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Maduro convoca a Celac a se unir contra a militarização do Caribe

Em carta enviada à cúpula da Celac em Santa Marta, o presidente venezuelano pede resposta continental diante do avanço militar dos EUA na região

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro - Caracas, Venezuela - 15 de setembro de 2025 (Foto: REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria)

247 – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enviou uma carta aos líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), reunidos em Santa Marta, na Colômbia, conclamando-os a se manifestarem contra o aumento da presença militar dos Estados Unidos no Caribe. A informação foi divulgada pela rede teleSUR.

Na carta, Maduro afirmou que o princípio em jogo “é claro e decisivo: a soberania dos Estados e a livre autodeterminação dos povos”. O presidente venezuelano foi categórico ao declarar que “a Venezuela não aceita nem aceitará qualquer tipo de tutela”. Segundo ele, as potências imperiais tentam “impor a velha Doutrina Monroe sob eufemismos como segurança e combate ao narcotráfico”, transformando a América Latina em “cenário de invasões e golpes de mudança de regime para roubar nossas riquezas e recursos naturais”.

O líder bolivariano comparou a atual presença de porta-aviões e submarinos nucleares norte-americanos nas águas do Caribe com a expedição de reconquista espanhola de 1815, liderada por Pablo Morillo. “As formas de assédio mudaram, mas não sua essência”, declarou Maduro, traçando um paralelo entre o colonialismo do século XIX e as práticas contemporâneas de intervenção.

Crítica à militarização e denúncia na ONU

De acordo com a reportagem da teleSUR, a carta também faz referência a denúncias apresentadas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, nas quais especialistas da ONU e da Alta Comissária de Direitos Humanos qualificaram as recentes operações militares como possíveis execuções extrajudiciais. Maduro afirmou que os Estados Unidos “assumiram seus crimes” diante da ONU, questionando as justificativas oficiais de segurança e combate ao narcotráfico.

Ele advertiu que a Doutrina Monroe, formulada em 1823, está sendo reeditada para reafirmar a hegemonia norte-americana sobre o hemisfério ocidental. Como contraponto, propôs que os países latino-americanos adotem a “Doutrina Bolivariana” como princípio de independência e unidade regional.

Chamado à união latino-americana

O documento recorda que a Celac foi fundada em Caracas, em dezembro de 2011, como alternativa regional sem a participação dos Estados Unidos e do Canadá. Maduro citou o ex-presidente Hugo Chávez, que afirmou à época que “somente a união nos fará livres”.

A carta de Maduro apresenta quatro propostas centrais: declarar a América Latina e o Caribe como Zona de Paz; rejeitar a militarização da região; exigir uma investigação independente sobre as mortes civis registradas no mar; e criar mecanismos regionais de cooperação humanitária e defesa coletiva.

O presidente também reiterou sua condenação ao bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba, que qualificou como “criminoso e desumano”, além de criticar a inclusão da ilha em listas norte-americanas de países que patrocinariam o terrorismo. Ele ainda denunciou as sanções da União Europeia, que segundo ele, “mesmo sob o disfarce de medidas individuais, violam direitos fundamentais”.

Resgate do pensamento bolivariano

O texto cita três marcos do pensamento de Simón Bolívar — a Carta da Jamaica (1815), o Congresso de Angostura (1819) e o Congresso Anfictiônico do Panamá (1826) — como pilares históricos da integração latino-americana. Maduro concluiu sua mensagem com um apelo à união dos povos da região: “Não permitamos que a mesquinhez dos poderes externos nem a ambição de algumas oligarquias nos divida. Que esta cúpula não seja um exercício ritual, mas um ato de firmeza”.

Numerosos países da Celac já expressaram preocupação com a militarização do Caribe e consideram que a escalada representa uma ameaça imperialista à paz e à estabilidade regional.

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