Trump volta atrás e libera Chevron para retomar produção de petróleo na Venezuela

247 - O governo do presidente Donald Trump decidiu autorizar a petroleira norte-americana Chevron a retomar as operações de extração e exportação de petróleo na Venezuela, revertendo uma decisão anterior de suspender a licença da empresa. 

A autorização vem apenas cinco meses após o próprio governo Trump anunciar a revogação da licença da Chevron sob o argumento de violações de direitos humanos por parte do governo de Nicolás Maduro. Em sua rede social Truth Social, Trump afirmou: "Estamos revertendo as concessões que o desonesto Joe Biden deu a Nicolás Maduro, da Venezuela."

A nova licença, concedida sob condições mais restritas que as anteriores, permite que a Chevron volte a operar em suas joint ventures com a estatal PDVSA, responsáveis por cerca de 25% da produção nacional de petróleo bruto antes da suspensão — o equivalente a aproximadamente 240 mil barris por dia.

Pressão da Chevron e divisões no governo Trump

A decisão é uma vitória significativa para a Chevron, que vinha fazendo forte lobby pela reativação da licença. A empresa argumentava que, com sua saída, China e Rússia aumentariam sua influência na Venezuela e no fornecimento energético para o Ocidente.

O gesto do governo Trump também reflete a falta de coesão interna sobre a política externa para Caracas. De um lado, estão os linha-dura liderados pelo secretário de Estado, Marco Rubio; do outro, o enviado especial do presidente, Richard Grenell, defensor de negociações com o governo venezuelano, especialmente em temas migratórios e energéticos.

Segundo uma fonte próxima às discussões, o novo arranjo é semelhante ao modelo adotado durante o governo Biden, com duração inicial de seis meses e sem renovação automática. Os pagamentos a Caracas ocorrerão em forma de petróleo, não em dinheiro.

Apesar da Chevron ter sido beneficiada, não está claro se outras empresas estrangeiras também terão suas licenças restauradas. Várias delas tiveram autorizações revogadas durante o governo Trump.

Um alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano, que preferiu não se identificar, declarou que os EUA não permitirão que o governo venezuelano obtenha lucros financeiros diretos com a venda de petróleo.

Troca de prisioneiros e cálculo político

A decisão ocorre dias após Washington e Caracas concluírem uma troca de prisioneiros. Dez cidadãos norte-americanos detidos na Venezuela foram libertados, enquanto 250 venezuelanos deportados dos Estados Unidos para El Salvador foram autorizados a retornar ao país. O governo Maduro já utilizou em outras ocasiões cidadãos dos EUA como parte de negociações diplomáticas.

Apesar disso, o Departamento de Estado negou qualquer vínculo direto entre a troca de prisioneiros e a concessão da licença à Chevron.

A mudança de postura também pode estar relacionada ao cenário político interno nos EUA. Especialistas ouvidos pelo FT avaliam que, com a aprovação recente da reforma tributária defendida por Trump — que contou com votos decisivos de congressistas da Flórida, estado com forte presença do eleitorado antichavista —, o presidente viu espaço para aliviar as sanções sem grandes prejuízos políticos.

Kevin Book, diretor administrativo da consultoria ClearView Energy Partners, afirmou: "As sanções à Venezuela podem ter sido o preço de três votos da Flórida em maio, mas o grande e belo projeto de lei de Trump se tornou lei no país em 4 de julho."

Para Michael Shifter, ex-presidente do think tank Inter-American Dialogue, a concessão à Chevron era esperada: "Provavelmente foi ingênuo acreditar que Maduro libertaria reféns americanos sem que a Chevron obtivesse uma licença para reiniciar as operações em troca. Isso marca a mais recente reviravolta na política energética e externa do governo Trump."

Em nota, a Chevron declarou que opera globalmente dentro das leis e normas aplicáveis, incluindo os regimes de sanções dos Estados Unidos. O governo venezuelano não comentou oficialmente a decisão até a publicação da reportagem.

(Com informalçoes da Folha de S. Paulo)