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      Denise Assis

      Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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      Bola pro mato que o jogo é de campeonato

      A jornalista Denise Assis destaca que aliados de Bolsonaro estão 'dispostos a colar na sociedade falácias tão absurdas quanto improváveis'

      Jair Bolsonaro, Donald Trump e lula (Foto: Reuters I Divulgação)

      Times de interior quando faziam seus campeonatos, estabeleceram uma norma. O que estava perdendo na final, criava quizumba, invadia o campo, ou usava de um expediente ainda mais desonesto. Como o dinheiro era pouco e a bola era uma só, sumiam com a pelota e resolviam “no braço” a peleja. Desse impasse surgiu uma máxima: “bola pro mato, que o jogo é de campeonato”.

      É assim, usando do mesmo método, que os bolsonaristas pretendem decidir uma situação criada por eles, que atinge todo um país. Pretendem à base da chantagem impor ao Brasil a seguinte questão: ou anistiam Jair Bolsonaro - no momento em prisão domiciliar, que nem ainda foi condenado -, ou o Congresso permanece paralisado, com os senadores de oposição aboletados em torno da mesa da presidência, com ridículos esparadrapos colados à boca. Querem parar o jogo.

      Nesse ponto, estou de acordo. Quanto mais tempo permanecerem em silêncio, melhor para os nossos ouvidos. Dali não sai nada que preste. Censura? De onde tiraram isto? Por ordem de Alexandre de Moraes? Viajaram na maionese...

      Não importa a que distância estão da verdade. Importa, isto sim, criar quizumba, dar continuidade ao golpe, fazer cena para o núcleo de seguidores, dispostos a colar na sociedade falácias tão absurdas quanto improváveis.

      Em entrevista a uma rede de TV, Flávio Bolsonaro desfia platitudes. Expõe os seus motivos: “a culpa é do Lula, que provocou os Estados Unidos”. Como? “Desafiando o Trump” ... E para por aí, porque seus argumentos são pueris e se esgotam logo.

      O irmão Eduardo? Não é culpado de nada. Ele apenas foi para lá e fez o trabalho dele. E que trabalho foi este, se não o de tramar contra o próprio país? Nãoooo. Eduardo não tramou, apenas informou o que se passava aqui. E o que se passava aqui? “A sede de vingança de Alexandre de Moraes” ...

      É tão rasteiro quanto repugnante. Confesso que tive dificuldade de acompanhar. Tanta dificuldade quanto de travar o diálogo, no domingo, com um taxista que peguei logo depois do “ato” por Bolsonaro. Parece que recebeu, por zap, o discurso de Flávio.

      Para tentar entender como um trabalhador se coloca ao lado dos que defendem a bandeira dos EUA, me passei por uma dona de casa desinformada.

      - Que bagunça foi essa aqui, meu senhor?

      - Bagunça, não. Foi movimento contra esse cachaceiro que está lá, e pela liberdade do Bolsonaro.

      - Mas quem é o cachaceiro, meu senhor?

      - O Lula. A culpa de tudo é dele. O que está acontecendo aqui é para arrebentar tudo em cima dele...

      - Mas o que eu escuto é que os nossos empresários não vão mais conseguir vender os seus produtos. Você não fica preocupado com a quantidade de gente que vai perder o emprego?

      - Preocupado tem que ficar aquele nove dedos, lá. O cara passa perto do Trump e dá um tapa. Depois passa e dá um soco. O Trump ia deixar barato? Quem aguenta? Um dia a pessoa parte para cima. A culpa é dele. Esse cachaceiro foi lá desafiar.

      (Mas foi lá onde? Desafiar quem???)

      - Mas você não acha que se os trabalhadores ficarem sem emprego, a economia desandar, você vai ficar sem cliente?

      - Fica nada, dona. Eu vou continuar ralando. Eu sempre ralei. Eu quero mais é que exploda tudo em cima daquele cachaceiro lá.

      - Mas você não pensa nos outros, no seu país?

      - Alguém vai pensar em mim, por acaso? Isso aqui, só Bolsonaro pra dar jeito...

      Nesse ponto, pela saúde do meu fígado, eu interrompi a conversa. Agradeci a Deus por ter chegado ao meu destino e saí do táxi com a sensação de ter metido a cabeça várias vezes contra um monolito. Sentimento de impotência. Aperto no peito e a constatação: o que faz a ignorância! Ou, melhor: o que faz uma rede de Whatsapp!

      O mesmo discurso propalado por Flávio Bolsonaro na TV, replicado por aquele brutamontes, um feixe de músculos, arrematado por uma cabeça onde dançam platitudes iguais... Pobre país.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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