Os detratores da soberania brasileira estão nus
O Brasil jamais será quintal de potências estrangeiras, tampouco refém das armações de uma extrema direita estupidamente nociva aos interesses nacionais
Antes que expirasse o prazo para a entrada em vigor das sanções tarifárias arbitrárias impostas ao Brasil por uma potência em declínio, movida por interesses supremacistas e fundamentada em alegações falaciosas, sustentadas pela ação de figuras lesas-pátrias como Eduardo Bolsonaro e Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, o governo Trump decidiu recuar. Em decisão publicada no decreto da quarta-feira (30/07), os Estados Unidos isentaram da sobretaxa uma série de produtos brasileiros inicialmente incluídos na medida, atenuando significativamente o chamado “tarifaço”. O recuo, ainda que parcial, evidencia o caráter político e oportunista da iniciativa, bem como a eficácia das ações articuladas pelo governo brasileiro diante da ofensiva hostil promovida pela Casa Branca.
Segundo o governo americano, as sanções seriam uma resposta a práticas do governo brasileiro que configurariam uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional”. Tal alegação, no entanto, mascara a desfaçatez dos verdadeiros interesses por trás da medida eivada de coerção política, chantagem comercial e ingerência sobre a soberania brasileira.
Outro ataque inaceitável foi a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, constituindo uma afronta direta ao Judiciário brasileiro. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou Moraes de liderar uma “caça às bruxas” contra cidadãos e empresas dos Estados Unidos e do Brasil, fazendo referência ao julgamento de Bolsonaro. A aplicação dessa lei, criada para punir violações graves a direitos humanos e corrupção, é juridicamente desproporcional e politicamente ultrajante. O processo contra Bolsonaro, conduzido pelo STF, respeita o devido processo legal.
A reação interna não tardou a se manifestar diante dessa ofensiva sem precedentes contra uma autoridade do Judiciário brasileiro. Conforme mostrou a pesquisa da Quaest ao apurar o impacto do episódio nas redes sociais, a maioria das menções criticou a sanção (60%). Por outro lado, várias entidades jurídicas prestaram solidariedade ao ministro, repudiando publicamente a medida.
O presidente Lula, por sua vez, determinou à AGU que atuasse na defesa institucional de Moraes. Sobre essa iniciativa, conforme publicado no G1, o ministro considerou que, por ora, tal defesa não se faz necessária, por se tratar de uma retaliação de cunho meramente político. Ponderou ainda que a reação inicial deve ser efetivada na esfera política pelo governo brasileiro.
É fundamental compreender que essas investidas fazem parte de uma disputa geopolítica maior. O Brasil, potência regional e liderança no Sul Global, detém a segunda maior reserva de “terras raras”, minerais estratégicos para a transição energética. Além disso, os EUA pressionam para frear a regulação das Big Techs e manifestam incômodo com o sucesso do Pix, que desafia os interesses de conglomerados financeiros norte-americanos. Não se trata apenas de salvar Bolsonaro do julgamento os interesses em jogo são muito mais profundos.
Esse contraste entre a firmeza do governo atual e a postura servil de setores da direita brasileira evidencia a diferença crucial entre liderança e submissão. Enquanto figuras como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Júnior (PSD-PR) candidatos à eleição presidencial em 2026, se alinharam de forma oportunista a interesses externos e ao projeto político do réu Bolsonaro, o presidente Luís Inácio tem enfrentado a crise com altivez e visão estratégica, preservando os interesses nacionais.
Segundo Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, em palestra proferida no evento Diálogos Capitais, da revista Carta Capital: “O Brasil não é mais vulnerável há muito tempo”. E, de fato, o país já não é governado por um presidente incompetente ou entreguista como aquele que desgovernou o Brasil de 2019 a 2022. Temos hoje a vantagem de contar com um estadista reconhecido mundialmente por sua estatura política habilidosa no trato dos assuntos internos e internacionais.
Em entrevista ao New York Times, o presidente Luís Inácio voltou a referir que a soberania do Executivo e Judiciário são inegociáveis e reafirmou: “O Estado Democrático de Direito para nós é algo sagrado”. Nessa entrevista o presidente brasileiro foi reconhecido como "indiscutivelmente o estadista latino-americano mais importante deste século”.
Enquanto isso, a vilania sem limites do Partido Liberal (PL) e sua bancada deliberadamente a favor dos ataques de Trump ao Brasil, expulsou um dia após o anúncio da aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, um dos deputados do partido, Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP), por ele ter manifestado contrariedade a essa sanção.
Os parlamentares do PL que alardeiam aos quatro ventos a defesa da “liberdade de expressão” demonstram, na prática, profunda intolerância a vozes dissonantes. Em sua maioria, o partido é formado por políticos de baixa qualificação, eleitos na esteira do bolsonarismo miliciano.
Figuras como os membros da família Bolsonaro, Nikolas Ferreira (MG), Júlia Zanatta (SC), Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), entre outros, personificam a mediocridade política e o obscurantismo legislativo que envergonham o Congresso Nacional. Paradoxalmente, essas limitações podem, a longo prazo, provocar no eleitorado uma tomada de consciência mais crítica sobre os representantes que escolheu.
Essa conscientização, no entanto, ocorre em um terreno historicamente adverso aos governos progressistas, que enfrentam forte oposição ao defender políticas públicas sustentáveis e voltadas à justiça social. A resistência a esse projeto de país é cotidiana e vem sendo amplificada pelas forças da direita e da extrema direita, muitas vezes com o respaldo tóxico dos principais veículos da mídia hegemônica, que atuam como vetores de desinformação e defensores dos interesses do mercado financeiro concentrador de renda.
É nesse horizonte de pressões e manipulações que a postura da mídia corporativa se torna reveladora. Após uma reação inicial em defesa da soberania, parte dessa mídia voltou a atuar em sincronia com interesses conservadores. Parlamentares fisiológicos e colunistas começaram a pressionar Lula para que ele ligue para Trump ou até vá a Washington, como sugerido pelo jornalista César Tralli em uma entrevista com o vice-presidente Geraldo Alckmin, na quinta-feira (31/07).
Tralli, alinhado à linha editorial da Globo, encarnou o papel de porta-voz informal dos interesses do mercado, ao sugerir que o Brasil se curvasse diante das ameaças, sem a devida cautela e tempo para que os ânimos se alinhem. Sua posição além de insensata, é cínica. A provocação partiu de Trump, por meio de uma carta com tom de chantagem, divulgada fora dos canais diplomáticos, e, para agravar ainda mais a situação, aplicou uma sanção indevida a um ministro do judiciário brasileiro. Diante desse cenário inóspito, o presidente Lula tem agido com prudência, aguardando que a poeira baixe para que as tratativas ocorram com a devida serenidade institucional.
Como afirmou a ministra Gleisi Hoffmann, o presidente Lula não se furta ao diálogo, mas respeita os ritos próprios das relações internacionais. Ela ressaltou que, para que uma conversa direta entre chefes de Estado ocorra, é necessário que as etapas diplomáticas sejam cumpridas pelas respectivas chancelarias. Lula jamais descartou a possibilidade de diálogo com Trump, mas ao contrário de seu antecessor compreende que relações entre nações soberanas não se fazem por improviso ou impulso, e sim por meio de canais institucionais sólidos e respeitosos.
A insistência do jornalista Tralli, durante a entrevista com o vice-presidente Alckmin, não se limitou a questionar por que o presidente Luís Inácio ainda não havia telefonado para Trump, mesmo diante da indiferença do presidente norte-americano às tentativas de contato diplomático formal, postura amplamente divulgada na mídia. Em uma clara esforço de gerar tensão no programa transmitido ao vivo, em tv aberta, Tralli buscou encurralar Alckmin de forma sub-reptícia, adotando um tom típico de confronto, característico da maioria dos jornalistas da mídia corporativa. Chegou ao ponto de solicitar, letra por letra, detalhes dos planos do governo e negociações em planejamento, durante a entrevista de menos de uma hora. Com firmeza e equilíbrio, Alckmin não se intimidou. Demonstrando a serenidade que lhe é peculiar, respondeu ponto a ponto, desmontando com clareza e tranquilidade a tentativa de provocação velada do entrevistador.
Em sintonia com o tom adotado por Tralli, outros jornalistas da mesma emissora e de maneira geral, da mídia corporativa, com raríssimas exceções, costumam distorcer a verdade dos fatos sempre que o assunto envolve o governo Lula. Trata-se de uma cobertura sistematicamente enviesada, em que análises são substituídas por insinuações maliciosas, e reportagens se tornam instrumentos de desgaste político. A cada pronunciamento, medida ou acontecimento relacionado ao governo, esses comentaristas e âncoras se apressam em encontrar argumentos que, direta ou indiretamente, visam colocar em dúvida a legitimidade ou a eficácia das ações do Executivo. O jornalismo, que deveria se pautar pela pluralidade e pelo rigor factual, transforma-se em trincheira ideológica travestida de neutralidade, servindo aos interesses de setores econômicos que não aceitam a ascensão de um projeto de país voltado à inclusão social e à soberania nacional.
Enquanto elogiam acordos firmados entre a União Europeia e os Estados Unidos considerados desvantajosos pela maioria dos estadistas europeus, esses jornalistas omitem deliberadamente que, ao contrário do que ocorre com o Brasil, nenhum desses países viu membros de suas cortes supremas serem alvo de sanções, tampouco foram submetidos a chantagens explícitas para livrar um ex-presidente acusado de crimes graves. A comparação é, portanto, desonesta e revela o viés com que parte da imprensa tenta distorcer os fatos e desinformar o público.
Nesse mesmo contexto de pressão e afronta à soberania nacional, Trump protagonizou mais um gesto errático e unilateral sua marca registrada ao declarar na sexta-feira (01/08) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia “ligar a qualquer momento” para discutir tarifas e outros temas bilaterais. A declaração, feita sem qualquer respeito aos protocolos diplomáticos, foi naturalmente recebida com cautela pelo governo brasileiro, que tem adotado uma postura institucional diante das investidas agressivas do ex-presidente norte-americano.
Diante das agressões de Trump e a imprevisibilidade de seus ataques, constatados pelo histórico de suas investidas nos diversos países, o modo como o governo brasileiro vem conduzindo o enfrentamento aos impasses tem sido elogiado por diversas lideranças mundiais, notadamente pelo equilíbrio e pela defesa intransigente da soberania e com a devida lisura que sempre marcaram suas relações com os demais países. No plano interno, a equipe de governo tem demonstrado um excelente grau de coesão e alinhamento.
As sanções trumpistas ao país também provocaram mudanças significativas na percepção interna do governo Lula. Segundo a pesquisa Atlas Bloomberg (25 a 28 de julho), a avaliação positiva do presidente subiu de 47% para 51%enquanto Bolsonaro caiu de 46% para 44%. A tendência é de aprofundamento dessa mudança, especialmente após o decreto que oficializou a tarifa de 50% sobre produtos como carne e café, entre outros, que representam cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA.
Outro levantamento, do Datafolha (divulgado em 31/07), indica que 89% dos entrevistados acreditam que o tarifaço de Trump causará prejuízos à economia brasileira, sinal claro de que a população identifica a origem externa e oportunista das medidas. Esse dado enfraquece ainda mais a narrativa da direita bolsonarista, que tenta transformar o agressor em aliado e culpabilizar o governo brasileiro pela crise.
Além disso, a atuação mais incisiva da militância progressista nas redes sociais, especialmente após o início da campanha pela taxação dos super ricos e os ataques à soberania nacional, tem contribuído para reverter a percepção pública. Apesar do acúmulo de resultados positivos conquistados pelos esforços do governo, esses ganhos passavam desapercebidos, em parte, pelo estilo pouco assertivo da comunicação oficial, que agora tem explorado com mais eficiência o potencial das redes sociais. Temas como a saída do Brasil do Mapa da Fome e o menor índice de desemprego desde 2012, finalmente passam a ter maior visibilidade, permitindo que a população reconheça os avanços concretos do governo.
Essa mobilização digital, aliada à maior clareza na comunicação, tem sido fundamental para desnudar os verdadeiros adversários do interesse nacional, hoje representados pela extrema direita bolsonarista e por uma mídia corporativa vassala, que tenta sabotar sistematicamente qualquer política que confronte privilégios históricos. O recente episódio das sanções impostas pelos Estados Unidos, motivadas por interesses escusos e incentivadas por parlamentares brasileiros como Eduardo Bolsonaro, expôs de forma cristalina a fragilidade moral e a hipocrisia dos que se autoproclamam patriotas, mas se comportam como serviçais de potências estrangeiras em troca de ganhos pessoais.
Diante dessa materialidade, o governo do presidente Luís Inácio tem demonstrado maturidade institucional, firmeza estratégica e compromisso com a democracia. Perante as chantagens e agressões, tem se erguido em defesa do país com racionalidade, sem abrir mão da diplomacia, mas também sem recuar diante de ameaças. A resposta popular tem sido proporcional e cresce a consciência de que os ataques não visam apenas o presidente, mas o próprio Brasil.
Em tempos em que o autoritarismo americano se alastra pelo mundo e possibilidades de um vil entreguismo se arvoram entre os detratores da democracia, defender a soberania nacional é, mais do que nunca, um dever histórico. O Brasil jamais será quintal de potências estrangeiras, tampouco refém das armações de uma extrema direita estupidamente nociva aos interesses nacionais.
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