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Trump evita cobrar Xi sobre petróleo russo e fragiliza política de sanções a Moscou

Após encontro com Xi Jinping, presidente dos EUA evita cobrar Pequim por compra de petróleo russo e gera dúvidas sobre firmeza das sanções

Presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping 30/10/2025. (Foto: REUTERS/Evelyn Hockstein)

247 - Durante uma reunião de alto nível com o líder chinês Xi Jinping, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou que não pretende aplicar com rigor as novas sanções impostas a Moscou. A informação foi divulgada pela agência Bloomberg nesta quinta-feira (30). Trump afirmou que não discutiu de forma significativa o tema do petróleo russo com Xi, o que gerou incertezas sobre o comprometimento da Casa Branca com a pressão econômica contra o governo de Vladimir Putin.

De acordo com a Bloomberg, a ausência de uma cobrança direta a Pequim — o maior comprador de petróleo bruto da Rússia — pode enfraquecer o impacto das medidas sancionatórias adotadas na semana passada, que incluíram a inclusão das estatais Rosneft e Lukoil na lista de restrições norte-americanas. “Nós não discutimos muito sobre o petróleo. Conversamos sobre como poderíamos trabalhar juntos para encerrar a guerra”, disse Trump.

Reação internacional e críticas

Especialistas em sanções viram a atitude do presidente dos EUA como um sinal de enfraquecimento da política de pressão a Moscou. “Se Trump não questiona Xi sobre o petróleo russo, toda a narrativa das sanções perde credibilidade”, afirmou Brett Erickson, diretor da consultoria Obsidian Risk Advisors. “As sanções parecem performáticas. Se ele não confrontar Xi sobre o fluxo energético, essa política será um tigre de papel.”

O mercado de petróleo chegou a reagir inicialmente à imposição das sanções, mas a falta de discussão concreta com a China foi interpretada como um gesto de prioridade à estabilidade das relações entre Washington e Pequim — e à busca de um “acordo comercial incrível”, nas palavras do próprio Trump.

Apoio e cautela

Apesar das críticas, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy manifestou otimismo após o encontro. Em mensagem publicada na rede X, ele destacou que as sanções já causaram “perdas significativas” à economia russa e defendeu que a “pressão firme e coerente” poderia privar Moscou de cerca de US$ 50 bilhões por ano. “É importante que a China contribua com os esforços para deter as tentativas da Rússia de prolongar a guerra”, escreveu.

Analistas, no entanto, avaliam que um endurecimento real contra as empresas chinesas que importam petróleo russo poderia provocar fortes retaliações de Pequim. “Dada a quantidade de temas abordados em um curto espaço de tempo, não é surpreendente que o petróleo não tenha sido foco central”, disse Chris Kennedy, analista de geoeconomia da Bloomberg Economics.

Desafio da aplicação das sanções

A China se tornou o principal canal de sustentação da indústria energética russa desde o início da guerra na Ucrânia, ignorando restrições unilaterais impostas pelo Ocidente. Ainda assim, grandes empresas chinesas demonstram receio de sofrer sanções secundárias e perder acesso aos mercados financeiros dos Estados Unidos.

Para que as medidas tenham impacto real, será necessário que Washington amplie a aplicação das penalidades — inclusive contra refinarias, tradings e bancos chineses envolvidos nas transações com Moscou. Mas esse passo traz riscos geopolíticos significativos, já que Pequim poderia responder com medidas econômicas e diplomáticas severas.

O ex-secretário assistente do Tesouro durante o governo Biden, Eric Van Nostrand, resumiu o dilema: “O ponto central será sinalizar ao mercado que os Estados Unidos e seus parceiros estão realmente comprometidos com a aplicação das sanções”.

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