Trump amplia censura em escolas e Sarah McBride denuncia ataque à liberdade acadêmica
Sarah McBride, congressista trans dos EUA, denuncia estratégias de opressão e restrições a conteúdos sobre direitos humanos e justiça social
247 - Nos últimos meses, a administração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou uma ofensiva sem precedentes contra conteúdos relacionados a direitos humanos, justiça social e questões de raça e gênero em instituições educacionais. A medida mais recente, uma ordem executiva assinada em 31 de janeiro de 2025, proíbe o uso de fundos federais em escolas e universidades que abordem temas como "teoria racial crítica" e "ideologia de gênero", classificados como "ideologias anti-americanas". A secretária de Educação, Linda McMahon, foi incumbida de desenvolver uma estratégia para "eliminar a doutrinação" em 90 dias, sob risco de suspensão de financiamento federal.
Essa onda de censura não se limita aos Estados Unidos. No Brasil, uma professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) relatou, em carta aos colegas, a censura imposta ao seu projeto acadêmico financiado pelo Fulbright Specialist Program, renomada iniciativa de intercâmbio internacional. Segundo ela, termos como "direitos humanos", "opressões de gênero, classe e raça", "crise dos princípios democráticos" e "promoção da justiça social" foram explicitamente vetados. "Me sinto negociando uma bolsa com um regime ditatorial", desabafou a docente, comparando a situação à distopia descrita no livro 1984, de George Orwell. Para ela, a interferência ideológica representa não apenas um ataque à liberdade acadêmica, mas uma tentativa de silenciar debates fundamentais sobre igualdade, emancipação social e crises globais
Esse cenário de repressão intelectual ressoa com as palavras de Sarah McBride, congressista trans estadunidense, que, em um discurso recente, destacou a luta histórica contra a opressão e traçou paralelos entre a censura atual e práticas autoritárias do passado. "Eles são obcecados. Nós vivemos de graça em suas mentes", afirmou McBride, referindo-se aos ataques direcionados à comunidade trans. A congressista ressaltou como corpos marginalizados sempre foram alvos de controle e subordinação, traçando um paralelo com a era Jim Crow (1877–1964), quando mulheres negras eram sistematicamente excluídas de espaços públicos e privadas de direitos fundamentais.
A obsessão por controlar identidades e narrativas, segundo McBride, não é nova. Práticas como a queima de livros e a supressão de conteúdos desconfortáveis para as elites dominantes foram comuns em regimes autoritários ao longo da história. Hoje, essas táticas se manifestam de formas mais sutis, mas igualmente danosas, como cortes orçamentários em programas educacionais e a proibição de narrativas que desafiem o status quo.
McBride, que assumiu o cargo no Congresso em um momento de "incerteza e medo", enfatiza que o combate às injustiças exige mais do que força bruta. "Temos que lutar com inteligência", disse ela, citando figuras históricas como Rosa Parks, cuja recusa em ceder seu assento em um ônibus segregado foi um ato estratégico de resistência. Para a congressista, a luta deve ser tanto simbólica quanto pragmática.
A instrumentalização de minorias como peças em um jogo político maior também foi destacada por McBride. Ela alertou que a administração Trump está "usando pessoas trans como peões em seu esforço mais amplo para estripar o governo federal a fim de encher os bolsos dos melhores amigos de Donald Trump". Esse movimento, segundo ela, remete à segregação racial, quando a divisão entre brancos e negros foi amplificada para proteger interesses econômicos e sociais de uma minoria poderosa.
Apesar dos desafios, McBride se recusa a ser uma vítima. "Eu me recuso a dar a eles esse poder", afirmou com convicção. Sua postura evoca a memória de mulheres como Ida B. Wells, que enfrentaram a opressão para desafiar o status quo e lutar por justiça. Hoje, a comunidade trans enfrenta desafios cada vez maiores, desde a retirada de recursos federais até a criminalização de cuidados médicos. Mas, como destacou a ativista Erika Hilton, a luta pela visibilidade e dignidade é parte de uma batalha mais ampla por um mundo mais justo e inclusivo.
"Eu me recuso a ser usada por eles", declarou McBride, encapsulando uma verdade universal: a resistência não é apenas sobre sobreviver às adversidades, mas sobre "reivindicar o direito de existir plenamente", como afirmou Cris Stefanny, ex-presidenta da ANTRA. Em tempos de incerteza, as palavras de Sarah McBride servem como um chamado à ação. "Lutar mais forte não basta. Precisamos lutar com inteligência – e juntos", concluiu a congressista, reforçando a importância da união e da estratégia na luta por um futuro melhor.
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