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Presidente do Peru decreta estado de emergência em Lima após onda de violência

Medida do governo de José Jerí autoriza militares nas ruas e suspensão de direitos civis diante do avanço do crime organizado

José Jerí (Foto: REUTERS/Angela Ponce)

247 - O governo interino do Peru anunciou nesta terça-feira (21) a decretação de estado de emergência em Lima e na cidade portuária vizinha de Callao, medida que busca conter a escalada da violência e das extorsões atribuídas a grupos do crime organizado. A decisão permitirá o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública e a suspensão temporária de direitos constitucionais, como a liberdade de reunião e a inviolabilidade de domicílio, afetando cerca de 10 milhões de habitantes.

De acordo com informações divulgadas pela CartaCapital, o decreto entra em vigor à meia-noite de quarta-feira (2h, no horário de Brasília) e terá duração inicial de 30 dias. O presidente José Jerí fez o anúncio em pronunciamento oficial transmitido pela televisão estatal, destacando que a medida marca o início de uma nova estratégia contra a criminalidade.“

O estado de emergência aprovado pelo Conselho de Ministros entra em vigor por 30 dias na região metropolitana de Lima e em Callao”, declarou Jerí. O presidente afirmou que as forças armadas atuarão ao lado da polícia em operações de patrulhamento e manutenção da ordem. Entre as restrições impostas está a proibição de duas pessoas circularem juntas em uma mesma motocicleta — prática frequentemente utilizada em crimes de extorsão e assassinatos por aluguel.

Crescimento da criminalidade e resposta governamental

Durante o pronunciamento, Jerí defendeu a medida como uma resposta necessária diante do crescimento da criminalidade no país. “Compatriotas, a delinquência cresceu de maneira desmesurada nos últimos anos, causando enorme dor a milhares de famílias e prejudicando o progresso do país. Mas isso acabou. Hoje começamos a mudar a história na luta contra a insegurança no Peru”, afirmou.

O presidente acrescentou que o governo pretende adotar uma postura mais firme contra o crime. “Passamos da defensiva para a ofensiva na luta contra o crime, uma luta que nos permitirá recuperar a paz, a tranquilidade e a confiança de milhões de peruanos”, disse, cercado por ministros durante o discurso.

Essa é a primeira grande ação do novo governo, que assumiu o poder há menos de duas semanas, em um contexto de forte insatisfação popular e crise institucional.

Violência crescente e protestos em Lima

Nos últimos meses, a capital peruana enfrentou sucessivos episódios de violência urbana. Em 16 de outubro, o governo já havia sinalizado a intenção de decretar estado de emergência, após confrontos entre forças de segurança e manifestantes em protestos contra o aumento da criminalidade e a falta de resposta estatal.

No dia 15 de outubro, as manifestações lideradas por jovens e movimentos sociais culminaram em violentos enfrentamentos próximos ao Congresso Nacional, deixando mais de 100 feridos — entre policiais e civis — e uma morte confirmada. As mobilizações também expressaram repúdio ao recém-empossado governo de José Jerí e ao Congresso, vistos por parte da população como responsáveis pela instabilidade política.

A insegurança pública foi um dos principais fatores que levaram à destituição da ex-presidente Dina Boluarte, em 10 de outubro.

Dados oficiais apontam salto alarmante nas extorsões

Segundo a Polícia Nacional do Peru, as denúncias de extorsão dispararam nos últimos dois anos. Entre janeiro e setembro de 2025, foram registrados 20.705 casos, um aumento de 28,8% em relação ao mesmo período de 2024, quando houve 16.075 ocorrências.Lima concentra a maior parte das denúncias, reflexo direto da atuação de redes criminosas que impõem cobranças ilegais a comerciantes e cidadãos. De acordo com dados oficiais, os registros saltaram de 2.396 casos em 2023 para mais de 17 mil em 2025, evidenciando o avanço da criminalidade sobre o cotidiano urbano.

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