"O poder espiritual importa": China revisita legado de sua resistência contra a agressão japonesa
Filmes e artigos resgatam episódios de "bravura e união" que marcaram a luta chinesa contra o Japão entre 1931 e 1945
247 - Neste ano, a China celebra o 80º aniversário do fim da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da vitória mundial contra o fascismo. O período, que se estendeu de 1931 a 1945, marcou profundamente o país: mais de 35 milhões de civis e militares perderam a vida.
A resistência chinesa foi crucial para o desfecho da Segunda Guerra Mundial e para a derrota das potências do Eixo, e foi revisitada recentemente no filme "Dead to Rights" — que conta histórias sobre o famoso Massacre de Nanquim e vem atingindo picos de bilheteria no gigante asiático nas últimas semanas — e em artigos da mídia do país, homenageando episódios emblemáticos.
Quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia em setembro de 1939, a China já lutava contra o expansionismo japonês havia oito anos. O conflito começou em 1931, com o chamado “Incidente de 18 de Setembro”, quando o Exército japonês encenou um ataque falso em Shenyang, no nordeste do país, para justificar a ocupação da região.
Mesmo diante da política oficial de “não resistência” adotada pelo governo do Kuomintang (KMT), liderado por Chiang Kai-shek, figuras como o general Ma Zhanshan desafiaram a ordem e comandaram batalhas heroicas, como a da ponte sobre o rio Nen, em Heilongjiang, em novembro de 1931. Sua coragem inspirou voluntários e deu origem a exércitos populares que continuaram a combater a ocupação japonesa.
Um dos episódios mais lembrados é a Batalha de Xifengkou, em 1933, quando 500 soldados chineses — armados principalmente com espadas largas — atacaram de surpresa um acampamento japonês, matando mais de 700 inimigos. Apenas 23 combatentes sobreviveram, mas a ação forçou o recuo japonês e foi considerada um marco moral na resistência.
Com o agravamento da ameaça, o Partido Comunista da China (PCC) e o KMT, historicamente rivais, formaram uma frente unida em 1937, após a mediação de Zhou Enlai no chamado “Incidente de Xi’an”. A partir daí, a guerra de resistência tornou-se nacional, com batalhas de grande escala conduzidas pelo KMT e ações de guerrilha lideradas pelo PCC em áreas ocupadas.
A Batalha de Changsha, na região central do país, entre 1939 e 1942, foi outro capítulo de destaque no qual forças chinesas repeliram três ofensivas japonesas, causando mais de 110 mil baixas ao inimigo. A população local teve papel decisivo, destruindo estradas e fornecendo apoio logístico e inteligência. Estima-se que um milhão de civis tenham colaborado com as forças chinesas nessas batalhas.
Casos de resistência até o último suspiro também marcaram a memória nacional. Em 1940, o comandante Yang Jingyu continuou a lutar sozinho durante cinco dias após perder todos os companheiros. Morto em combate, foi encontrado com o estômago vazio, contendo apenas casca de árvore, algodão e raízes.
A persistência chinesa obrigou o Japão a manter mais de 1 milhão de soldados no território chinês durante a Segunda Guerra Mundial, enfraquecendo sua capacidade de lutar contra outras potências, como os Estados Unidos.
Para o comentarista Ding Heng, em artigo publicado nesta sexta-feira (15) no site da tv estatal CGTN, o espírito de bravura, unidade e perseverança que levou à vitória há oito décadas continua presente na China contemporânea, guiando o país na busca por seu rejuvenescimento nacional. "Olhando para trás, a China tem muitos motivos para se orgulhar de si mesma. O poder espiritual importa", resumiu o articulista.