Venezuela acusa Marco Rubio de usar inteligência artificial para criar prova falsa
Análise técnica do governo venezuelano aponta vídeo divulgado por Marco Rubio como "altamente provável" de ter sido gerado por IA
247 - Em um episódio que coloca a ameaça das deepfakes no centro das relações internacionais, o governo da Venezuela acusou publicamente na terça-feira (2) o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, de utilizar um vídeo fabricado por inteligência artificial como suposta evidência para acusar o país de envolvimento com o narcotráfico. A informação foi divulgada originalmente pelo ministro venezuelano da Comunicação e Informação, Freddy Ñáñez, em seu canal no Telegram, e inclui a análise técnica que sustenta a denúncia.
De acordo com a publicação oficial, o ministro afirmou que "parece que Marco Rubio continua mentindo para seu presidente (Donald Trump): depois de levá-lo a um beco sem saída, agora lhe oferece um vídeo com IA como 'prova'". Para embasar a acusação, Ñáñez anexou um laudo técnico realizado pela plataforma de inteligência artificial Gemini, que especulou ser "altamente provável" que o material tenha sido gerado por um sistema de IA.
O vídeo em questão, apresentado por Rubio como evidência de um ataque a um navio suspeito de tráfico de drogas, foi submetido a uma análise detalhada. O relatório técnico aponta múltiplas anomalias que indicam falsificação. A explosão mostrada no navio é descrita como uma "animação simplificada, quase caricatural", distante de uma representação realista. O documento também observa a presença de "artefatos de movimento", uma "falta de detalhes realistas" e um comportamento da água classificado como "altamente estilizado e não natural". Elementos adicionais, como o texto "NÃO CLASSIFICADO" e uma marca d'água de origem desconhecida, são apontados como características comuns em conteúdos sintéticos.
A acusação levanta questões graves sobre o uso potencial de deepfakes como instrumento de política externa e até como um possível casus belli – um pretexto para ações beligerantes. Se confirmadas, as alegações representariam um precedente perigoso. Evidências fabricadas poderiam ser usadas para justificar operações militares ou imposição de sanções econômicas contra nações soberanas.
Dirigindo-se diretamente ao secretário de Estado norte-americano, o ministro Ñáñez concluiu sua mensagem com um apelo contundente: “Chega, Marco Rubio, de incitar a guerra e tentar manchar as mãos do presidente dos EUA, Donald Trump, com sangue”.
Até ao momento, o Departamento de Estado dos EUA não se pronunciou oficialmente sobre a autenticidade do vídeo nem sobre as acusações de que se trata de uma falsificação. O silêncio oficial deixa no ar uma questão que ressoa para além do caso específico: como a comunidade internacional irá lidar com a nova era de desinformação de alta tecnologia capaz de ameaçar a paz global.