A teia sombria: conexões perigosas entre poder e a exploração sexual de meninas
Trump e Bolsonaro expõem como o privilégio masculino branco normaliza a exploração sexual de meninas sob o disfarce da autoridade
O véu do poder muitas vezes obscurece a verdade, permitindo que figuras públicas teçam redes de influência que podem esconder atos repulsivos. Já falamos aqui anteriormente sobre o caso de Eliot Spitzer, que perseguiu prostitutas com a intenção de “limpar” a cidade de Nova York da “podridão” e, no final, foi pego em um escândalo sexual*. As recentes revelações e o escrutínio em torno de Donald Trump, suas associações passadas e seus próprios comentários, somadas às chocantes declarações de Jair Bolsonaro sobre o episódio envolvendo jovens venezuelanas, escancaram um padrão perturbador: a conexão entre homens brancos mais velhos, posições de poder e uma objetificação alarmante que, em sua sombra mais escura, flerta com a pedofilia e a exploração sexual de meninas.
O passado tenebroso de Trump: admirando o inadmissível - Os registros são claros e perturbadores. Em relação a Jeffrey Epstein, um homem acusado de comandar uma vasta rede de tráfico sexual de menores, Donald Trump não apenas o conhecia, mas expressava publicamente uma admiração que hoje arrepia qualquer pessoa minimamente sã. Em 2002, suas palavras ecoam com uma insensibilidade estarrecedora: “ele é muito divertido de estar por perto. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens". A normalização da preferência por mulheres “mais jovens”, vinda de um homem adulto — especialmente em relação a alguém posteriormente acusado de crimes hediondos contra crianças — é um alerta vermelho que não pode ser ignorado. Sobretudo no chamado mundo civilizado.
Não para por aí. As repetidas exclamações sobre a beleza de mulheres, acompanhadas da pergunta retórica “Posso dizer isso?”, revelam uma obsessão pela aparência feminina e uma busca por validação externa ao expressar tais opiniões, muitas vezes em contextos públicos e inadequados. A chocante declaração sobre uma menina — “vou namorar ela em 10 anos” — transcende o comentário inapropriado e adentra um território sombrio, carregado de insinuações pedófilas. Imagine-se com fome diante de uma guloseima. O detalhe é que, nesse caso, o “prato” é algo que qualquer adulto com maturidade consideraria doentio.
Sua relação com o príncipe Andrew, outro nome envolvido no escândalo Epstein, também levanta questionamentos. Inicialmente negando um conhecimento aprofundado, fotografias comprovam uma relação que remonta a anos de irmandade. A tentativa de minimizar essa ligação, diante das acusações de exploração sexual que pairam sobre o príncipe, soa como uma estratégia de distanciamento conveniente. Da mesma forma, o reconhecimento de encontros com Ghislaine Maxwell(2), peça central na rede de Epstein, adiciona mais uma camada de complexidade e desconforto a essas associações.
As alegações de estupro contra Trump, envolvendo uma menina de 13 anos, são um lembrete brutal da extensão das acusações que o cercam. Embora negadas, essas alegações se encaixam em um padrão de comportamento questionável e de comentários que objetificam e sexualizam mulheres, incluindo menores.
A fala repugnante de Bolsonaro: meninas venezuelanas como objeto - Em um eco nauseante do desprezo pela integridade de jovens mulheres, Jair Bolsonaro, figura política admirada por setores conservadores e com um histórico de declarações misóginas e homotransfóbicas, protagonizou um episódio vergonhoso envolvendo jovens venezuelanas. Suas palavras, descrevendo um suposto cenário em que garotas de 14 anos se maquiavam para ele, proferidas com um sorriso e tom de galhofa, revelam uma objetificação abjeta e uma completa falta de empatia pela vulnerabilidade dessas meninas, imigrantes em um país estrangeiro.
A tentativa de apresentar a situação como algo trivial ou engraçado escamoteia a gravidade da pedofilia e da exploração sexual, especialmente em contextos de fragilidade social e econômica, como a imigração. A fala de Bolsonaro não é apenas um desvio de conduta; é um endosso tácito a uma cultura de exploração, onde corpos de meninas são vistos como objetos de desejo e diversão para homens mais velhos no poder.
O padrão sombrio: poder, idade e a predação de meninas - Ao analisarmos em conjunto os casos de Trump e Bolsonaro, emerge um padrão preocupante que transcende nacionalidades e colorações políticas superficiais: a sinistra dança entre homens brancos mais velhos, o exercício do poder (seja ele econômico, político ou social) e uma perturbadora inclinação a objetificar e, em casos extremos, explorar sexualmente meninas. Acredite ou não, há mulheres que, por adoção ou sedução, por desvio ou intenção, validam e consideram normais tais absurdos.
A linguagem utilizada por ambos, a admiração por figuras envolvidas em escândalos sexuais de menores, as alegações de conduta inapropriada e criminosa — tudo aponta para uma cultura de impunidade e uma mentalidade que minimiza ou normaliza a exploração infantil. O poder, a idade e o status parecem, em alguns casos, criar um senso de invulnerabilidade e uma perigosa distorção da moralidade, onde os corpos de meninas são vistos como disponíveis ou desejáveis para satisfazer seus apetites.
É fundamental ressaltar que a pedofilia não tem cor, raça ou classe social. No entanto, a análise desses casos específicos, de homens brancos em posições de destaque, expõe como certas estruturas de poder podem ser instrumentalizadas para a exploração e como uma cultura permissiva pode encobrir crimes hediondos.
A admiração confessada de Bolsonaro por um ditador — Augusto Pinochet — com um histórico de violações de direitos humanos, incluindo acusações de pedofilia dentro de sua própria família, lança uma sombra ainda mais escura sobre suas declarações e seu sistema de valores. Cria-se a perturbadora imagem de um líder que não apenas tolera, mas talvez até admire figuras com um histórico de abuso e exploração.
Como sociedade — e especialmente como professoras, jornalistas e feministas — temos o dever de expor e confrontar esse padrão repulsivo. Não podemos permitir que o poder e a influência protejam aqueles que se aproveitam da vulnerabilidade de crianças. A responsabilização é crucial, e a vigilância constante contra qualquer forma de objetificação e exploração sexual de menores deve ser a nossa prioridade inegociável. A teia sombria de conexões perigosas precisa ser desmantelada, e a justiça deve prevalecer para proteger nossas crianças e garantir um futuro em que a inocência seja sagrada e inviolável.
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