Fernando Horta

Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva de imprensa, em Brasília (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

O Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo (indicado ao cargo pelo presidente Lula), subiu mais uma vez a taxa básica de juros básica (SELIC) no Brasil para 15% ao ano. Esse valor é o maior valor desde 2006 e coloca o Brasil no nada meritório local de segunda maior taxa de juros do mundo. Se tivermos a informação de que na mesma semana os EUA MANTIVERAM INTACTAS suas taxas de juros (mesmo com o aumento do déficit público em função das inúmeras guerras que eles patrocinam).

Porém, ainda mais incompreensível do que a subida dos juros em um momento crítico para o governo é o relatório do Banco Central que “justifica o aumento de juros”. É um festival de sandices e ameaças que passa o limite até mesmo para ser ofensivo. Segundo os diretores do Banco Central (a maioria indicado pelo presidente Lula) há uma confusão entre “expectativas” e a realidade da economia e um tremendo desconhecimento de geopolítica e mesmo sobre economia básica.

O relatório justificativo é um sincericídio da falta de capacidade dos profissionais que lá estão. Ele começa por apontar as “expectativas de inflação” dadas pela “pesquisa Focus”. Se o leitor for um pouco atento e perguntar – para o google mesmo – o que é a “pesquisa Focus” receberá como resposta que a pesquisa é “é um relatório semanal divulgado pelo Banco Central do Brasil que resume as expectativas de mercado para diversos indicadores econômicos, como inflação (IPCA), taxa Selic, Produto Interno Bruto (PIB) e taxa de câmbio.”. Ou seja, a decisão de aumentar juros, sacramentada pelo presidente Gabriel Galípolo é baseada na expectativa das expectativas de 170 instituições DE MERCADO, como bancos, consultorias e etc.

Caro trabalhador, é como se fossem consultados os principais sindicatos do Brasil, geridos por trabalhadores engajados politicamente na luta de classes para decidir pelo quanto de aumento sobre o salário-mínimo tem que ser dado. E, o que quer que saia dessa pesquisa, acata-se!!! Contudo, o pior ainda está por vir. Para os diretores do Banco Central há uma (1) “desancoragem das expectativas de inflação”, (2) “uma maior resiliência na inflação de serviços” em função “de um hiato do produto mais positivo” e uma (3) “conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado”.

Traduzindo esses absurdos para uma linguagem comum a todos nós, os sapientes do Banco Central estão dizendo que aumentaram os juros porque (1) muita gente “do mercado” acredita que a inflação vai subir no ano que vem, (2) o preço dos “serviços” (médicos, advogados, faxineiros, engenheiros e etc.) estão subindo porque a economia (PIB) está crescendo, e (3) a guerra tarifária internacional tem mantido o câmbio em valores maiores do que o esperado.

É um “a gente acha que ...” completamente sem responsabilidade e, principalmente, sem relação causal comprovada já que a inflação brasileira não é pelas razões que o comunicado avisa. Mas, caro leitor, ainda não estamos no fim do poço. Segundo os sapientes intocáveis do Banco Central, o “comitê SEGUE ACOMPANHANDO com atenção os desenvolvimentos da POLÍTICA FISCAL”. Ou seja, eles sequer tiveram a coragem de colocar esta razão entre os pontos mais importantes, mas seguem legitimando o argumento da oposição de que o governo está “gastando demais” e para “assegurar a convergência” com a meta de inflação, afirmam que os juros seguirão altos “por período bastante prolongado”.

No final do comunicado há uma ameaça explícita ao presidente Lula: “O comitê ENFATIZA que seguirá VIGILANTE, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que NÃO HESITARÁ em PROSSEGUIR no ciclo de ajuste caso julgue necessário”. Ou seja, se Lula tentar fazer política pública para os mais pobres o Banco Central estará vigilante para aumentar os juros e entregar parte substancial do PIB direto nas mãos das elites via juros. E Lula que não tente, porque os sencientes do BC, sem um mísero voto ou sem ter passado por nenhum escrutínio social real já avisaram que vão deixar o país sangrando porque um conjunto de super-ricos que ganham com a taxa de juros alta, acha que a taxa de juros tem que ser alta.

Este é o tamanho do erro chamado “Gabriel Galípolo” que tem como padrinhos gente de esquerda que se diz entendedora das coisas.

Vamos aos fatos. Subindo a taxa nominal de juros (nominal porque é o valor que está ali colocado, no caso 15%) Galípolo faz o governo trabalhar para os ricos já que todo o esforço para conter a inflação faz Lula aumentar os juros reais (juros reais são os juros nominais MENOS a inflação). Se os juros ficam ancorados e a inflação diminuir, o juro real aumenta. Por exemplo, hoje temos juros reais de quase 10% ao ano (uma taxa obscena) já que a SELIC (juro nominal) está em 15% e a inflação um pouco acima dos 5%. Já não basta um Congresso que trabalha sempre para o agro, para a Faria Lima e para qualquer ricaço que acene com milhões para campanha, agora temos direto do BC, com pomposos sobrenomes que são “soldados marciais” em defesa do financismo. Os donos dos bancos, das corretoras e os bilionários brasileiros podem dormir tranquilos. Não há meio democrático que possa fazer reduzir a exploração desses senhores sobre o restante da população. Enquanto Gabriel Galípolo for presidente do Banco Central, os bilionários brasileiros podem dormir tranquilos em seus Iates na Costa Amalfitana, tomando seus “chandons” sem produzirem um prego sequer. Suas fortunas seguirão crescendo a uma taxa mínima (garantida pelo governo) de 10% ao ano.

E se formos ainda mais aos fatos, o mundo inteiro se prepara para uma recessão oriunda tanto da guerra tarifária de Trump contra a China, quanto das diversas guerras que os EUA patrocinam. O próprio Banco Central norte-americano avisa que há a forte possibilidade de uma recessão nos EUA, o que levaria ainda mais a economia mundial para o buraco.

Se Israel e o Irã resolverem parar com as escaramuças e partirem para uma guerra aberta, o valor do petróleo no mundo vai disparar levando a uma alta generalizada dos preços. Os esforços dos oito super-heróis do comitê do Banco Central em proteger os super ricos brasileiros vão continuar ativos em caso de a economia mundial degringolar.

Segundo o relatório, o errado é a economia estar crescendo, as pessoas tendo mais emprego e os profissionais quererem ganhar mais pelos seus serviços. Isso sim – valham-me deuses do Banco Central – é um sacrilégio inaceitável. Contra isso, subam-se os juros. E alguns ainda defendem que é para “defender” os pobres de uma eventual “inflação”, numa total inversão das condições de causa e consequência.

Galípolo é o principal cabo eleitoral do Bolsonarismo. Vai inviabilizar a reeleição do presidente Lula, e forçar uma saída melancólica e precoce do maior político da história brasileira, lembrado por um terceiro mandato “episódico” sem continuidade. Galípolo, porém, pode dormir tranquilo. Em 2026 quem está em risco é Lula e não ele, cujo mandato vai até o final de 2028, quanto ele poderá ficar de seis a oito meses de férias (recebendo na chamada quarentena) para depois virar diretor de algum banco regiamente remunerado pelo mercado pelos grandes serviços prestados.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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