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Cuba projeta enfrentar desafios com trabalho, controle e participação popular

“Estamos vivendo um momento extremamente complexo, o que exige respostas mais profundas, rápidas e responsáveis", afirma o presidente Miguel Díaz-Canel

Presidente de Cuba Miguel Díaz-Canel (Foto: Presidência de Cuba)

247 - O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, afirmou que os graves desafios enfrentados pelo país nos próximos anos só poderão ser superados por meio de trabalho concreto, controle sistemático e participação popular ativa. A declaração foi feita durante o discurso de encerramento da Sexta Sessão Ordinária da Assembleia Nacional do Poder Popular, na X Legislatura, realizada no Palácio das Convenções, em Havana.

Ao se dirigir aos deputados, Díaz-Canel traçou um amplo diagnóstico da situação nacional e internacional, destacando a complexidade do momento econômico vivido por Cuba, marcado por inflação elevada, queda do PIB, crise energética, escassez e redução das receitas externas. O discurso foi divulgado originalmente pelo site Cubadebate, que publicou a íntegra da intervenção do chefe de Estado cubano.

Segundo o presidente, a atual conjuntura não pode ser compreendida como uma crise isolada, mas como o resultado do acúmulo de distorções internas, dificuldades estruturais e erros próprios, agravados por um “cerco externo extremamente agressivo”. Ele ressaltou que esse contexto se insere em um cenário internacional instável, que ameaça o multilateralismo, o direito internacional e os princípios que regeram as relações entre os países nas últimas décadas.

Díaz-Canel também dedicou parte significativa de sua fala à política externa, denunciando o que classificou como uma ofensiva imperialista dos Estados Unidos contra a América Latina e o Caribe. O presidente cubano criticou duramente a doutrina denominada “paz pela força”, promovida por Washington, e afirmou que ela representa a imposição arbitrária da vontade estadunidense por meio de ameaças e coerção.

Nesse contexto, o líder cubano destacou as pressões militares, políticas e econômicas contra a Venezuela, que descreveu como atos contrários ao direito internacional. Ele mencionou ameaças de bloqueio naval, incursões aéreas e tentativas de desestabilização política como exemplos de uma escalada perigosa na região.

Ao abordar a situação de Cuba, Díaz-Canel voltou a condenar o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, classificado como criminoso e intensificado nos últimos anos. Segundo ele, a manutenção de Cuba na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo tem provocado sérias restrições às transações comerciais e financeiras, afetando diretamente o cotidiano da população.

O presidente afirmou ainda que o governo norte-americano utiliza meios de comunicação e plataformas digitais para promover desinformação, desânimo e desconfiança na liderança da Revolução Cubana. Ele também criticou ataques à cooperação médica internacional de Cuba, considerada uma das principais expressões da solidariedade do país no cenário global.

Apesar das dificuldades, Díaz-Canel destacou avanços diplomáticos recentes, como a adesão de Cuba ao Grupo BRICS como país parceiro, o que, segundo ele, demonstra o reconhecimento internacional do papel da Revolução Cubana entre as nações do Sul Global. O presidente também mencionou o fortalecimento dos movimentos de solidariedade com Cuba e a ampliação das relações com cubanos residentes no exterior.

No plano interno, o discurso teve forte ênfase na economia. Díaz-Canel afirmou que ninguém no país ignora a gravidade da crise e que ela se manifesta de forma concreta nas filas, nos apagões, no transporte precário e no aumento do custo dos alimentos. Diante desse cenário, ele defendeu que o Parlamento reconheça a dimensão dos problemas e, ao mesmo tempo, reafirme a vontade política de promover mudanças para proteger a justiça social e a soberania nacional.

O presidente ressaltou que o Plano Econômico e o Orçamento do Estado aprovados pela Assembleia não são meros instrumentos técnicos, mas expressões de uma decisão política de priorizar a população, investir em áreas estratégicas e buscar maior eficiência. Ele alertou para a necessidade de responsabilização de gestores que não cumprirem as metas estabelecidas, afirmando que análises tardias e diagnósticos sem soluções práticas não contribuem para resolver a crise.

Díaz-Canel enfatizou que o Programa de Governo para a correção de distorções deve deixar de ser apenas um documento de referência e se tornar um guia obrigatório para empresas, instituições e governos territoriais. Entre os principais desafios apontados estão a redução da dependência energética, o fortalecimento da produção nacional, o controle do déficit fiscal e da inflação, a ampliação das receitas externas e a proteção dos setores mais vulneráveis da população.

Segundo o presidente, as transformações necessárias não são apenas estruturais, mas também mentais. Ele defendeu maior flexibilidade, inovação e capacidade de adaptação, sem abrir mão dos princípios da autodeterminação, da soberania e da independência nacional.

Outro ponto de destaque do discurso foi a aprovação da Lei Geral de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para Díaz-Canel, a ciência deve se tornar um motor central do desenvolvimento econômico e social, deixando de estar confinada aos laboratórios e passando a oferecer soluções concretas para a produção, a energia, a saúde e a vida cotidiana.

Ao se referir ao futuro político do país, o presidente justificou a decisão de adiar o Nono Congresso do Partido Comunista de Cuba, classificando-a como necessária e oportuna. Segundo ele, o adiamento permitirá concentrar esforços na recuperação econômica, fortalecer a confiança popular e criar melhores condições para um congresso mais sólido e produtivo.

No encerramento de sua fala, Díaz-Canel anunciou a proposta de proclamar 2026 como o “Ano do Centenário do Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz”. Para o presidente, a data deve servir como inspiração para aprofundar o estudo do pensamento de Fidel, emular seu exemplo e fortalecer o compromisso com a justiça social e a unidade nacional.

O discurso terminou com uma reafirmação da confiança na capacidade de resistência do povo cubano e na vitalidade da Revolução. Segundo Díaz-Canel, a superação da crise dependerá da implementação efetiva das decisões aprovadas pela Assembleia e da transformação dos planos e leis em melhorias concretas na vida da população.

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