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Lula defende justiça social e multipolaridade ao receber título de Doutor Honoris Causa na Malásia

Em discurso na Universidade Nacional da Malásia, criticou o neoliberalismo e afirmou que a COP-30, em Belém, será a “COP da verdade”

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante recepção oficial oferecida pelo Primeiro-Ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, em homenagem ao Presidente do Brasil. Residência do Primeiro-Ministro – Putrajaya (Malásia) Foto: Ricardo Stuckert / PR (Foto: Ricardo Stuckert)

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira (25) o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia (UKM), em Kuala Lumpur. O discurso, publicado pelo site oficial do Planalto, foi marcado por uma forte defesa da educação como instrumento de emancipação, do papel do Sul Global na construção de um mundo multipolar e da urgência em enfrentar as desigualdades e a crise climática.

Lula iniciou sua fala afirmando ser “uma honra” receber o título de uma instituição que simboliza o compromisso da Malásia com o progresso e a transformação social. “Tenho muito orgulho de ser o presidente que mais criou instituições de ensino técnico e superior, mesmo sem ter diploma universitário. E que abriu as portas das universidades aos filhos das classes trabalhadoras”, afirmou.

O presidente destacou que tanto o Brasil quanto a Malásia compartilham uma trajetória semelhante na luta pela democratização do ensino superior, antes restrito às elites. Ele ressaltou que a educação é essencial para promover justiça social e dignidade. “Hoje, o Brasil projeta um futuro em que o desenvolvimento não se limita ao crescimento da riqueza de poucos”, disse.

Cooperação Sul-Sul e reforma global

Em uma análise sobre o papel do Sul Global, Lula afirmou que Brasil e Malásia “partilham valores fundamentais como a defesa do diálogo, da cooperação, do multilateralismo e da justiça social”. Ele enfatizou a importância da ação solidária entre as nações do Sul e defendeu a reforma das instituições internacionais. “É inaceitável que os países ricos tenham nove vezes mais poder de voto no FMI do que o Sul Global”, criticou.

O presidente também destacou o papel do BRICS na construção de uma nova ordem mundial “menos assimétrica e mais pacífica”. Segundo ele, “a defesa de uma ordem baseada no diálogo, na diplomacia e na igualdade soberana das nações está no cerne da proposta brasileira de reforma das Nações Unidas”.

Crítica ao neoliberalismo e desigualdade

Lula fez duras críticas ao modelo neoliberal e à concentração de riqueza global. “Três mil bilionários ganharam 6,5 trilhões de dólares desde 2015. Essa cifra supera o PIB nominal anual da ASEAN e do Brasil somados”, apontou. Para ele, “não podemos vislumbrar um mundo diferente sem questionar um modelo que aprofunda as desigualdades”.

O presidente também citou a crise ambiental como resultado direto da busca ilimitada por lucro. “Na busca por lucros ilimitados, muitos se esquecem de cuidar do planeta Terra”, alertou, lembrando que as mudanças climáticas podem empurrar mais de 130 milhões de pessoas à extrema pobreza até 2030.

COP-30 e defesa da Amazônia

Lula ressaltou a importância da COP-30, que será realizada em Belém, no coração da Amazônia, e a classificou como “a COP da verdade”. “Será o momento de superar a ganância extrativista e agir com base na ciência”, declarou.

O presidente criticou o descumprimento das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e apresentou a iniciativa do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado na conferência. “Na Amazônia brasileira vivem 30 milhões de pessoas que têm direito a viver com dignidade. Esse fundo irá remunerar os serviços ecossistêmicos prestados ao planeta”, afirmou.

Paz, juventude e solidariedade

Lula também abordou a crise humanitária em Gaza, mencionando a indignação das juventudes universitárias diante da violência. “As comunidades universitárias, em todo o mundo, têm elevado suas vozes contra a brutalidade do genocídio em Gaza e contra a inércia moral que impede até hoje que o Estado Palestino seja criado”, declarou.

O presidente reforçou sua defesa da paz e condenou o militarismo global. “A paz é o valor mais precioso da humanidade. Ela não pode ser comprada com os 2 trilhões e 700 bilhões de dólares que o mundo gasta anualmente com armas”, disse.

Encerramento: a homenagem ao povo brasileiro

Ao concluir, Lula dedicou o título ao povo do Brasil. “Esse diploma não é do Lula. Esse diploma é de 215 milhões de brasileiros”, afirmou, sendo aplaudido pela plateia. Ele ainda expressou o desejo de estreitar os laços entre Brasil e Malásia por meio da educação e do intercâmbio científico.

“Espero que o português do Brasil possa ser ouvido nos corredores da Universidade Nacional da Malásia”, disse. “Eles serão embaixadores da amizade entre nossos povos e formarão um corredor de ideias e inovação.”

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