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Arce denuncia tentativa de golpe eleitoral na Bolívia

Presidente acusa manobra para adiar segundo turno e pede ação do Tribunal Supremo Eleitoral; político brasileiro naturalizado é citado em denúncia paralela

Luís Arce, presidente boliviano (Foto: Prensa Latina )

247 - O presidente da Bolívia, Luis Arce, denunciou nesta semana a existência de duas supostas tentativas de golpe contra a democracia boliviana, a menos de duas semanas do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para o dia 19 de outubro. A informação foi noticiada pelo Opera Mundi, com base em informações do La Razón.

Em pronunciamento transmitido em rede nacional a partir do Palácio Quemado, em La Paz, e acompanhado por todo o gabinete ministerial, Arce afirmou que “grupos com interesses próprios” estariam articulando ações para interferir no processo eleitoral e desestabilizar o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).

“Queremos alertar e denunciar o golpe em curso contra a democracia por grupos que têm seus próprios interesses em mente”, declarou o presidente, pedindo “respeito absoluto à vontade popular expressa nas urnas”.

Proposta legislativa e recuo após reação pública

Segundo Arce, uma das iniciativas classificadas como golpistas seria um projeto de lei apresentado pelo senador Pedro Benjamin Vargas, que previa inabilitar os mesários escalados para o segundo turno sob a justificativa de supostas fraudes ocorridas no primeiro turno, realizado em 17 de agosto.

A proposta também previa o adiamento da nova votação e, consequentemente, a prorrogação dos mandatos das atuais autoridades, o que, segundo o governo, configuraria uma tentativa de ruptura institucional.

Após forte repercussão negativa, o senador retirou o projeto horas depois do pronunciamento presidencial. Vargas integra o Movimento ao Socialismo (MAS) — mesmo partido de Arce —, mas pertence a uma ala mais próxima ao ex-presidente Evo Morales, que rompeu com a legenda em 2024.

Evo Morales nega envolvimento e condena manobras

Evo Morales reagiu com uma nota pública, negando qualquer participação na tentativa de alterar o calendário eleitoral.

“Não há, nem haverá, qualquer tipo de negociação que viole a independência do órgão eleitoral ou o calendário democrático do país. Em hipótese alguma nossa representação parlamentar endossará a prorrogação do mandato de qualquer autoridade”, afirmou o ex-presidente, acrescentando que “a soberania do povo se respeita nas urnas”.

A tensão política reflete também as divisões internas entre os setores evistas (leais a Evo Morales) e a ala institucionalista ligada a Arce, que tenta manter o MAS coeso em meio à disputa com a direita boliviana.

Brasileiro naturalizado é citado em nova denúncia

O governo também apontou uma segunda frente de desestabilização, desta vez envolvendo o político brasileiro naturalizado boliviano Peter Erlwein Beckhauser, vinculado à Frente de Unidade Nacional (FUN) — partido que apoiou o candidato de direita Samuel Doria Medina, terceiro colocado no primeiro turno com 19,7% dos votos.

Segundo o Executivo, Beckhauser apresentou uma denúncia ao Ministério Público de La Paz pedindo a anulação dos resultados do primeiro turno, sob alegação de irregularidades em mais de 3,6 mil atas eleitorais. O governo classifica a ação como “parte de uma estratégia para desacreditar o processo democrático”.

Presidente pede intervenção do Tribunal Eleitoral

Segundo reportado pela agência RT, Arce pediu que o Tribunal Supremo Eleitoral convoque uma reunião de emergência com os demais poderes do Estado para garantir a normalidade dos comícios e evitar uma escalada de instabilidade.

“Há um golpe em gestação no Legislativo. É dever do TSE assegurar o curso normal do processo eleitoral e a continuidade democrática do país”, afirmou.

Segundo turno entre candidatos de direita

O segundo turno das eleições presidenciais bolivianas será disputado entre dois candidatos de direita: Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão, e Jorge Quiroga, da Aliança Liberdade e Democracia (ALD).

A ausência de um nome do Movimento ao Socialismo na disputa final é inédita desde 2005, quando Evo Morales foi eleito pela primeira vez, e amplia o clima de incerteza política e reconfiguração partidária na Bolívia.

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