Saiba os bastidores do encontro entre Trump e Lula na ONU
Cumprimento de segundos, elogios públicos e expectativa de reunião marcam primeiro contato entre os presidentes do Brasil e dos EUA
247 - O primeiro encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump foi breve, mas já movimentou a diplomacia, os mercados e a política internacional. O episódio ocorreu nesta terça-feira (23) nos bastidores da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e abriu caminho para uma possível reunião bilateral na próxima semana.
Encontro inesperado
Segundo relatos de diplomatas brasileiros, o cruzamento aconteceu de forma não planejada. Lula havia acabado de deixar a plenária, após fazer o tradicional discurso de abertura da Assembleia, quando se dirigiu à sala reservada aos chefes de Estado. Trump, escalado para falar em seguida, já estava no local e tomou a iniciativa de cumprimentar o presidente brasileiro.
Fontes ouvidas pela agência Reuters relataram que o encontro durou cerca de 20 segundos, tempo suficiente para um aperto de mãos e uma rápida troca de palavras, traduzida pelo chefe de cerimonial da Presidência, Fernando Igreja. Trump comentou que os dois “precisavam conversar”, ao que Lula respondeu estar sempre aberto ao diálogo. Em seguida, o republicano sugeriu uma reunião na semana seguinte, proposta aceita pelo brasileiro.
Elogios em meio às tarifas
Minutos depois, já no púlpito da ONU, Trump revelou o encontro, descrevendo Lula como um “homem muito agradável” e elogiando a “excelente química” entre os dois.
“Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu e nos cumprimentamos. Na verdade, combinamos de nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, apenas uns 20 segundos. Tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na próxima semana, se houver interesse”, disse.
“Eu gostei dele. E eu só faço negócios com quem eu gosto. Se eu não gosto, eu não gosto. Mas pelo menos por cerca de 39 segundos tivemos uma excelente química. É um bom sinal.”
O gesto surpreendeu pela cordialidade, já que os dois países atravessam semanas de tensão. Trump impôs tarifas de 50% a produtos brasileiros como forma de pressionar Brasília durante o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado.
Mesmo assim, em entrevista à GloboNews, a porta-voz do Departamento de Estado Amanda Roberson reforçou que a política tarifária é também uma “oportunidade para negociar” novos acordos.
Clima de cautela no Itamaraty
O governo brasileiro confirmou a possibilidade de um encontro, mas evita cravar data ou formato. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que a conversa pode ocorrer por telefone ou videoconferência, caso a agenda de Lula não permita uma reunião presencial.
Vieira ressaltou que, embora o Brasil esteja aberto a discutir tarifas, “a soberania e a independência dos poderes não são negociáveis”, ecoando a fala de Lula em seu discurso, no qual criticou “medidas unilaterais e arbitrárias” contra as instituições brasileiras.
Impacto imediato
A simples notícia de uma eventual aproximação teve reflexo imediato nos mercados: o real se valorizou cerca de 1% frente ao dólar, e o Ibovespa subiu mais de 1%, renovando máximas históricas.


