Eleições 2026: democracia social inclusiva X autoritarismo social excludente
As eleições de 2026 não podem ser tratadas como um simples embate entre projetos de governo, mas como uma escolha civilizatória
Eleições 2026: democracia social inclusiva x autoritarismo social excludente
Estamos nos aproximando de uma das eleições mais decisivas da história recente do país. Cabe ao povo brasileiro manter-se plenamente atento não apenas às manobras internas das forças políticas de retrocesso, mas também às pressões externas, expressas nas sanções político-econômicas de uma superpotência em declínio, que, além de afrontar diretamente a soberania nacional, procura minar a estabilidade institucional e enfraquecer a sustentabilidade do poder executivo brasileiro.
Por ser um governo de coalizão, o presidente Lula, além de lidar com impasses dentro da própria máquina administrativa, precisa costurar alianças estratégicas com os presidentes das duas casas do Congresso Nacional, interlocutores nem sempre confiáveis. Somam-se a isso as tensões do “toma lá, dá cá” e a avalanche de impropérios e sabotagens da extrema direita organizada. Mesmo diante desse cenário de pressões internas e ataques externos, a assertividade do governo, especialmente na condução soberana da crise nas relações com os EUA, tem resultado em uma melhora expressiva de sua aprovação, conforme revela a última pesquisa Quaest, divulgada em 21/08.
Essa postura firme do governo é refletida também na atuação do Ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte que não tem se curvado às sanções impostas pelos Estados Unidos e mantém-se firme na condução da ação penal contra a tentativa de golpe de Estado. Nesse contexto, em 18 de agosto, o ministro Flávio Dino, em ação judicial iniciada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) que questiona a legalidade de municípios brasileiros moverem ações judiciais no exterior visando indenização por danos causados no Brasil, decidiu que nenhuma empresa pode aplicar restrições “decorrentes de determinações constantes em atos unilaterais estrangeiros” sem avaliação da autoridade brasileira competente, sob pena de violação da soberania nacional. A medida envia um recado claro contra tentativas de impor, por via transnacional, dispositivos como a Lei Magnitsky, utilizada pelos EUA contra o ministro Alexandre de Moraes.
Como era de se esperar, o governo norte-americano reagiu rapidamente pelas redes sociais. Afirmaram que a justiça de países estrangeiros não pode anular sanções impostas pela legislação estadunidense, como no caso da Lei Magnitsky. Em tom prepotente, como se o Brasil fosse um apêndice de seu quintal, a embaixada americana no Brasil replicou a nota intimidadora, chegando ao absurdo de adjetivar o ministro Alexandre de Moraes como alguém “tóxico”. Diante dessa reação, a decisão do Ministro Flávio Dino criou um alvoroço nos bancos, que passaram a temer as possíveis consequências em suas operações decorrentes da Lei Magnitsky. Contudo, não haverá recuo da parte do Ministro Dino. Em sentido contrário, o coautor da Lei Magnitsky, deputado democrata Jim McGovern, assinalou ao governo Trump que é vergonhosa a aplicação dessa lei ao ministro Alexandre de Moraes por contrariar o propósito para o qual foi originalmente criada.
Em entrevista concedida ao Washington Post em 18/08, o ministro Alexandre de Moraes alvo das sanções previstas na Lei Magnitsky, impostas pelo governo Trump em razão de suas decisões relacionadas ao ex-presidente Bolsonaro, réu na ação penal que ele relata, deu uma verdadeira aula sobre democracia e soberania brasileiras ao afirmar: “não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro sequer”.Com fina ironia, acrescentou: “Entendo que, para uma cultura americana, seja mais difícil compreender a fragilidade da democracia porque nunca houve um golpe lá”. O comentário, carregado de intenção crítica, levou entrevistador e leitores a refletirem sobre os Estados Unidos e o episódio da invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, incitada por Trump sob o falso argumento de fraude eleitoral. Aquele ato de insurreição deixou cinco mortos, vários feridos e um expressivo número de presos. Trump, ao contrário do que está acontecendo no Brasil mediante o devido processo legal, não foi julgado, como serão os réus brasileiros Jair Bolsonaro e os demais golpistas do núcleo crucial, no dia 02 de setembro.
Neste cenário de retaliações recorrentes pelo governo americano, estimuladas por um brasileiro que se comporta como um pária, Eduardo Bolsonaro, traidor da pátria começam a se delinear os contornos da disputa presidencial de 2026.
Nesse horizonte, é inevitável questionar como se sustentarão as candidaturas dos apoiadores de Bolsonaro, tanto da extrema direita, quanto da direita oportunista, diante dos áudios divulgados pela Polícia Federal (PF), nos quais Silas Malafaia aparece em um conluio grosseiro com o réu Bolsonaro. E como justificar a denúncia de que a anistia pleiteada era destinada exclusivamente a Jair Messias, deixando de fora os condenados pelos atos de 8 de janeiro? Mais ainda: de que forma explicar as movimentações financeiras da família Bolsonaro levantadas pelo Coaf, registradas pela PF de R$ 44 milhões entre março de 2023 e junho de 2025?
O embate eleitoral, portanto, não será apenas entre candidaturas, mas entre projetos opostos: de um lado, democrático e de justiça social representada pelo campo progressista; de outro, os representantes da extrema direita, entreguistas aliados históricos do bolsonarismo. Entre esses nomes despontam cinco figuras centrais, todas marcadas por trajetórias de entreguismo, autoritarismo e desprezo pelo povo: Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Michele Bolsonaro e Ratinho Júnior.
Tarcísio de Freitas do partido Republicanos-SP, atual governador de São Paulo, é outro personagem pária. Alinhado aos esquemas torpes de ataques e tentativas de violações à soberania brasileira por conspirações produzidas pela família Bolsonaro junto aos EUA e como provável herdeiro do espólio do réu Bolsonaro, Tarcísio teve o disparate de sugerir que o governo brasileiro deveria entregar alguma vitória ao governo americano, a fim de aliviar as sanções ao Brasil. A ideia de negociar a soberania brasileira é, no mínimo, um insulto à nação e aos brasileiros. Tarcísio chancela definitivamente sua absoluta incapacidade de governar qualquer unidade federativa, por menos expressiva que seja, que dirá governar um país. A fala do capitão Tarcísio deixa evidente o quanto facilmente se renderia a outro país por um retorno incerto. Tarcísio no intuito de se equilibrar entre a Faria Lima e ao bolsonarismo, revela-se tal como sempre foi, um enganador vulgar, um administrador pífio da extrema direita liberal que atende prioritariamente os interesses da elite financeira em detrimento das necessidades do povo. Os paulistas mediante seu governo amealharam prejuízos incontáveis, pelas inúmeras concessões de empresas e serviços públicos à iniciativa privada em 2024, a exemplo dos serviços de Saneamento, educação e infraestrutura que são setores que requerem a atuação direta do Estado por serem serviços essenciais. O povo sentiu a diferença antes e após as concessões. A curto prazo os serviços ficaram mais caros à população, além da precariedade no atendimento. Este estilo ultra liberal da extrema direita ao transferir serviços públicos para a iniciativa privada tem sido comprovadamente desastroso. As concessões normalmente são realizadas por um valor abaixo do mercado e, não raro, os valores pagos vem acompanhados de propinas para os bolsos de quem se envolveu decisivamente nas negociações. Tarcísio também falha na segurança pública. Na área da educação, o governo também é alvo de críticas severas. Professores e sindicatos denunciam a falta de valorização do magistério, a redução de investimentos e a precarização do ensino público estadual. A mesma lógica tecnocrática aplicada nas privatizações parece orientar a condução da educação. Há constantes denúncias da população paulista sobre a brutalidade policial dirigida tão somente às camadas pobres periféricas. Tarcísio tem reiteradamente se colocado como defensor irrestrito das forças de segurança, o que passa a impressão de blindagem institucional e de estímulo à lógica de confronto, em vez de investimento em inteligência e prevenção. Mesmo em áreas em que poderia se destacar, como infraestrutura, Tarcísio tem privilegiado grandes obras de visibilidade, muitas vezes voltadas a atender interesses empresariais e eleitorais, enquanto problemas estruturais do transporte público, da mobilidade urbana e da qualidade de vida da população seguem sem soluções efetivas. O escândalo bilionário envolvendo a Ultrafarma e a direção da empresa Fast anuncia um sistema de corrupção na máquina arrecadatória paulista. O deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) refere que Palácio dos Bandeirantes blinda politicamente lideranças, em detrimento de uma atuação firme contra a corrupção.
Romeu Zema, do partido Novo-MG, governador de Minas Gerais, é mais um personagem raso e limitado da extrema direita. Subserviente ao bolsonarismo, defende a anistia para os golpistas e chegou a prometer indulto político ao réu Bolsonaro. Trata-se de um político inepto e um administrador despreparado, como apontam setores que vão da segurança pública à saúde. Seu perfil autoritário e manifestamente antidemocrático se revela também na condução das finanças estaduais: durante sua gestão, a dívida de Minas Gerais com a União aumentou 50%. Para saldar esse passivo, Zema ofereceu à federalização empresas estratégicas como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), além de outros setores da administração pública. Na prática, sua real intenção é abrir caminho para a privatização desses serviços (Fonte: Brasil de Fato). Apesar de suas recorrentes demonstrações de ignorância em diversos campos, de seus posicionamentos anticientíficos e da negação dos episódios que atentaram contra a democracia no país, Zema mantém apoio da elite financeira e empresarial mineira. Essa elite, alinhada ao seu estilo autoritário e privatista, avalia os serviços estatais sob uma ótica atrasada, considerando-os meramente despesas e não potenciais instrumentos de desenvolvimento público sustentável, caso fossem devidamente administrados e articulados a políticas públicas capazes de elevar os índices de desenvolvimento humano em Minas Gerais.
Ronaldo Caiado do partido União Brasil-GO, governador de Goiás. Bolsonarista da extrema direita. Trata-se de um político reacionário, ruralista latifundiário. Foi fundador da União Democrática Ruralista (UDR). Reitera a cada entrevista que, se for eleito vai conceder anistia ao réu Bolsonaro, a sua trupe e aos bolsonaristas que invadiram e vandalizaram a sede dos Três Poderes em 8 de janeiro. Foi uma das vozes mais contundentes contra à Reforma Agraria. Sua gestão tem privilegiado os interesses de grandes produtores rurais, em detrimento da agricultura familiar e de comunidades tradicionais, ao mesmo tempo em que defende flexibilizações ambientais que fragilizam ainda mais o Cerrado. O estilo de liderança centralizador e autoritário, pouco aberto ao diálogo com movimentos sociais, reforça um perfil de governante que aposta mais no confronto do que na mediação. Paradoxalmente, mesmo sendo médico, Caiado não conseguiu dar à saúde pública goiana a atenção necessária, enfrentando denúncias de superlotação em hospitais e de má gestão na pandemia, quando oscilou entre restrições pontuais e concessões ao empresariado. Na educação, professores e servidores reclamam da falta de valorização e da crescente entrega da rede pública a Organizações Sociais, que operam sem transparência e com resultados questionáveis. Embora tenha rompido com Bolsonaro em 2020, o gesto foi interpretado mais como cálculo político do que como convicção, já que manteve práticas e alianças próximas ao campo da extrema direita. Ambicioso, Caiado sonha com espaço na política nacional, mas sua trajetória revela um pragmatismo típico da velha política, em que o discurso de independência serve mais como peça de marketing do que como compromisso com mudanças significativas.
Michelle Bolsonaro, do partido PL-DF, apresenta-se como uma mulher de fé e acessível, cuja trajetória de superação pessoal é explorada para inspirar e cativar o eleitorado conservador, em especial o evangélico. Essa imagem atrai não apenas o segmento neopentecostal, que enxerga em sua história uma oportunidade de reproduzir, em suas próprias vidas, uma trajetória pseudo vitoriosa, mas também setores de outros grupos religiosos e sociais que, em parte, se identificam com essa narrativa. Esse capital político lhe garante alguma pontuação, embora já em declínio nas pesquisas de intenção de voto. Por trás da aparente serenidade, Michelle revela uma inclinação autoritária e antidemocrática. Ao misturar religião e política, insere habilmente a pauta conservadora em seu discurso, captando a adesão de um eleitorado conservador e menos informado. Contudo, à medida que intensifica sua campanha, a imagem de voz calma e aparência mansa perde eficácia fora de sua bolha. Fica evidente sua limitação em compreender aspectos estruturais da realidade nacional nos campos econômico, financeiro, político, histórico-social e cultural. Em seus discursos, recorre a um espontaneísmo simplório e restritivo, semelhante ao do marido. Sem experiência em gestão pública e sem condições mínimas para exercer a Presidência da República, sua atuação recai constantemente na mesmice religiosa, baseada em dogmas neopentecostais e críticas vulgares a opositores. Embora sua performance possa viabilizar uma candidatura a cargos de menor relevância, onde seu despreparo passaria mais despercebido à imagem e semelhança de sua amiga pastora Damares Alves, figura caricata da fé neopentecostal.
Carlos Massa Ratinho Júnior do partido PSD-PR, governador do Paraná, vende a imagem de gestor jovem, moderno e eficiente, mas sua trajetória política revela contradições profundas. Herdando a força midiática do pai, o apresentador Ratinho, ele ascendeu na política muito mais pela projeção familiar do que por méritos administrativos consistentes. Sua gestão é marcada por privatizações e concessões questionáveis, especialmente no setor de rodovias, onde os altos pedágios continuam a penalizar a população, apesar das promessas de tarifas mais justas. A relação promíscua com grandes empresários e o agronegócio reforça a percepção de que governa para atender interesses privados, relegando a segundo plano a preservação ambiental e as demandas de comunidades indígenas e tradicionais. Na educação, professores e servidores estaduais denunciam congelamento salarial, cortes de direitos e a transformação da rede pública em laboratório de políticas gerenciais, que reduzem a qualidade do ensino e tratam alunos e professores apenas como números em relatórios. Na segurança pública, sua administração carrega o estigma de episódios de repressão policial contra movimentos sociais e servidores, dando continuidade a uma tradição de criminalização de protestos no Paraná. Embora tente projetar-se nacionalmente como alternativa de centro-direita Ratinho Júnior carrega consigo práticas da velha política, sustentadas por alianças fisiológicas, populismo midiático e dependência de grandes oligarquias econômicas. Por trás da retórica de inovação, persiste um governo conservador, voltado para manter privilégios de poucos, enquanto a maioria dos paranaenses enfrenta pedágios caros, educação fragilizada e serviços públicos enfraquecidos.
Assim, embora cada um desses candidatos busque construir uma identidade própria, ora mais alinhada ao bolsonarismo, ora à direita pseudo moderada todos convergem no mesmo projeto conservador e excludente.
Simultaneamente mesclas da direita, da extrema direita e do centrão que compõem os partidos União Brasil e Progressistas (PP) formalizaram em 19/08 a superfederação denominada União Progressista, fortalecendo o poder de fogo contra as pautas promotoras de justiça social para a maioria da população, em favor da manutenção de privilégios para a minoria rica do país, com prevalência de pautas ultra liberais em favor do mercado.
Esse agrupamento passa a constituir a maior bancada de deputados, maior número de prefeitos e o maior fundo partidário para financiamento de campanhas. O empresário/senador bolsonarista Ciro Nogueira dirigente do PP defende a candidatura do bolsonarista Tarcísio de Freitas e o advogado Antônio de Rueda, dirigente do União, apoia o latifundiário Ronaldo Caiado.
Nesse evento, Ciro Gomes e seu perene fel ácido contra o governo Lula, ressurgiu das cinzas para cacifar possibilidades de candidatura à presidência em 2026. Só não se sabe em que partido da direita ele vai se encostar. Enganador desde sempre, com falso discurso antissistema, Ciro Gomes volta à cena, desvelando verdadeiramente seu lado, que nunca foi verdadeiramente a favor do povo.
Diante desse quadro, as eleições de 2026 não podem ser tratadas como um simples embate entre projetos de governo, mas como uma escolha civilizatória entre a defesa da justiça social e da soberania do país, entre o fortalecimento das instituições democráticas e o retrocesso obscurantista e elitista. Tarcísio, Zema, Caiado, Michele Bolsonaro e Ratinho Júnior representam diferentes faces do mesmo projeto excludente, da privatização predatória, da anistia aos golpistas e da entrega da soberania. O país já sentiu na pele os efeitos da irresponsabilidade, do desmonte dos direitos sociais, da produção de políticas liberais, do entreguismo e da mediocridade desse campo político.
Resta ao povo brasileiro, mais uma vez, decidir se seguirá o caminho tortuoso da agudização da desigualdade social e do atraso ou se reafirmará o projeto de esquerda que, apesar dos obstáculos internos e externos, tem se mostrado o único capaz de garantir desenvolvimento soberano, justiça social e democracia real.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.