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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Fidel Castro, líder invencível da Revolução Cubana

No 99º aniversário natalício, legado do líder cubano segue inspirando gerações na luta pela independência e o socialismo

Fidel Castro (Foto: Divulgação)

José Reinaldo Carvalho - Em 13 de agosto de 1926, na localidade rural de Birán, província de Oriente, nascia Fidel Alejandro Castro Ruz, filho de uma família de origem galega. Desde cedo, o ambiente de contrastes entre riqueza e pobreza, poder e opressão, moldou sua consciência. Fidel cresceu testemunhando a desigualdade social, a injustiça e o papel subordinado que se impunha à sua pátria.

Já no colégio, destacou-se pela inteligência e pelo questionamento das estruturas de poder. Na Universidade de Havana, onde ingressou para estudar Direito, mergulhou no turbilhão de ideias e movimentos políticos que agitavam a capital. Ali, conheceu o pensamento de José Martí, o mais destacado prócer da independência cubana, e adotou como suas as bandeiras do patriotismo e do anti-imperialismo.

A gênese do revolucionário

Em 1952, o golpe de Estado do general Fulgêncio Batista, apoiado por Washington, mergulhou o país em um regime de corrupção, violência e submissão ao capital estrangeiro. Foi nesse cenário que Fidel planejou o assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, e ao quartel Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo, na madrugada de 26 de julho de 1953. A ação, embora militarmente derrotada, foi um marco na história cubana. 

Preso, Fidel transformou o julgamento em tribuna política, proferindo o discurso que entraria para a história com a frase: “A História me absolverá”. Essa declaração era a expressão de uma convicção profunda de que a causa que defendia, a independência, a justiça social e a soberania, era justa e venceria. Condenado a 15 anos de prisão, foi libertado após uma anistia e partiu para o exílio no México, onde conheceu Ernesto “Che” Guevara e outros revolucionários e reorganizou o Movimento 26 de Julho.

A Sierra Maestra e a vitória de 1959

O desembarque do iate Granma, em dezembro de 1956, deu início à guerrilha na Sierra Maestra. Com um pequeno grupo de combatentes, Fidel, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Raúl Castro iniciaram a luta armada contra o exército de Batista. Durante dois anos, apesar das condições desiguais, aqueles revolucionários consolidaram um exército popular que avançava de vitória em vitória.

A vitória de 1º de janeiro de 1959 foi o nascimento de uma nova ordem política e social em Cuba. Pela primeira vez no continente, uma revolução popular triunfava a apenas 150 quilômetros dos Estados Unidos, desafiando a hegemonia imperialista e inspirando povos de todo o mundo.

Conquistas históricas da Revolução Cubana

Sob a liderança de Fidel, Cuba realizou mudanças profundas e duradouras:

Educação universal e gratuita: Em poucos anos, erradicou o analfabetismo, mobilizando jovens e professores para ensinar em todos os cantos da ilha.Saúde pública de excelência: Criou um sistema de saúde universal, preventivo e gratuito, reconhecido como um dos melhores do mundo.Reforma agrária radical: Expropriou latifúndios, distribuiu terras a camponeses e promoveu a mecanização agrícola.

Nacionalizações estratégicas: Recuperou para o controle nacional setores como energia, mineração, telecomunicações e indústria açucareira.

Avanços na cultura e no esporte: transformou Cuba em potência esportiva e centro cultural vibrante.

Essas conquistas ocorreram enquanto o país enfrentava o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos desde 1960. O cerco visava a asfixiar a economia cubana, mas Fidel liderou a resistência com firmeza e criatividade. 

O internacionalismo como marca

Desde os primeiros anos do triunfo da Revolução, Fidel apoiou movimentos de libertação nacional em todo o mundo. A Conferência Tricontinental de 1966, em Havana, foi um marco dessa política: reuniu líderes da África, da Ásia e da América Latina para coordenar a luta anti-imperialista. 

Em Angola, tropas cubanas ajudaram a derrotar a invasão do regime do apartheid, abrindo caminho para a independência do país. Em diversos momentos, médicos, professores e engenheiros cubanos cruzaram oceanos para apoiar nações necessitadas. As brigadas médicas internacionais, criadas por Fidel, chegaram a mais de 150 países, prestando atendimento em áreas de guerra, regiões afetadas por epidemias ou desastres naturais. 

Estadista de nomeada

Fidel Castro afirmou Cuba no concerto internacional, defendeu a autodeterminação e os inalienáveis direitos de seu país e influenciou a política mundial. Reconhecido por sua oratória contundente e sua habilidade estratégica, Castro projetou a voz de seu país muito além do Caribe, usando a tribuna das Nações Unidas e outros fóruns internacionais para denunciar o imperialismo, defender a autodeterminação dos povos e propor uma ordem global mais justa. Seus discursos, como o célebre pronunciamento de 1960 na ONU - que entrou para a história pela duração e pela intensidade -, tornaram-se marcos na diplomacia internacional, ecoando nas lutas anticoloniais e nos movimentos progressistas em todo o mundo. Ao longo de décadas, sua presença em cúpulas, conferências e encontros multilaterais reforçou a imagem de um líder que, mesmo à frente de uma pequena nação, exerceu enorme influência  no cenário geopolítico global.

Um grande latino-americano

A história da América Latina e Caribe registra grandes nomes, como Toussaint Louverture, Bolívar, Martí, Hugo Chávez, Salvador Allende, entre outros. Fidel agigantou-se, sintetizou a essência da luta latino-americana: uniu visão estratégica, firmeza ideológica e capacidade de ação prática. Com justa razão, seu nome e sua obra são reverenciados por todos os povos da região. 

Sua defesa da integração regional materializou-se em iniciativas como a ALBA, construída com Chávez, na CELAC, com tangos líderes patrióticos, e no apoio a governos progressistas e movimentos populares. Sempre defendeu que “a unidade é a única forma de sermos livres e independentes”.

Um líder de sólidos princípios 

No início da década de 1990, quando o socialismo retrocedia após a queda da União Soviética e demais países socialistas do Leste europeu, Fidel manteve a defesa intransigente do ideal socialista. Alertou sobre os perigos do neoliberalismo, da concentração de riqueza e da destruição ambiental. Sua lucidez em prever crises econômicas e conflitos geopolíticos fez dele referência mesmo para líderes fora do campo socialista. 

Firme nos princípios, recusou o oportunismo de direita, o liquidacionismo e a capitulação política e ideológica. Quando, no início dos anos 1990, a contrarrevolução grassava em toda a parte, o líder da Revolução Cubana deu histórica entrevista à imprensa internacional. Naquele momento, estava em voga vaticinar que o socialismo em Cuba desapareceria no “efeito dominó” da queda dos governos socialistas em países do Leste europeu.

Dizia Fidel perante boquiabertos jornalistas: “Cuba é o símbolo da resistência. Cuba é o símbolo da defesa firme e intransigente das ideias revolucionárias. Cuba é o símbolo da defesa dos princípios revolucionários. Cuba é o símbolo da defesa do socialismo” (…) “O povo cubano vai saber estar à altura de sua responsabilidade histórica”… “E aqueles que mudaram de nome, não sei a quem vão enganar com isso! Imaginem que amanhã nós mudemos de nome e digamos: Senhores, o congresso aprovou que em vez de Partido Comunista de Cuba nos chamemos Partido Socialista de Cuba, ou Partido Social-Democrata de Cuba. Vocês creem que realmente mereceríamos algum respeito? Porque os que mudam de nome são os que mudaram de ideias ou perderam toda a sua confiança nas ideias, perderam suas convicções” (3 de abril de 1990).

O mestre da batalha das ideias

Fidel possuía uma oratória única: longa, enérgica, detalhada e persuasiva. Seus discursos combinavam dados, análises e princípios éticos. Era capaz de falar durante horas sem perder a atenção do público, porque cada palavra carregava convicção e sentido histórico.

Era também estudioso e talentoso escritor. Sempre comprometido com a “batalha de ideias”, assumiu para si o papel de soldado nessa luta, exercendo liderança e inspirando todos que buscam caminhos para impulsionar a causa dos povos diante das novas realidades históricas. Em uma de suas reflexões, feita há quase duas décadas, declarou: “A vida sem ideias de nada vale. Não há felicidade maior que a de lutar por elas”.

Absolvido e confirmado pela História

A frase que pronunciou no tribunal, “A História me absolverá”, não foi apenas profecia: foi constatação. Décadas depois, mesmo após sua morte em 2016, seu legado permanece vivo. Cuba resiste ao bloqueio, mantém suas conquistas sociais e continua sendo referência de soberania. 

Fidel mostrou que um povo pequeno, mas determinado, pode enfrentar impérios. Sua vida foi exemplo de coerência, firmeza e compromisso inquebrantável.

Um legado que não se apaga

No 99º aniversário de seu nascimento, Fidel Castro continua a inspirar militantes, quadros dirigentes, trabalhadores e intelectuais em todo o mundo. Ele nos ensinou que a revolução é obra coletiva, que a ética não se negocia e que a luta só termina com a vitória plena dos povos. 

Sua figura pertence ao panteão dos que fizeram a história com lucidez e audácia. Em Cuba, na América Latina e em tantos outros rincões do mundo, seu nome é sinônimo de dignidade, resistência, luta, esperança e vitória.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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