Charlie Kirk não era conservador
Comemorar a morte de gente da extrema direita é aceitável? A reflexão é válida, fundamental e histórica
Antes de quaisquer análises sobre o assassinato de Charlie Kirk, jovem expoente da extrema direita estadunidense que estava em ascensão, é fundamental qualificar o que significa uma pessoa ser de extrema direita. Antes ainda da ascensão de Benito Mussolini, na Itália, é possível afirmar que a direita europeia, como modo de ser, de agir, por definição e convicção é mentirosa e violenta, racista, colonizadora, e, em termos mais novos, a extrema direita é machista, misógina, expansionista, autoritária, xenofóbica e corrupta. Na história há inúmeros exemplos que demonstram tais características, obras artísticas também confirmam as afirmações e seu conjunto de ideias. Tal condição de Charlie Kirk, por tanto, torna compreensível alguém sentir alivio e até felicidade com a sua morte? A resposta é sim.
O fato de o caso Charlie Kirk estar sendo tratado como algo meramente sentimental somente mostra o quão mal-arranjado é o mundo em que vivemos, a discussão pública deveria ser política e histórica. Charlie Kirk era de extrema direita e, no frigir dos ovos, ela é a pior inimiga dos povos, da classe trabalhadora, ou seja, o seu pensamento e ações são inimigos da maioria da população. Kirk não estava somente debatendo ideias ao léu, em suas aparições públicas, inclusive no dia de sua morte, ele estava, no mínimo, cometendo crime de incitação ao ódio, racismo e que tais. E, não se espante! Kirk nunca seria incriminado por isso, a sua influência junto a Donald Trump e outros o blindariam. Para aqueles que se dizem estupefatos com o fato de haver gente que comemora a morte de Charlie Kirk, principalmente, os jornalistas da grande imprensa, eis perguntas que carecem resposta: o genocídio do povo palestino não lhe causa espécie? A sua análise ética e moral aprova o que está acontecendo contra crianças e mulheres, na Faixa de Gaza? A sua consciência não o coloca contra a parede? Charlie Kirk, Donald Trump, e Benjamin Netanyahu são semelhantes, são de extrema direita e como tais devem ser lidos. Os familiares, colegas e apoiadores de Charlie Kirk certamente não farão os mesmos apontamentos. A eles corresponde à comiseração.
Donald Trump cada vez mais controla o sistema de comunicação de seu país e não perdoará qualquer sombra contrária a Kirk ou a outros símbolos da mesma estirpe, nem mesmo por meio do humor. Como a nós cabe, no mínimo, a defesa dos Direitos Humanos, é fundamental refletir e combater às “ideias” de Charlie Kirk. Elas sem dúvida continuarão vigentes. Ao ver o vídeo chocante da morte de Kirk, com características cinematográficas, assim como aconteceu com Donald Trump, na fase de campanha eleitoral, a primeira ideia que vem a mente é: como isso foi possível? Afinal de contas, Charlie estava discursando em ambiente calmo, conhecido, repleto de pessoas que apoiam o seu cabedal intelectual, ou seja, o tiro que ceifou a sua vida deve ser considerado surpresa, assim como o autor do assassinato. Veja o que disse Spencer Cox, governador de Utah. Ele rezou com ardor, pediu e fez promessas a todos os santos para que o atirador não fosse “um deles”. Ou seja, o homem que disparou contra Kirk deveria ser preferencialmente uma pessoa negra, de esquerda, estrangeira, talvez muçulmana, seria bom se pertencesse à comunidade LGBTQIAP+. Assim,... como dizer? Alguém que pudesse ser incriminado sem clemência. Com pena de morte, como defendeu o presidente dos Estados Unidos. Não foi o que aconteceu. O suspeito é cristão, branco e de “família tradicional”. O nome dele é Tyler Robson de 22 anos de idade. Como assim? Pois é, o fato de ser o atirador quem é, se tornou fato tão importante quanto a morte de Kirk. A reflexão individual e coletiva sobre o assassinato e o contexto geral ficou bagunçada. Como alguém próximo ao ideário da extrema direita poderia matar um de seus interlocutores mais capazes? A resposta: o império estadunidense está cada vez mais próximo de uma convulsão total e tais indícios se apresentam diretamente no cotidiano.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.