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87% dos moradores do Rio veem guerra urbana, aponta Genial/Quaest

Pesquisa revela medo do tráfico e baixa confiança na capacidade do governo estadual de conter a criminalidade

Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2025 - Moradores protestam contra execuções na comunidade da Vila da Penha, alvo da Operação Contenção. No carro está escrito 'organize seu ódio' (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

247 - Uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest revelou que a população do Rio de Janeiro tem a percepção de viver em uma situação de guerra. Segundo o levantamento, publicado pelo Brasil de Fato, 87% dos entrevistados responderam “sim” à pergunta “o Rio de Janeiro vive uma situação de guerra?”, enquanto 13% discordaram. Não houve indecisos ou falta de resposta. Para 51% dos entrevistados, o cenário de guerra se repete em outras grandes cidades brasileiras.

O estudo ouviu 1,5 mil moradores do estado de forma presencial e domiciliar nos dias 30 e 31 de outubro, com margem de erro de três pontos percentuais. Os resultados foram divulgados na noite de sábado (1º). Felipe Nunes, presidente da Genial/Quaest, comentou em postagem no X: “O carioca acredita que vive uma guerra, mas não tem certeza que sua PM pode defendê-lo apropriadamente”.

O levantamento apontou que 64% dos entrevistados aprovaram a operação policial promovida pelo governador Cláudio Castro (PL) na última terça-feira (28), apesar de 52% afirmarem sentir-se menos seguros. Quando questionados sobre a capacidade do governo estadual em combater o crime organizado sozinho, 62% responderam que não, enquanto 36% disseram que há capacidade e 2% não souberam ou não responderam. O medo de retaliação do tráfico também é elevado: 74% dos entrevistados afirmaram temer represálias, 25% disseram não e 1% não respondeu.

A pesquisa avaliou ainda a percepção sobre quem está mais preparado para um conflito armado contra as facções: 48% apontaram “as forças policiais do estado” e 44% “as facções”. Apesar da insegurança persistente, a aprovação do governo estadual em temas de segurança pública dobrou de agosto a outubro, passando de 22% para 39%. A avaliação geral do governo também subiu de 43% para 53% no mesmo período.

A Operação Contenção, realizada no dia 28 de outubro, mobilizou 2,5 mil agentes de segurança para cumprir mandados de busca e apreensão de integrantes do Comando Vermelho nos Complexos do Alemão e da Penha, zona norte da capital, resultando na morte de 121 pessoas, a maior chacina registrada no país. Na sexta-feira (31), a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) informou ter sido impedida de acompanhar as perícias. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, visitará o Rio de Janeiro nesta segunda-feira (3) para se reunir com o governador Cláudio Castro e solicitar esclarecimentos sobre a operação. Moraes é o responsável pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Favelas, que estabelece medidas para conter a letalidade policial.

O cientista político Paulo Niccoli comentou ao Brasil de Fato sobre os resultados da pesquisa Datafolha, que também indicaram aprovação da população à atuação do governo fluminense: “A primeira questão é que nós temos encravada na sociedade brasileira toda uma cultura da violência, que é herdeira da escravidão, herdeira também de uma normalidade do uso da violência, mesmo no cotidiano, contra as mulheres, contra crianças, contra idosos, contra o cidadão convencional comum que anda pelas cidades e sofre violências”.

Em relação ao governo federal, a pesquisa mostrou estabilidade na avaliação geral, que se manteve em 34%, enquanto 60% dos entrevistados avaliaram negativamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva especificamente na área de segurança pública. Sobre o auxílio do governo federal, 53% afirmaram que não tem ajudado, 24% disseram que ajudou pouco, 14% afirmaram que ajudou muito e 9% não souberam ou não responderam.

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