Apesar do bloqueio, Venezuela garante segurança alimentar e reduz subnutrição, afirma relatório da ONU
Um dos pilares centrais dessa conquista tem sido o fortalecimento dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs)
247 - Em meio ao bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e seus aliados desde 2014, a República Bolivariana da Venezuela alcançou um novo marco histórico: está, pela segunda vez neste século, em processo de garantir a segurança alimentar de sua população. A conquista foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e outros organismos internacionais no relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025 (SOFI 2025)", divulgado recentemente.
O documento — elaborado conjuntamente pela FAO, FIDA, UNICEF, PMA e OMS — destaca uma queda significativa no Índice de Prevalência de Subnutrição (IPS) na Venezuela: de 17,6% para 5,9% entre 2022 e 2024. Isso representa que cerca de 3,3 milhões de pessoas saíram da fome nesse período, reduzindo o total de venezuelanos subnutridos de 5 milhões para 1,7 milhão.
Para o vice-ministro de Políticas Antibloqueio, William Castillo, os dados confirmam a derrota da estratégia de Washington. “A segurança alimentar é o fracasso da política dos Estados Unidos, cujo objetivo tem sido sufocar a economia e restringir o fornecimento de bens essenciais, incluindo alimentos, para forçar uma mudança de governo”, escreveu Castillo em sua conta na rede X (antigo Twitter).
Impactos do bloqueio e a resposta nacional
As mais de 1.041 Medidas Coercitivas Unilaterais (MCUs) impostas contra a Venezuela nos últimos onze anos causaram uma severa escassez de produtos e uma grave crise alimentar, especialmente entre 2015 e 2019. O ponto mais crítico da fome foi registrado em 2019.
Contudo, o relatório da FAO aponta uma recuperação surpreendente da disponibilidade de alimentos, que aumentou em mais de 500% entre 2016 e 2024. Atualmente, o país dispõe de 1.378 gramas de alimentos por pessoa ao dia, volume que se aproxima da média global.
Ainda segundo os dados da FAO, a disponibilidade energética alimentar (medida em quilocalorias) também supera os níveis internacionais, com 3.103 Kcal/pessoa/dia, acima da média mundial.
“A Venezuela assumiu uma posição firme na guerra para garantir a segurança alimentar e está vencendo”, afirma o relatório, ressaltando que o país tem demonstrado "um histórico de resistência vitoriosa em meio à ofensiva imperialista".
O papel dos CLAPs: resistência e soberania alimentar
Um dos pilares centrais dessa conquista tem sido o fortalecimento dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs), criados em 2016 como resposta à emergência alimentar provocada pelas sanções.
Inicialmente voltado à importação e distribuição de cestas básicas, o programa passou por um processo de nacionalização. Atualmente, mais de 90% dos itens distribuídos pelos CLAPs são de produção nacional, todos identificados com o selo “Fabricado na República Bolivariana da Venezuela”.
Segundo o vice-ministro William Castillo, “Este é o esforço dos CLAPs, dos produtores nacionais públicos e privados, dos agricultores, das Comunas”.
Os CLAPs também impulsionaram a agricultura camponesa de pequena escala, contribuindo não apenas para a produção de alimentos, mas também para a organização comunitária, a autossuficiência local e o fortalecimento do tecido social.
Hoje, cerca de 7,5 milhões de famílias são beneficiadas diretamente pelo programa — um número que expressa a ampla capilaridade e o papel estruturante que os CLAPs exercem na economia alimentar venezuelana.
Modelo sustentável e alternativo
O êxito da Venezuela em superar a crise de fome e restabelecer sua segurança alimentar, mesmo sob severas restrições comerciais e financeiras, tem sido interpretado por analistas e agências internacionais como um exemplo de resistência soberana.
A consolidação dos CLAPs como modelo de abastecimento, a reorganização da produção nacional e o papel das Comunas e dos movimentos populares demonstram que é possível construir políticas públicas eficazes mesmo diante de bloqueios externos, desde que haja organização popular, vontade política e soberania nacional.
Para muitos observadores, trata-se de um modelo alternativo ao sistema agroindustrial dependente das grandes corporações, que pode inspirar outras nações do Sul Global que enfrentam situações similares de pressão econômica e instabilidade geopolítica.
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