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Emerson Barros de Aguiar

Escritor, bioeticista e professor universitário

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Como reagir ao crime e à demagogia genocida da extrema-direita?

A providência inicial mais forte e mais compreensível para a população é a criação de uma força de intervenção integrada

Romeu Zema, Jorginho Mello, Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado, Wilson Lima, Ratinho Jr. e Mauro Mendes (Foto: Reprodução/X/@jairbolsonaro)

O tema dominante da próxima eleição presidencial será a segurança pública. A esquerda só tem chance real porque é Lula, buscando a reeleição; qualquer outro nome seria atropelado pelo “dublê de Bukele” que a Extrema-direita já prepara.

A situação do país exige que o governo apresente uma providência imediata, simples, direta e capaz de transmitir à população a sensação de que o Estado voltou a assumir o controle.

Não há espaço para planos complexos, promessas vagas ou discursos sociológicos enquanto o cidadão vê, todos os dias, o país sendo retalhado pelo crime organizado.

O eleitor médio quer algo concreto: perceber o Estado enfrentando as facções, o tráfico, os milicianos e a violência que sequestram o cotidiano das cidades. Hoje, em centenas de comunidades espalhadas pelo país, moradores vivem sob um regime de vigilância informal que tão rígido, cruel e fascista quanto qualquer Estado policial, porque é exercido por grupos armados que não respeitam lei alguma.

Famílias são monitoradas em seu ir e vir dentro dos seus próprios bairros. Gente decente e trabalhadora precisa pedir permissão para entrar e sair de seu próprio endereço. Há áreas onde um morador não pode visitar parentes em comunidades dominadas por facção rival sem ser considerado suspeito, e às vezes condenado à morte. O Brasil real está cheio de pessoas que vivem com medo de cruzar uma rua errada.

Pela falta de alternativas e de proteção, garotos são seduzidos economicamente e aliciados pelo Tráfico, tornando-se suas buchas de canhão, para desespero de seus pais. Meninas são serviciadas e abduzidas pelos chefes, que impõe a sua vontade e não respeitam limites de idade nem Estatuto algum.

Esse controle criminógeno já chegou a um nível intolerável e fatal para a democracia: a liberdade de voto está sendo sequestrada. Em diversos pontos do país, acordos velados entre facções e lideranças políticas locais definem quem pode fazer campanha, quem pode entrar para pedir apoio, quem “tem passagem liberada” e quem não tem.

O território eleitoral, em vez de ser um espaço democrático, virou um mercado clandestino onde grupos criminosos negociam influência, proteção, sabotagem e votos. Moradores são coagidos a votar em quem o crime determina, por conveniência; uma realidade que qualquer morador de comunidade conhece de perto

Além disso, as facções passaram a controlar serviços essenciais: gás, transporte local, internet, venda de materiais de construção, lojas de conveniência, aluguéis e até entregas. Cada botijão de gás vendido pela milícia, cada roteador de internet imposto pelo tráfico, cada “taxa de segurança” cobrada nas comunidades representa mais dinheiro para o crime e mais medo para o morador. O controle total da economia dessas áreas dominadas é um negócio muito mais lucrativo do que o tráfico de drogas em si. Também é um confisco brutal da dignidade e do orçamento das famílias pobres.

O crime transformou necessidades básicas em instrumentos de extorsão.

Diante disso, a providência inicial mais forte e mais compreensível para a população é a criação de uma força de intervenção integrada, unindo Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional, inteligência financeira e núcleos estaduais e municipais. A missão precisa ser clara e sem ambiguidade: reocupar territórios dominados pelo crime e permanecer neles. Não se trata de "operação-relâmpago", mas de comunicar uma presença permanente. O lema também deve ser simples e poderoso, algo como “O Estado vai entrar e não vai sair mais.” É isso que produziria impacto imediato.

O enfrentamento urgente do aliciamento de meninos para serem soldados do tráfico e a exploração sexual de meninas exige que Estado e sociedade atuem juntos e sem interrupção. Só a retomada do controle dos territórios dominados, garantindo presença policial contínua e inteligência integrada, e não apenas operações esporádicas, pode assegurar proteção direta às crianças e adolescentes, tornado possível escolas com psicólogos e assistentes sociais, resposta rápida a ameaças, abrigo emergencial para jovens marcados pela violência, canais sigilosos de denúncia, bolsas de aprendizagem, capacitação rápida e encaminhamento efetivo para o mercado de trabalho.

Tudo isso não pode soar como um sonho distante, mas ser percebido com diretrizes de uma política bem estruturada. 

É isso que pode devolver esperança a quem vive sitiado, inclusive por barreiras físicas, controladas por grupos criminosos. 

Paralelamente, é fundamental continuar a atingir o coração financeiro das facções. Nenhuma organização criminosa resiste ao estrangulamento do seu dinheiro. Logo nos primeiros dias, o governo pode deflagrar uma operação nacional de inteligência financeira envolvendo Coaf, Receita, bancos e PF para rastrear, bloquear e sequestrar bens e fluxos suspeitos em prazo curto. “Bandido grande não aguenta fiscalização”, a população entende essa frase melhor do que qualquer relatório técnico.

Ainda que Haddad já esteja produzindo ótimos resultados nesse setor, vincular esses avanços a uma operação nacional ampla, permanente e visível daria ao governo uma narrativa clara: a de que age dentro da Constituição, com eficiência e sem flertar com autoritarismos.

Seria a demonstração prática de que existe alternativa real às soluções demagógicas de extermínio prometidas pela extrema direita.

Com a combinação dessas duas frentes: ocupação permanente de território e estrangulamento financeiro; fazendo isso, o governo transmitiria firmeza, capacidade e compromisso real com a vida das pessoas.

Seria uma resposta rápida, compreensível e eficaz, que neutraliza o discurso fácil do adversário. Porque, no fim das contas, o ponto é simples: ou o Estado volta a mandar onde hoje mandam as facções, ou a demagogia violenta da extrema direita, apoiada pela direita tradicional, tomará conta do debate. O Brasil não pode mais conviver com cidadãos vivendo sob um regime de medo, controle e coerção.

Para mitigar a demagogia genocida da Extrema-direita é hora de agir, com clareza, efetividade perceptível e presença real.

Agir nessa direção envolve muito dinheiro, um dinheiro que somente um governo de esquerda está disposto a investir, já que a direita e a extrema-direita quer reservá-lo apenas para aqueles a quem servem. 

É gastar ou matar. A última opção é a da Extrema-direita, recentemente ilustrada na operação realizada nos complexos da Penha e do Alemão. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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