Estados Unidos intensificam ameaças de agressão à Venezuela com a estratégia da Zona Cinza
A escalada de táticas como desinformação, ataques cibernéticos e ameaças militares visam minar a resistência venezuelana ao governo Trump
247 - O governo dos Estados Unidos tem adotado uma abordagem agressiva contra a Venezuela, utilizando uma combinação de ameaças militares, ataques cibernéticos e campanhas de desinformação para enfraquecer o apoio popular ao governo de Nicolás Maduro, destaca reportagem da Telesur. A estratégia em curso envolve a exploração da chamada "Zona Cinza", uma esfera de ação difusa onde as táticas de guerra não convencional se sobrepõem às fronteiras tradicionais entre paz e conflito.
De acordo com o jornalista Ricardo Pose, da Telesur a escalada contra a Venezuela visa deslegitimar o governo de Maduro através de uma campanha sistemática de propaganda. A narrativa construída aponta o presidente venezuelano como o líder de um suposto "Cartel dos Sóis" e reforça acusações sobre a presença de membros do extinto grupo criminoso "Trem de Aragua" no país. Embora essas alegações sejam infundadas, elas servem de base para justificar uma intervenção militar, sem a necessidade de aprovação do Congresso dos Estados Unidos, o que seria um precedente perigoso em relação ao direito internacional.
Essas movimentações têm sido acompanhadas de perto por fontes internacionais, como a Reuters, que relatou recentemente a movimentação de frotas militares norte-americanas na costa venezuelana. De acordo com especialistas, esse tipo de ação visa gerar medo dentro do país e minar o apoio ao governo Maduro. Willian Serafino, especialista em conflitos, descreve essa estratégia como uma "PsicOp", uma operação psicológica destinada a desestabilizar a moral interna do país.
Esses eventos são um reflexo da crescente utilização da "Guerra da Zona Cinza", um conceito que mistura elementos de guerras híbridas e de 4ª e 5ª gerações, em que as fronteiras entre guerra e paz são intencionalmente borradas. Neste tipo de conflito, as potências agressoras utilizam táticas como ataques cibernéticos e propaganda, sem entrar em confrontos militares diretos. Para o Tenente Coronel Silva Fernández, da Universidade Militar Bolivariana de Venezuela, a Zona Cinza representa uma forma complexa de enfrentamento, que envolve múltiplos frentes sem que se manifeste uma força militar visível ou tradicional.
Além disso, o acadêmico Pedro Penso Sánchez, coordenador da Rede Internacional de Pesquisa Antifascista (RIA), detalhou o desenvolvimento da estratégia da Guerra em Zona Cinza, explicando suas fases. A primeira fase inclui a Guerra Econômica, com o intuito de gerar descontentamento popular através da escassez de bens essenciais, que é atribuída erradamente ao governo de Maduro, em vez de aos bloqueios internacionais impostos sobre a economia venezuelana.
A segunda fase envolve a construção de uma narrativa sobre um "Estado Falido", ampliando a ideia de que a Venezuela seria um "Narcoestado", uma acusação que se baseia em fábulas como o Cartel dos Sóis e o Trem de Aragua. A terceira fase é marcada pelo uso de inteligência artificial para realizar campanhas de segmentação, visando manipular a opinião pública e mobilizar grupos de maneira direcionada. Por fim, a quarta fase inclui ações militares provocativas, muitas vezes disfarçadas como operações contra o tráfico de drogas, com o intuito de criar uma justificativa para uma intervenção direta.
De acordo com Penso, a agressiva política dos Estados Unidos vai além do tradicional intervencionismo e se apresenta como uma tentativa de imposição de uma agenda política, econômica e militar em detrimento da soberania venezuelana. Para ele, "a política agressiva dos Estados Unidos busca alinhar a Venezuela aos seus próprios interesses, ignorando a vontade do povo venezuelano", como já tem sido evidenciado em diversas fases do conflito.
No entanto, a resistência do povo venezuelano permanece firme. A "Guerra de Todo o Povo", conceito adotado pelo governo de Maduro, envolve a mobilização não só das forças armadas, mas também das milícias e da população civil. Essa estratégia de defesa popular tem se mostrado eficaz, dificultando os esforços externos de desestabilização. De acordo com Penso, até o momento, os manuais de Guerra Híbrida e de Zona Cinza, que foram testados em outros países, não tiveram sucesso na Venezuela, Cuba e Nicarágua, onde as populações compreendem o poder da unidade popular.
A disputa pela soberania venezuelana continua sendo uma batalha complexa, com múltiplos atores internacionais tentando moldar os rumos do país, enquanto o povo bolivariano se mobiliza para defender sua autonomia e resistência contra as pressões externas.