Lula vai à Colômbia para cúpula da Celac e busca evitar conflito entre Venezuela e EUA
Presidente participa do encontro para defender a paz regional e reforçar solidariedade ao governo de Maduro diante de tensões com Washington
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca neste domingo (9) para Santa Marta, na Colômbia, onde participará da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). A viagem ocorre em meio à crescente tensão entre a Venezuela e os Estados Unidos e tem como objetivo demonstrar solidariedade ao governo de Nicolás Maduro e reforçar a defesa da paz na região.
Segundo o Valor Econômico, Lula decidiu comparecer ao encontro após ser convencido por assessores de que sua presença poderia ajudar a construir uma interlocução entre Caracas e Washington, evitando o que diplomatas classificam como um possível conflito inédito entre forças venezuelanas e norte-americanas na América do Sul.
Embora o principal propósito da reunião seja fortalecer o diálogo entre países da Celac e representantes da União Europeia, o Itamaraty reconhece que o tema venezuelano dominará os debates. "O tema [da Venezuela] será discutido [na cúpula da Celac]. Agora, como isso aparecerá na declaração final [da reunião], não tem como saber. Óbvio que o tema será discutido, porque é um tema grave da região", explicou a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores.
A questão é sensível para o governo brasileiro, especialmente após Lula ter retomado o diálogo direto com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, para tratar de questões comerciais. Apesar disso, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, rejeitou a ideia de que a defesa da Venezuela possa prejudicar as relações com Washington. "Temos que defender a América do Sul. Nós vivemos aqui. O Brasil tem fronteiras com dez países da América do Sul. É diferente", afirmou Amorim a jornalistas na quinta-feira (6), durante a Cúpula de Líderes do Clima.
Lula já havia discutido com Trump, em uma reunião bilateral na Malásia, a possibilidade de o Brasil atuar como mediador junto à Venezuela — um papel que o país desempenhou em 2003, no governo de Hugo Chávez, e mais recentemente, durante a disputa territorial entre Caracas e Georgetown pela região de Essequibo, na Guiana.
Nos bastidores, diplomatas afirmam que o governo brasileiro pretende reafirmar, durante a cúpula, a posição de que a soberania territorial da América do Sul é inegociável. A avaliação no entorno de Lula é que tanto o Brasil quanto os Estados Unidos precisarão aprender a conviver com divergências em relação à Venezuela.
Na quarta-feira (5), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, adiantou que Lula deve aproveitar o encontro para expressar “solidariedade regional” à Venezuela diante das ameaças do governo norte-americano. "É um apoio, é uma solidariedade regional à Venezuela, tendo em vista que o presidente repetidamente já disse, e é a posição da nossa política externa, de que a América Latina e, sobretudo, a América do Sul, onde nós estamos, é uma região de paz e cooperação", destacou Vieira.
A preocupação do governo brasileiro se intensificou após recentes manobras militares norte-americanas no mar do Caribe, justificadas pela Casa Branca como parte de uma operação contra o narcotráfico. Essa movimentação elevou o temor de uma intervenção armada na Venezuela. Paralelamente, uma comitiva de autoridades brasileiras deve seguir para Washington nos próximos dias para tratar de outro tema delicado: as sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Com sua presença na cúpula da Celac, Lula pretende reforçar a defesa da soberania latino-americana, estimular o diálogo político e reafirmar o compromisso do Brasil com a paz e a cooperação entre os países da região.


