Milhares de franceses protestam nas ruas contra cortes de gastos
Os sindicatos lutam para manter a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron e seu novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu
Por Alessandro Parodi e Stéphane Mahe
PARIS (Reuters) - Dezenas de milhares de manifestantes marcharam pelas cidades francesas nesta quinta-feira, atendendo ao chamado dos sindicatos, que exigem ações contra os planos de cortes drásticos de gastos no Orçamento do ano que vem.
Os sindicatos lutam para manter a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron e seu novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, que está correndo contra o cronograma parlamentar para quebrar o impasse nas negociações orçamentárias com rivais políticos.
Macron e Lecornu, que ainda está trabalhando para formar um gabinete, precisam controlar as finanças públicas da segunda maior economia da zona do euro. Seus pares na União Europeia, as agências de classificação de risco e os mercados financeiros estão observando seus próximos movimentos.
Mas os líderes sindicais, incluindo os do maior sindicato da França, o CFDT, e da linha dura CGT, estão defendendo mais gastos nos serviços públicos, uma reversão do aumento da idade de aposentadoria e impostos mais altos para os ricos.
"Precisamos... acabar de vez com todos os sacrifícios exigidos dos trabalhadores, conforme estabelecido na (última) proposta de Orçamento", disse a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, à BFM TV.
O último primeiro-ministro de Macron, François Bayrou, foi deposto pelo parlamento devido a um corte orçamentário planejado de 44 bilhões de euros. Lecornu prometeu uma pausa nesses planos.
MENOR PARTICIPAÇÃO
Cerca de 85.000 pessoas protestaram em todo o país até o meio-dia, informou o Ministério do Interior -- menos da metade do comparecimento relatado no mesmo horário em um dia de greves e protestos, em setembro.
"Precisamos continuar a luta, mesmo que claramente não sejamos muitos", disse o operário da construção civil Dominique Menier, de 59 anos, que participou do protesto em Nantes. "Custa-nos um dia cada vez. Mas é assim que a democracia normalmente avança."
Protestos foram programados em mais de 240 locais na França, disse o sindicato CGT, incluindo Dijon, Metz, Poitiers e Montpellier.
Estudantes carregando sinalizadores bloquearam a entrada de uma escola secundária em Paris, e algumas escolas em outras partes do país também foram bloqueadas.
Cerca de 76.000 policiais foram mobilizados para manter a ordem.
DÉFICIT PERTO DO DOBRO DO TETO DA UE
O governo francês enfrentou protestos e greves em setembro, quando centenas de milhares de pessoas, incluindo professores, maquinistas, farmacêuticos e funcionários de hospitais, protestaram contra o Orçamento proposto para 2026. Na ocasião, adolescentes bloquearam por horas dezenas de escolas de ensino médio.
O déficit orçamentário da França no ano passado foi quase o dobro do teto de 3% da UE. Lecornu enfrenta uma batalha para angariar apoio parlamentar para o Orçamento de 2026, precisando da centro-direita em seu campo, ao mesmo tempo em que oferece algo aos socialistas e a seus eleitores.
Os partidos concordam amplamente sobre a necessidade de reduzir o déficit, que atingiu 5,8% do PIB em 2024, mas não sobre como fazer isso.
Lecornu, o quinto primeiro-ministro de Macron em dois anos, prometeu um Orçamento que proporcione mais "justiça fiscal". Ele descartou um imposto sobre a riqueza, mas disse que a distribuição da carga tributária deveria ser revertida.
Alexandra Thomas, uma trabalhadora aeroespacial de 53 anos que participou do protesto em Nantes, expressou ceticismo de que Lecornu seja diferente dos primeiros-ministros anteriores de Macron.
"O único medo que tenho é que tenhamos uma pessoa diferente, mas que continuemos com as mesmas políticas", disse.