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Aposentados passam fome extrema na Argentina cruel, bárbara e caótica de Milei

Sob um governo que prioriza o ajuste fiscal e corta subsídios, idosos enfrentam miséria, fome e desamparo

Idosos pasam fome na Argentina de Milei (Foto: Reuters)

247 – Uma reportagem publicada pela Reuters nesta sexta-feira mostra a dramática situação dos aposentados argentinos, que enfrentam fome e privações em meio à política de austeridade imposta pelo presidente Javier Milei. O caso de Olga Beatriz Gonzalez, de 89 anos, ilustra o desespero de uma geração inteira que, após uma vida de trabalho, luta para sobreviver.

Todas as quartas-feiras, Gonzalez sai de sua casa na periferia de Buenos Aires para participar de protestos no centro da cidade. Antes, prepara cartazes e recolhe doações de pão e vegetais para a pequena cozinha solidária que mantém para vizinhos em situação de vulnerabilidade. “Somos pessoas que cumpriram seu dever e estamos chegando ao fim da vida. Não queremos chegar com tanta necessidade”, disse à Reuters. “Me dói quando alguém me diz: ‘não posso comprar remédios porque, se o fizer, não pagarei o aluguel’. Muitos estão sem luz, e eu lhes dou macarrão, mas não têm nem como cozinhar.”

Fome e desespero entre os idosos

Desde que Javier Milei assumiu a presidência, em dezembro de 2023, a Argentina mergulhou em um regime de austeridade radical. O governo anunciou, em janeiro, o primeiro superávit orçamentário em 14 anos, mas à custa de cortes drásticos em subsídios de energia e transporte. O resultado foi devastador para a população idosa: segundo o economista Enrique Dentice, o poder de compra dos aposentados caiu 23% desde o início do governo Milei.

“Hoje, a prioridade dos aposentados é apenas comprar comida, e nada mais”, explicou Dentice. “O governo diz que é preciso esperar, mas o tempo passa e os aposentados não podem esperar.”

A cada quarta-feira, em frente ao Congresso Nacional, centenas de aposentados e apoiadores se reúnem em protestos marcados pela fome e pela revolta. Carregam bandeiras azul-celeste e cartazes com frases como ‘Ninguém se salva sozinho’ e ‘O próximo idoso será você’, enfrentando fileiras de policiais com escudos e capacetes.

Inspirada por sua heroína Evita Perón, Gonzalez pede que outros aposentados não se calem: “Digo a eles que não há vergonha em pedir ajuda, mas o que precisamos mesmo é ir às manifestações. Não fiquem só vendo TV.”

Governo mantém discurso de austeridade

O governo Javier Milei não respondeu aos pedidos de comentário da Reuters. Em maio, o porta-voz presidencial Manuel Adorni admitiu que a situação dos aposentados é grave, mas descartou soluções imediatas. “Entendemos o que aconteceu com os aposentados nas últimas décadas, mas a solução não é mágica”, afirmou. “Para que as pensões melhorem, é preciso que cresçam os salários e as contribuições dos trabalhadores, o que só pode ocorrer com investimento e crescimento. Não há outro caminho, porque os recursos são finitos.”

Apesar do agravamento da miséria, parte dos idosos ainda apoia o governo. A professora aposentada Margarita Ruiz, de 75 anos, disse acreditar que o plano de Milei é “a única forma de salvar a economia”. “De maneira alguma queremos o retorno do governo anterior”, afirmou.

Viver com o mínimo: a realidade da velhice argentina

Para a maioria, porém, a sobrevivência tornou-se um desafio diário. O aposentado Luis Relinque, de 75 anos, recebe pouco mais de 396 mil pesos — cerca de 266 dólares — e precisa vender alfajores caseiros na rua para comprar comida. “Não passo fome, mas passo privações”, contou. “Antes, eu levava minha neta para tomar sorvete ou ir ao teatro. Agora, não posso. Também parei de ver meus amigos. Antes fazíamos churrascos, cozidos, era muito bom. Agora, tudo acabou.”

Relinque resume, com tristeza, o cotidiano de uma geração esquecida: “O que antes era vida, hoje é sobrevivência.”

A dignidade perdida

A crise das aposentadorias tornou-se símbolo do colapso social na Argentina. Entre inflação alta, desemprego e cortes, milhões de idosos vivem com o mínimo, sustentando-se com doações e protestos semanais em busca de visibilidade.

Olga Beatriz Gonzalez, que aos 89 anos ainda luta por justiça social, representa essa resistência. “Fizemos nossa parte”, disse ela. “Só queremos terminar com dignidade.”

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