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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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América Latina na ONU: os líderes de esquerda e a “química” com Lula

'Em tempos de Trump, as atuais turbulências internacionais mostram que os presidentes da nossa região estão em sintonia em vários pontos', analisa Marcia Carmo

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Três presidentes de países da América Latina mostraram sintonia com o discurso do presidente Lula na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em suas falas na ONU, Gustavo Petro, da Colômbia, Gabriel Boric, do Chile, e Yamandú Orsi, do Uruguai, defenderam o multilateralismo, condenaram a guerra em Gaza, criticaram Israel e mostraram preocupação com o discurso negacionista sobre o aquecimento global e com a presença de tropas marítimas dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela.

Palestinos

“Eu não quero ver Netanyahu destruído por um míssil, junto com sua família. Quero ver Netanyahu e os responsáveis pelo genocídio contra o povo palestino em um tribunal internacional de Justiça”, disse Boric, como confirma a página da Presidência do Chile. Foi seu último discurso na Assembleia Geral da ONU. Os chilenos elegem presidente em novembro deste ano (se houver segundo turno será em dezembro). A posse do eleito será em março de 2026. Entre os eleitores chilenos muitos são filhos, netos e bisnetos de palestinos. O país andino reúne a maior comunidade palestina fora do Oriente Médio.

Diferenças e consonância

Nas Nações Unidas, as falas evidenciaram as diferenças de Petro, Boric e Orsi com os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei. Em consonância com Trump, Milei criticou as Nações Unidas, dizendo que ali estão “burocratas internacionais”, que a ONU é “uma casa cada vez mais desprestigiada” e respaldou a política dos EUA contra “imigrantes ilegais”. Milei também acusou a esquerda, de maneira generalizada.

“Estamos assistindo a uma escalada inadmissível de violência política por parte da esquerda em termos globais”, disse. Em Nova York, ele recebeu apoio da boca de Trump. “Milei tem meu total apoio para ser reeleito”, disse o norte-americano. A eleição presidencial argentina será em 2027 e muito antes, daqui a um mês, no dia 26 de outubro, Milei passará pela prova do pleito nacional para renovação de parte das cadeiras do Congresso Nacional. O resultado pode ser decisivo para o destino de seu governo que balançou, como destacaram, até a semana passada, vários líderes da oposição.

Na ONU, o discurso do presidente argentino foi distante da linha de pensamento expressada pelos seus pares na América Latina. Ficou confirmado, uma vez mais, sua falta de diálogo com os líderes políticos da região – com algumas exceções como o presidente do Paraguai, Santiago Peña, com quem esteve, há poucos dias, em Assunção.

Ataques mortíferos

No seu discurso, Trump defendeu os ataques mortíferos no Mar do Caribe, nas proximidades da Venezuela – ações militares que têm gerado preocupação na nossa região. “Começamos a usar o poder supremo das Forças Armadas dos Estados Unidos para destruir as redes de tráfico de terroristas venezuelanos lideradas por Nicolás Maduro”, disse Trump do púlpito da ONU. Neste ano, Maduro não falará na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Segundo as agências internacionais de notícias, o chanceler venezuelano Yván Gil será a voz do país nas Nações Unidas. Nesta sexta-feira, mais cedo, ele disse que os Estados Unidos preparam “uma agressão” contra a Venezuela.

Fronteiras e “química”

A Venezuela é vizinha do Brasil e da Colômbia. “A política contra as drogas não é para apreender a cocaína que chega aos Estados Unidos. É para dominar os povos do Sul em geral”, disse Petro em referência a América do Sul. Ele disse que os ataques recentes dos Estados Unidos no mar caribenho incluíram embarcações “desarmadas e com migrantes”. Primeiro presidente de esquerda da Colômbia, Petro pediu que sejam abertas investigações internacionais contra os ataques militares determinados pelo governo Trump na região. O Chile não faz fronteira com a Venezuela e com o Brasil. Mas a inquietação regional com as ações militares não parece ter fronteira.

“Esta é a era da América Latina e do Caribe. Somos uma região sem guerra, com ampla tradição diplomática”, disse Boric. As atuais turbulências e incertezas internacionais, em tempos de Trump, mostram que os presidentes – pelo menos alguns deles – da nossa região estão em sintonia em vários pontos. E possuem “química” com Lula.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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