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Chacina de Castro tem um contorno bárbaro: o do espetáculo, afirma Renata Souza

Deputada Renata Souza critica ação policial mais letal da história do Rio e denuncia política de segurança baseada na morte e no show

Corpos de mortos pela polícia em chacina no Rio de Janeiro - 29 de outubro de 2025 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

247 - Em entrevista à TV 247, a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) classificou como “bárbara” e “espetacularizada” a megaoperação policial que resultou em mais de 60 mortes no Rio de Janeiro — a mais letal da história do estado. A parlamentar afirmou que o governo de Cláudio Castro (PL) adota uma “lógica falida de segurança pública” que privilegia o confronto em detrimento da inteligência e do direito à vida.

“Essa é uma operação que remonta o que tem sido a prática no estado do Rio de Janeiro, mas esse governo, em especial, tem um contorno que a gente não pode negar: o das grandes operações com uma lógica de grande espetáculo”, afirmou Renata. Para ela, há uma tentativa deliberada de dar “visibilidade à barbárie cometida pelo próprio Estado”.

“O sucesso é medido pelos corpos no chão”

Durante a entrevista, a deputada denunciou a postura de parte da base governista na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que teria comemorado o resultado da operação. “A lógica do sucesso nas operações policiais é a quantidade de corpos deixados no chão, e não a prevenção ou o respeito à Constituição”, criticou.

Renata lembrou que o estado investe bilhões em segurança pública, mas destina “menos de 1% para inteligência e informação”, o que, segundo ela, revela a ausência de uma estratégia efetiva para combater o crime. “Não me convence que há inteligência quando o orçamento é todo voltado para caveirões e armamentos, e não para informação”, disse.

“O Estado abriu mão de disputar a juventude”

Criada e moradora por 40 anos do Complexo da Maré, Renata relatou a experiência de quem vivencia as operações policiais “sangrentas” desde a infância. “O Estado abriu mão de disputar a nossa juventude”, declarou. “Hoje, o jovem negro da favela é visto como um suspeito em potencial. Essa lógica é perversa e racista.”

A deputada defende políticas públicas de longo prazo, com investimento em educação, saúde e oportunidades. “A solução não está nas operações diárias com dezenas de mortos, mas em garantir direitos e dignidade para quem vive nas favelas e periferias.”

Impactos psicológicos e sociais

Renata alertou para o impacto emocional das ações policiais sobre moradores, especialmente crianças. “Há pesquisas que mostram que a saúde emocional e a pressão arterial das pessoas da favela são afetadas. O medo virou rotina”, disse.

Ela citou uma lei de sua autoria, já sancionada, que institui um programa de saúde mental voltado para jovens de favelas e periferias. “Temos crianças com ansiedade, depressão e ideação suicida por causa da violência. Isso é devastador”, afirmou.

A parlamentar destacou também os prejuízos educacionais: “Na Maré, as crianças perderam em média 37 dias de aula por ano devido às operações. Em 12 anos, isso equivale a um ano inteiro de ensino perdido.”

“Segurança é direito, não punição”

Renata Souza defendeu uma mudança de olhar da sociedade sobre as favelas, lembrando que “um terço da população do Rio de Janeiro vive nesses territórios”. Para ela, a aceitação social das operações letais é parte de uma estrutura que elege governadores e parlamentares. “Há um julgamento social de que o inimigo está na favela, e isso legitima a barbárie”, afirmou.

Ela criticou a proposta de gratificação para policiais envolvidos em operações letais, aprovada por deputados da Alerj. “É premiar a morte. É gratificar quem mata. Isso é um escárnio”, disse.

“O povo da favela é quem lava o sangue”

Ao final da entrevista, Renata classificou o governo Cláudio Castro como “ineficaz e covarde”. “Ele aposta na política do espetáculo sangrento, que demonstra sua incapacidade de pensar o Estado de forma humana. O povo da favela é quem lava o sangue deixado pelo Estado”, afirmou.

Segundo a deputada, há indícios de que o número de mortos pode ser ainda maior que o divulgado oficialmente. “Há relatos de corpos em uma mata no Complexo do Alemão. A tragédia pode ser maior do que a imprensa noticia”, alertou.

Renata concluiu reafirmando seu compromisso de acionar o Ministério Público a cada operação policial para cobrar o controle externo da atividade policial, como determina a Constituição. “Enquanto o Estado insistir na lógica da guerra, jamais haverá segurança — nem para quem vive na favela, nem para quem vive fora dela.”

Assista à entrevista: 

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