"Somos uma região de paz e queremos continuar assim", diz Lula na Cúpula da Celac-UE
Presidente destaca combate ao extremismo, defesa da democracia e fortalecimento do comércio entre América Latina e Europa
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a integração regional e a cooperação internacional durante seu discurso na Sessão Plenária de Chefes de Estado e de Governo da IV Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), realizada neste domingo (9), em Santa Marta, Colômbia. O evento reuniu líderes de ambos os blocos para discutir caminhos em direção a uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo e na multipolaridade.
Mesmo sem citar a Venezuela, Lula mandou um recado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao defender a América Latina como zona de paz em meio às ameaças militares norte-americanas contra o país.
Defesa da integração e alerta contra o extremismo
Lula fez um diagnóstico sobre o atual cenário político da América Latina e do Caribe, apontando uma 'crise de integração' que ameaça o avanço regional. “Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”, afirmou. O presidente destacou que a intolerância e o extremismo político têm dificultado o diálogo e corroído a democracia.
“A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa. Voltamos a conviver com as ameaças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado”, declarou.
Segundo ele, disputas ideológicas e projetos pessoais de poder têm minado a cooperação entre os países latino-americanos e caribenhos, enquanto a guerra na Europa desvia recursos fundamentais para o desenvolvimento global.
"Somos uma região de paz e queremos continuar assim"
Diante de tensões militares entre Estados Unidos e Venezuela, Lula reforçou o compromisso da região com a estabilidade e o respeito às normas internacionais. “Somos uma região de paz e queremos permanecer assim. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional. A democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios”, enfatizou.
O presidente ressaltou ainda que a segurança é um dever do Estado e um direito humano fundamental, defendendo que o combate à criminalidade deve ocorrer por meio de cooperação internacional. “Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade. É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas”, afirmou.
Cooperação em segurança e exemplos regionais
Lula citou a renovação do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, que reúne Brasil, Argentina e Paraguai, e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, sediado em Manaus, como exemplos de ações eficazes. “Ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas são essenciais. Essas são plataformas permanentes de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas”, disse.
Acordo Mercosul-União Europeia e agenda econômica
Na área econômica, o presidente voltou a defender o Acordo Mercosul-União Europeia como um marco para o fortalecimento do multilateralismo comercial. Lula demonstrou otimismo de que o tratado possa ser finalmente concluído até a próxima cúpula do Mercosul, em dezembro.
“Também temos um enorme potencial de aprofundar nossos laços econômicos. Espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras como resposta ao unilateralismo”, destacou. O acordo, segundo ele, conectará um mercado de 718 milhões de pessoas e ajudará a América Latina a superar o papel histórico de mera fornecedora de matérias-primas e mão de obra barata.
Transição energética e COP30
O líder brasileiro também mencionou a COP30, realizada na Amazônia, como uma oportunidade estratégica para a região liderar a transição energética. “O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre [TFFF] é uma solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas”, declarou Lula.
Para o presidente, a América Latina é uma “fonte segura e confiável de energia limpa e pode acelerar a redução da dependência dos combustíveis fósseis”.
Proposta histórica à ONU
Encerrando seu discurso, Lula propôs que uma mulher latino-americana assuma, pela primeira vez, o cargo de Secretária-Geral da ONU. “É chegada a hora de ter uma latino-americana no cargo de Secretária-Geral da ONU”, afirmou, lembrando que mulheres representam mais da metade da população mundial, mas nunca ocuparam o posto máximo da organização.
“Precisamos enviar ao mundo um sinal de que duas regiões estratégicas como América Latina e Caribe e a Europa estão comprometidas com uma agenda promissora. Uma agenda de paz, cooperação, ampliação do comércio e dos investimentos, geração de empregos e crescimento sustentável”, completou o presidente.
Cúpula e perspectivas regionais
Esta foi a quarta cúpula entre a Celac e a União Europeia, e o décimo encontro birregional desde 1999. A expectativa é consolidar a “Declaração de Santa Marta” e o “Mapa do Caminho 2025-2027”, que servirão de guia para ações concretas de cooperação.
Criada em 2010, a Celac reúne 33 países da América Latina e do Caribe, com foco em segurança alimentar, saúde, energia, desenvolvimento sustentável e transformação digital. A Colômbia ocupa a presidência pro tempore do grupo em 2025, sucedendo Honduras, e será seguida pelo Uruguai em 2026.
O Brasil, que teve papel fundamental na fundação da Celac, voltou à participação plena em janeiro de 2023, reafirmando a integração latino-americana como prioridade de sua política externa.


