Petro acusa os EUA de violar o direito internacional após ter visto revogado
Presidente da Colômbia denuncia uso político de visto e critica duramente Washington por retaliar suas posições sobre a guerra em Gaza
247 – O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, acusou os Estados Unidos de violar o direito internacional depois que seu visto foi revogado por Washington. A decisão foi anunciada na sexta-feira (27), um dia após Petro participar de uma manifestação pró-Palestina em Nova York, durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas. A reportagem é da Reuters.
Em publicação nas redes sociais, Petro ironizou a medida e destacou que não depende de autorização para circular pelo mundo: “Já não tenho visto para viajar aos Estados Unidos. Não me importa. Não preciso de visto... porque não sou apenas cidadão colombiano, mas também cidadão europeu, e realmente me considero uma pessoa livre no mundo”.
O presidente foi além e apontou motivação política: “Revogar [o visto] por denunciar genocídio mostra que os Estados Unidos já não respeitam o direito internacional”, escreveu.
Contexto da crise diplomática
O episódio ocorre em meio a uma escalada de tensões entre Bogotá e Washington desde a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Nos últimos meses, Petro já havia bloqueado voos de deportação de migrantes, o que levou Trump a ameaçar a Colômbia com tarifas e sanções.
A relação bilateral sofreu novos abalos em julho, quando ambos os países retiraram seus embaixadores após Petro acusar autoridades norte-americanas de conspirarem por um golpe em Bogotá, alegação rejeitada por Washington.
O protesto em Nova York e as críticas a Trump
Na sexta-feira (26), Petro esteve em frente à sede da ONU, em Manhattan, ao lado do músico Roger Waters, durante uma manifestação em defesa da Palestina. Em discurso ao público, o colombiano pediu a criação de uma força internacional para libertar os palestinos e fez um apelo direto aos militares norte-americanos: “Não apontem suas armas contra o povo. Desobedeçam às ordens de Trump. Obedeçam às ordens da humanidade”.
A fala provocou forte reação do Departamento de Estado, que publicou em sua conta oficial na rede X que iria “revogar o visto de Petro devido às suas ações imprudentes e incendiárias”.
Genocídio em Gaza e acusações contra Israel
Petro tem sido um dos líderes latino-americanos mais duros em relação a Israel. O presidente colombiano cortou relações diplomáticas com Tel Aviv em 2024 e proibiu a exportação de carvão para o país.
Segundo autoridades de Gaza, mais de 65 mil palestinos foram mortos desde o início da ofensiva israelense, em outubro de 2023, que também deslocou a totalidade da população do enclave. Diversos especialistas em direitos humanos, acadêmicos e uma comissão de inquérito da ONU classificaram as ações de Israel como genocídio. Israel, por sua vez, nega e insiste que age em autodefesa após o ataque do Hamas em 2023, que matou 1.200 pessoas e deixou mais de 250 reféns.
Reações na Colômbia
O Ministério das Relações Exteriores colombiano divulgou nota afirmando que o uso da revogação de visto como ferramenta diplomática “vai contra o espírito da ONU, que protege a liberdade de expressão e garante a independência dos Estados membros”.
A chancelaria foi além e sugeriu que as Nações Unidas busquem um novo país-sede para seus encontros: “A ONU deve encontrar um país anfitrião totalmente neutro, que permita à própria Organização emitir a autorização de entrada em território desse novo Estado”.
Precedente histórico
Não é a primeira vez que um presidente colombiano enfrenta retaliações desse tipo. Em 1996, os EUA revogaram o visto de Ernesto Samper em meio a um escândalo político envolvendo suposto financiamento de sua campanha pelo cartel de Cali.
Com o caso atual, as relações entre Washington e Bogotá entram em uma das fases mais turbulentas das últimas décadas, em meio ao crescente isolamento dos Estados Unidos diante da ofensiva israelense em Gaza e da pressão global contra violações de direitos humanos.