HOME > Nordeste

Facções expulsaram 219 famílias de suas casas no Ceará, mostra relatório

De acordo com o documento, as famílias são ameaçadas e, em muitos casos, obrigadas a deixar suas casas de um dia para o outro

Criminosos expulsaram todos os moradores de uma vila com cerca de 30 residências em Pacatuba, na Grande Fortaleza (Foto: Reprodução (Verdes Mares))

247 - A Polícia Civil do Ceará apontou que houve 219 casos de "deslocamento forçado" de moradores em todo o Ceará de janeiro de 2024 a setembro de 2025 por ordens de facções criminosas. O relatório é do Núcleo de Inteligência da corporação. Os números estaduais foram divulgados pela TV Verdes Mares.

De acordo com o documento, as famílias são ameaçadas e, em muitos casos, obrigadas a deixar suas casas de um dia para o outro. Investigadores relataram que as vítimas saem "só com a roupa do corpo". São forçadas a deixar pertences e documentos.

A capital Fortaleza é o município com a maior concentração de ocorrências no Ceará, totalizando 143 registros do total. Os bairros mais afetados da cidade são Ancuri (16 registros), José Walter e Vicente Pizon (15), Jangurussu (8), Barra do Ceará e Papicu (7 casos cada), e Canindezinho (6). 

Na região metropolitana, apareceram as seguintes cidades: Maranguape (19 casos de expulsão de moradores de casa), Maracanaú (16) e Caucaia (15). As estatísticas também destacaram o interior do estado, do sertão central ao litoral oeste. Foram registrados casos em Sobral (7), Pacatuba (2), Quixadá (2) e Cascavel (1).

Comando Vermelho

As estatísticas também foram divulgadas em um contexto no qual a ação policial mais letal da história do estado do Rio de Janeiro deixou 121 mortos, na última terça-feira (28), nos complexos da Penha e do Alemão, zona norte do município do Rio.

A operação contra o Comando Vermelho ganhou repercussão nacional. Fundado no Rio de Janeiro na década de 1970, o CV é uma das principais facções criminosas do país, junto com o Primeiro Comando da Capital (PCC), criado em 1993 no estado de São Paulo. O CV possui ramificações em mais de 20 estados brasileiros.

Um estudo intitulado Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil apontou que, em 2022, facções como o CV e o PCC movimentaram cerca de R$ 146,8 bilhões por meio do comércio ilegal de combustíveis, ouro, cigarros e bebidas. No mesmo período, o tráfico de cocaína foi responsável por uma movimentação estimada em R$ 15 bilhões. Os dados foram publicados pelo jornal O Estado de S. Paulo. Assim como o Comando Vermelho, o PCC mantém presença em mais de 20 estados brasileiros.

Uma pesquisa divulgada no ano passado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) em parceria com o Instituto Fogo Cruzado revelou que o Comando Vermelho foi a única facção criminosa a ampliar seu domínio territorial entre 2022 e 2023 na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

O levantamento apontou que o grupo expandiu seu controle em 8,4%, superando as milícias e passando a ocupar 51,9% das áreas sob influência de organizações criminosas na região. Com isso, o Comando Vermelho recuperou 242 quilômetros quadrados (km²) que haviam sido perdidos para as milícias em 2021. Naquele ano, 46,5% das áreas dominadas estavam sob controle das milícias, enquanto 42,9% pertenciam ao CV.

CPI no Congresso

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado será formada por 11 senadores titulares e 7 suplentes. O colegiado aprovou convites para que dois ministros de Estado e 11 governadores prestem esclarecimentos, além de ouvir especialistas em segurança pública e dirigentes de órgãos do setor.

O senador Fabiano Contarato preside a comissão, enquanto a relatoria ficará a cargo do senador Alessandro Vieira (MDB-SE). Também integram o grupo o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e três parlamentares do PL: Márcio Bittar (AC), Flávio Bolsonaro (RJ) e Magno Malta (ES).

Representando o PSD da Bahia, participam os senadores Otto Alencar e Angelo Coronel. O colegiado conta ainda com os senadores Marcos do Val (Podemos-ES), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Rogério Carvalho (PT-SE).

Entre os suplentes estão Jaques Wagner (PT-BA) e Randolfe Rodrigues (PT-AP), além de Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Sergio Moro (União-PR), Eduardo Girão (Novo-CE) e Esperidião Amin (PP-SC).

Ação do governo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a criação de um escritório emergencial voltado ao enfrentamento do crime organizado no Rio de Janeiro. Após reunião no Palácio da Alvorada, Lula determinou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, viajassem ao Rio para se reunir no Palácio da Guanabara com o governador Cláudio Castro e outras autoridades estaduais, a fim de oferecer apoio federal às ações locais.

Segundo Lewandowski, o novo escritório tem como objetivo aprimorar a comunicação entre o governo federal e o estadual, eliminar entraves burocráticos e integrar o trabalho das forças de segurança de ambos os níveis para acelerar a resposta à crise de segurança pública no estado.

A estrutura emergencial contará também com a atuação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), responsável por enfraquecer financeiramente as organizações criminosas por meio de rastreamento de recursos, recuperação de bens e apoio a investigações de lavagem de dinheiro. Além disso, fará parte da iniciativa a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), mecanismo de cooperação criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em parceria com órgãos estaduais e federais de segurança.

Artigos Relacionados