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MPRJ aponta um homicídio por dia com expansão do Comando Vermelho na Zona Oeste

Denúncia registra 684 mortes em dois anos e moradores protestam contra operação policial que matou 121 pessoas no Rio

MPRJ aponta um homicídio por dia com expansão do Comando Vermelho na Zona Oeste (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

247 - O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) registrou em denúncia anexada ao processo da Megaoperação Contenção que a expansão do Comando Vermelho (CV) na região da Grande Jacarepaguá resultou, em média, em um homicídio por dia ao longo de dois anos. Segundo o documento, foram contabilizadas 684 mortes entre 2023 e 2024.

Ao todo, 69 pessoas foram denunciadas por associação para o tráfico. Na última terça-feira (28), 113 pessoas foram presas e outras 121 morreram, incluindo quatro policiais civis e militares.

De acordo com a denúncia, o CV passou a ocupar comunidades antes controladas por milícias em áreas da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Itanhangá e Vargens, formando o chamado Complexo de Jacarepaguá. O MPRJ associa essa expansão a confrontos armados e ao aumento dos homicídios na região.

O documento também detalha a dinâmica territorial a partir de Gardênia Azul e Cidade de Deus, indicando vias de acesso e a progressão para outras comunidades do entorno, citando novamente a reportagem do g1 ao abordar a escalada de mortes.

O MPRJ observa ainda que a ofensiva do CV na Zona Oeste está ligada à disputa com grupos paramilitares, com participação de quadros da facção oriundos do Complexo da Penha na coordenação do avanço territorial.

Moradores protestam

Na tarde desta sexta-feira (1º), moradores dos complexos da Penha, Alemão e de outras favelas do Rio se reuniram para protestar contra a Operação Contenção, que resultou na morte de 121 pessoas. Mesmo sob chuva, milhares de pessoas ocuparam um campo de futebol na Vila Cruzeiro, uma das comunidades do Complexo da Penha, de onde pretendiam seguir em caminhada até a Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade.

Entre os presentes, destacam-se mães que perderam filhos em outras operações policiais. Liliane Santos Rodrigues, do Complexo do Alemão, perdeu o filho Gabriel Santos Vieira, de 17 anos, há seis meses. Ele foi baleado com cinco tiros enquanto estava na garupa de uma moto por aplicativo a caminho do trabalho.

“Eu estou sentindo a dor dessas mães. Foi um baque muito grande ver que um rapaz foi morto no mesmo lugar em que o meu filho morreu. Tem três dias que eu não sei o que é dormir direito. Muita gente julga, mas só sabe quem passa. Hoje eu estou aqui para dar força para essas mães”, disse Liliane.

Ela acrescenta que ainda tem poucas informações sobre os responsáveis pelo crime e teme pela segurança da filha mais nova, de 9 anos. “No dia da operação, eu estava dormindo, quando a minha filha entrou desesperada no meu quarto, tremendo, e falando 'tá dando tiro'. Quando eu vi, ela tava alisando a foto do irmão no celular e chorando. Ela me perguntou: 'Será que vai acontecer com a gente igual o que aconteceu com o meu irmão?' Foi um dia desesperador. Parecia que os tiros estavam dentro da nossa casa.”

Nádia Santos, moradora do Complexo do Chapadão, perdeu dois filhos em operações policiais anteriores e se emociona ao comentar o novo massacre. “Esse governador é o 'Exterminador do Futuro', porque ele extermina o futuro e os sonhos dos jovens. Ele poderia entrar com educação, com saneamento básico, com emprego, mas a única oportunidade que o governo deu pra eles foi caírem no narcotráfico e pegarem um fuzil na mão. Quando o governo não dá oportunidade, o tráfico abraça. E não é culpa nossa. Nenhuma mãe cria seu filho pra ver ele tombado sem cabeça. Eu ainda sangro pela morte dos meus filhos, mas hoje eu tô sangrando ainda mais pelas mortes desses 121 filhos.”

Segundo o governo do estado, a Operação Contenção tinha o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão contra o Comando Vermelho. Com cerca de 2,5 mil agentes, foi a maior ação do tipo em 15 anos, mas se tornou a mais letal da história do estado, com 121 mortos, sendo quatro policiais e 117 civis. Dos mortos, 78 tinham histórico criminal, 42 tinham mandados de prisão pendentes e 89 corpos foram liberados pelo Instituto Médico Legal.

Entidades de direitos humanos e organizações da sociedade civil classificam a operação como “massacre” e criticam a alta letalidade, que inicialmente havia sido divulgada pelo governo como 58 mortos. Moradores relatam que dezenas de corpos foram retirados de uma área de mata e apresentavam sinais de tortura e mutilação.