Principal aliado de Milei em Buenos Aires é acusado de receber recursos do narcotráfico
Denúncia contra José Luis Espert se soma à crise política enfrentada por Milei
247 - O dirigente peronista Juan Grabois protocolou nesta segunda-feira (30) uma denúncia penal contra José Luis Espert, de 63 anos, principal aposta do presidente da Argentina Javier Milei para o Congresso em Buenos Aires. A acusação envolve um suposto repasse de ao menos US$ 200 mil (equivalente a mais de R$ 1 milhão) oriundos de atividades ligadas ao narcotráfico.
De acordo com informações divulgadas pelo jornal O Globo, a denúncia sustenta que o valor teria sido transferido por Federico “Fred” Machado, empresário argentino de 53 anos, atualmente detido nos Estados Unidos e acusado de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e fraude. Segundo a representação, documentos contábeis secretos de Machado e de sua sócia Debra Mercer-Erwin — condenada em território norte-americano pelos mesmos crimes, exceto fraude — registram a entrada de valores associados ao nome de Espert. O material poderá ser anexado a uma investigação em andamento desde 2021 nos tribunais de Comodoro Py, em Buenos Aires.
Vínculos anteriores e negações
O repasse suspeito teria ocorrido em 2020, mas a ligação entre Espert e Machado remonta a 2019, quando o então candidato à presidência utilizou um avião do empresário durante uma viagem a Viedma, no sul da Argentina. Em entrevista à emissora local TN, Espert reconheceu que conhecia Machado e confirmou ter viajado em uma de suas aeronaves, mas rejeitou qualquer relação ilícita. — Se eu soubesse que essa pessoa era isso, não estaria agradecendo aos quatro ventos — afirmou, classificando a denúncia como uma “campanha suja” promovida pelo peronismo.
Crítico ferrenho da criminalidade e conhecido pelo lema “cárcel o bala” (“cadeia ou bala”), o economista ultraliberal busca a reeleição como deputado. Contudo, a polêmica ameaça enfraquecer sua imagem em um momento estratégico para a coalizão governista.
A polêmica não se restringe à oposição. O El País recorda que, em 2022, o deputado Agustín Romo, hoje líder do bloco La Libertad Avanza na Câmara de Buenos Aires, chamou Espert de “carregador de malas” que aproveitou a primeira oportunidade para voar no avião de um traficante. Na mesma época, a parlamentar Lilia Lemoine, aliada próxima de Milei, declarou que Espert havia “entrado na política por dinheiro” e que já em 2019 contava com apoio de narcotraficante.No Congresso, a denúncia repercutiu de imediato. O deputado peronista Germán Martínez anunciou que pedirá a destituição de Espert da presidência da Comissão de Orçamento, responsável por iniciar nesta semana a análise da lei orçamentária de 2026. — Não se pode debater seriamente o orçamento com um deputado com vínculos com o narcotráfico sentado na presidência — criticou.
Mais um caso que respinga no governo Milei
O episódio chega em um momento delicado para o governo de Javier Milei, que já enfrenta dificuldades para consolidar maioria parlamentar. A província de Buenos Aires, onde se concentra cerca de 40% do eleitorado argentino, tem sido um território estratégico — e recentemente adverso — para os candidatos de extrema direita, derrotados por peronistas em eleições provinciais.
Outro fator agrava a crise: um dos advogados de Fred Machado é Francisco Oneto, militante de extrema direita e também representante legal de Milei em processos sensíveis, incluindo a investigação sobre a criptomoeda $Libra. Essa conexão eleva o potencial de desgaste político, ampliando os riscos de que o escândalo ultrapasse os limites individuais e atinja diretamente o núcleo do governo.
Machado, empresário com investimentos nos setores de mineração, construção e aviação, está preso desde 2021 em Rio Negro, sob pedido de extradição da Justiça do Texas. Ele é acusado de integrar esquema internacional de tráfico de cocaína, lavagem de capitais e fraude, utilizando aeronaves adquiridas de forma ilícita para transportar drogas a partir de diferentes países da América Latina.