"Novo governo não deve trair os excluídos", diz Evo Morales
Ex-presidente da Bolívia parabeniza vitória de Rodrigo Paz, mas alerta para riscos de retrocesso social e critica governo de Luis Arce
247 – O ex-presidente da Bolívia Evo Morales se manifestou neste domingo (19) sobre a eleição de Rodrigo Paz e enviou um recado direto ao novo governo: “O povo dá aos novos governantes o mandato para não destruir o Estado Plurinacional […] e para não trair a agenda dos excluídos.” A declaração foi publicada em sua conta oficial no X (antigo Twitter).
Morales parabenizou o resultado eleitoral, mas afirmou que a vitória de Paz representa também uma rejeição a setores que, segundo ele, promoveram ódio, racismo e manipulação midiática contra o Movimento ao Socialismo (MAS). “O povo, com seu voto, derrotou neste domingo os racistas, odiadores, difamadores e violentos; castigou o poder midiático que pisoteou a ética jornalística e praticou um jornalismo indecente”, declarou.
Críticas a Arce e denúncia de “Plano Negro”
Evo Morales voltou a atacar duramente o governo de Luis Arce, seu antigo aliado no MAS, a quem acusa de perseguição e traição. Segundo ele, “os insultados, desprezados, traídos e humilhados também reprovaram Lucho Arce, David Choquehuanca e seus ministros por executarem um Plano Negro para perseguir, criminalizar e encarcerar indígenas; por terem destruído o Instrumento Político; por se direitizarem e se submeterem aos Estados Unidos; e por sua gestão corrupta e encobridora do narcotráfico.”
Morales afirma que o resultado nas urnas não representa apenas a derrota do MAS histórico, mas também uma punição ao atual governo, que, segundo ele, teria rompido com os princípios fundadores do partido.
Mensagem ao novo presidente Rodrigo Paz
Embora não cite diretamente o presidente eleito, Evo Morales advertiu Rodrigo Paz sobre os compromissos que, segundo ele, devem ser respeitados. “O povo concede aos novos governantes o mandato para não destruir o Estado Plurinacional, com soberania, dignidade, inclusão e justiça social; para que respeite os direitos sociais, como os bônus, e a política de distribuição da riqueza do Estado; e para não trair a agenda dos excluídos.”
As declarações refletem a tentativa de Morales de se manter como uma voz de oposição social e indígena ao novo governo, ao mesmo tempo em que se distancia de Arce e de sua gestão.
Contexto político: ruptura no MAS e nova etapa na Bolívia
A eleição de Rodrigo Paz encerra quase 20 anos de hegemonia do Movimento ao Socialismo. O partido, fundado por Evo Morales, chega dividido após disputas internas entre o ex-presidente e o atual mandatário Luis Arce. Paz venceu o segundo turno com 54,5% dos votos contra Jorge “Tuto” Quiroga e tomará posse em 8 de novembro.
Enquanto lideranças internacionais como Javier Milei celebram a derrota do “socialismo do século XXI”, Morales tenta preservar sua influência política entre bases indígenas e movimentos sociais, agora reposicionando-se como oposição ao novo governo e também ao atual comando do MAS.

