Impasse comercial sobre minerais raros persiste entre EUA e China apesar de trégua tarifária; indústria teme desabastecimento
Mesmo com suspensão temporária de tarifas, exportadores alertam para gargalos nas cadeias globais devido ao controle chinês sobre minerais estratégicos
247 - A recente trégua comercial de 90 dias firmada entre Pequim e Washington trouxe algum alívio para empresas que operam em ambos os lados do Pacífico. No entanto, a suspensão temporária de tarifas não foi suficiente para resolver um dos principais entraves da disputa: o controle rigoroso da China sobre a exportação de minerais raros — insumos fundamentais para indústrias de tecnologia, veículos elétricos e defesa. As informações são do South China Morning Post.
Apesar do clima de distensão após as negociações realizadas em Genebra, o governo chinês manteve os rígidos controles sobre a exportação desses elementos, sobre os quais detém quase monopólio global, tanto na produção quanto na capacidade de refino. Empresas norte-americanas instaladas na China relatam incertezas e dificuldades operacionais, que podem resultar em prejuízos milionários.
Indústria teme desabastecimento e prejuízos em cascata
Em documentos internos aos quais a reportagem teve acesso, uma companhia dos EUA — que fabrica equipamentos de áudio para “aplicações comerciais não sensíveis” — alertou sobre os riscos de paralisação em suas linhas de montagem na Europa e na América Latina, devido à demora para obter autorizações de exportação dos ímãs que contêm traços desses minerais.
“Atrasos nas aprovações de exportação interromperiam nossa produção e afetariam negativamente os cronogramas de produção dos fabricantes de veículos ao longo da cadeia, incluindo potenciais paralisações de produção”, declarou a empresa, que teve sua identidade preservada por razões de confidencialidade. Atualmente, o tempo mínimo para obter uma autorização é de 45 dias úteis. Além disso, as autoridades alfandegárias da China exigem uma “carta de garantia” atestando que o produto não contém elementos sob controle.
A mesma empresa advertiu que o prolongamento do impasse poderá causar “implicações financeiras catastróficas, incluindo grave colapso de receitas e interrupções em cascata na cadeia de abastecimento”.
China mantém vantagem estratégica e dificulta concessões
Embora o Ministério do Comércio da China tenha retirado 28 companhias norte-americanas de sua lista negra em resposta ao acordo, nenhuma sinalização concreta foi feita sobre a flexibilização das restrições aos minerais raros. A porta-voz He Yongqian se recusou a comentar o assunto em coletiva de imprensa na quinta-feira.
O controle desses insumos é visto como uma das principais armas estratégicas de Pequim nas disputas comerciais. Enquanto os Estados Unidos possuem reservas consideráveis desses minerais, ainda dependem fortemente da China para seu refino, processo complexo e intensivo em tecnologia.
Em abril, o governo chinês impôs novas restrições como resposta às tarifas “recíprocas” impostas pelo presidente Donald Trump. A medida teve impactos imediatos sobre cadeias produtivas sensíveis. O próprio CEO da Tesla, Elon Musk, afirmou durante teleconferência com investidores em 22 de abril que “a questão dos ímãs da China afetou o robô Optimus, porque os atuadores dos braços usam ímãs permanentes” e acrescentou: “obviamente não são para fins militares”.
Processos morosos e soluções improvisadas
Desde a imposição das restrições, a fabricante norte-americana mencionada no relatório enviou representantes à China para acompanhar o processo de licenciamento e recorreu ao governo dos EUA para intermediar com o Ministério do Comércio chinês a criação de um padrão de isenção com base em limite de concentração, a fim de evitar novas paralisações.
Apesar de algumas licenças terem sido concedidas — incluindo para fornecedores da Volkswagen — a consultoria Trivium China alertou que o mercado interpretou mal o gesto. Segundo boletim da empresa, os documentos foram aprovados antes da trégua e valem apenas para clientes da Europa e do Vietnã, sem relação direta com o novo acordo entre EUA e China.
A empresa americana relatou que um de seus fornecedores em Pequim obteve licença para um único envio, solicitado no início de abril. “Pelo menos sabemos que [o Ministério do Comércio] está aceitando o pedido de licença e está conduzindo o processo de análise”, diz trecho do documento.
No entanto, uma fonte ligada à companhia advertiu que a complexidade e as limitações do processo tornam as aprovações lentas e insuficientes. “O desafio é que cada aprovação de licença se limita ao nível de remessa por lote”, disse. “[Tivemos] dezenas de lotes apenas nas últimas duas semanas”, revelou.
Restrições levam a manobras arriscadas
Diante da escassez, fornecedores buscaram rotas alternativas para manter a produção em andamento. Uma remessa enviada por via aérea conseguiu passar pela alfândega mesmo sem licença. Já um carregamento marítimo foi barrado e submetido a testes laboratoriais, revelando a presença de minerais sob controle, o que fez com que o fornecedor suspendesse novas tentativas. O resultado da análise oficial ainda é aguardado.
O governo chinês, por sua vez, reforçou sua ofensiva contra o contrabando de minerais estratégicos. No dia 9 de maio, diversos órgãos estatais anunciaram um plano conjunto para endurecer a fiscalização. Três dias depois, uma reunião entre o governo central e províncias com grandes reservas minerais definiu medidas para fortalecer o controle em toda a cadeia de exportação, segundo informou a agência Xinhua.
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