Descrédito fabricado: o novo golpe da direita
Como o discurso da falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro tenta minar o projeto democrático e abrir caminho para a velha política travestida de novidade
Desde que o governo Lula tomou posse em 2023, o Brasil tem sido alvo de um movimento articulado que ultrapassa os embates normais da política democrática. O que assistimos é a construção de um novo golpe contra o projeto popular e democrático: um golpe que se dá no terreno do simbólico, das percepções e da guerra comunicacional. É o golpe do descrédito fabricado.
As pesquisas eleitorais começaram a pipocar antes mesmo que o novo governo pudesse implementar suas políticas e colher frutos. A cada número divulgado, a cada dado solto, a grande mídia e os porta-vozes do mercado tratam de espalhar a ideia de que o governo é incapaz, de que a rejeição do presidente seria insuperável, de que o país está à deriva.
Esse ataque não é fruto do acaso. Ele se apoia em raízes profundas da história brasileira. Nossa elite econômica e política, herdeira do escravismo e do colonialismo, jamais aceitou um projeto nacional que colocasse o povo no centro. Foi assim quando Getúlio Vargas criou a CLT e a Petrobras. Foi assim quando Juscelino ousou industrializar o país. Foi assim quando João Goulart propôs as reformas de base. Foi assim com Dilma, criminalizada por governar em favor dos trabalhadores. E é assim com Lula.
A manipulação da rejeição
As recentes pesquisas, como a do Datafolha, apontam que Lula e Bolsonaro estariam empatados em rejeição, ambos na casa dos 43% a 46%. À primeira vista, parece um dado frio, técnico. Mas o modo como esses números são apresentados e repercutidos revela a verdadeira intenção: fabricar a ideia de que os dois projetos são igualmente inviáveis, igualmente rejeitados pelo povo, igualmente parte de um passado a ser superado.
O bolsonarismo, com sua marca de ódio, violência, corrupção e destruição de direitos, é equiparado ao governo que hoje luta para reconstruir o país, gerar empregos, baixar a inflação, valorizar salários e recuperar a indústria nacional. A rejeição a Lula é apresentada como se tivesse a mesma natureza da rejeição a Bolsonaro, quando na verdade ela decorre de um bombardeio diário de fake news, preconceito de classe, desinformação e manipulação midiática.
Essa falsa equivalência é o instrumento central do novo golpe. Ela pavimenta o caminho para uma suposta terceira via — um nome da direita tradicional, com discurso de modernidade, mas portador do mesmo projeto neoliberal de sempre, que serve ao capital financeiro, ao rentismo e ao entreguismo.
O projeto popular e democrático
O que está em jogo, mais do que números, é a disputa entre dois projetos:
# De um lado, o projeto popular e democrático, que busca um Brasil soberano, desenvolvido e justo, com políticas voltadas para a inclusão social, a valorização do trabalho, o fortalecimento do Estado e a defesa da democracia.
# De outro, o projeto da extrema-direita e de seus aliados neoliberais, que apostam na exclusão, na concentração de riqueza, na entrega do patrimônio nacional e na destruição de direitos sociais e trabalhistas.
Igualar Lula a Bolsonaro, ainda que no terreno das percepções, serve ao projeto da direita: cria o ambiente para o retorno da velha política sob nova embalagem.
O que o campo popular precisa fazer
O campo popular não pode assistir a esse processo de braços cruzados. É hora de ação firme e coordenada:
- Construir uma comunicação popular unificada e potente, que dispute o imaginário do povo com esperança e verdade. Isso exige investir em redes sociais, rádios comunitárias, mídias alternativas, podcasts e produção cultural que fale a língua do povo.
- Traduzir os avanços do governo em conquistas do cotidiano. O povo precisa enxergar que o arroz mais barato, o emprego que voltou, o salário que subiu são frutos de um projeto político popular e democrático.
- Desmascarar a falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro, mostrando que o projeto popular representa a reconstrução do Brasil, enquanto o bolsonarismo é o símbolo do desastre que ainda tenta sobreviver.
- Promover a unidade do campo democrático-popular, superando divisões internas e construindo um polo forte, combativo e mobilizador, capaz de enfrentar o projeto conservador em todas as frentes.
- Reforçar o trabalho de base e a formação política, para que o povo compreenda o que está em jogo e se transforme em protagonista da defesa do projeto popular.
Conclusão
O descrédito fabricado é o novo golpe da direita. Ele não se dá mais apenas nos tribunais ou nos parlamentos, mas no terreno das ideias, das emoções, das percepções coletivas. Cabe ao campo popular desmascarar essa manobra, mobilizar a sociedade e reconstruir a esperança. A defesa do projeto popular e democrático é, hoje, a defesa do próprio futuro do Brasil.
Carlos Lima é economista, dirigente da CTB e coordenador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho do Rio de Janeiro
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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