Ex-chefe do exército israelense admite desprezo por leis internacionais em ataques a Gaza
Herzi Halevi revelou ao The Guardian que não enfrentou restrições legais durante ofensiva militar que deixou dezenas de milhares de mortos em Gaza
247 - O jornal britânico The Guardian revelou nesta sexta-feira (13) declarações impactantes do ex-chefe do Estado-Maior do Exército israelense, Herzi Halevi, sobre a guerra em Gaza. Em entrevista, Halevi admitiu que as forças armadas atuaram sem qualquer consideração pelo direito internacional ao longo da ofensiva que já dura quase dois anos. As informações foram repercutidas pelo portal Hispantv.
“Esta não é uma guerra branda. Fomos firmes desde o primeiro minuto”, afirmou Halevi, que renunciou ao posto em março deste ano, após liderar o exército israelense nos primeiros 17 meses da operação. “Ninguém me restringiu nem uma vez. Nem uma vez”, acrescentou, destacando que nem mesmo a procuradora-geral militar, Yifat Tomer-Yerushalmi, teve autoridade para impor limites às ações.
Contradição com discurso oficial
As declarações de Halevi entram em choque com o discurso oficial de Israel, que insiste em dizer que seus ataques estão “em conformidade” com as normas internacionais. O general apontou que as ações militares seguiram adiante mesmo diante de pareceres contrários dentro da estrutura jurídica das forças armadas.
Segundo Halevi, os bombardeios e operações já resultaram em mais de 200 mil mortos e feridos entre os palestinos, número próximo ao divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza. Dados recentes do órgão local informam que ao menos 64.756 palestinos perderam a vida, a maioria mulheres e crianças, e milhares permanecem desaparecidos sob os escombros.
Impacto humanitário devastador
O bloqueio quase total imposto por Israel ao enclave contribuiu para agravar a crise humanitária, deixando a população em situação de fome generalizada. Relatórios da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) apontam que 100% dos habitantes de Gaza enfrentam algum grau de desnutrição.
Vazamentos de informações militares, por sua vez, sugerem que mais de 80% das vítimas são civis — em contradição com a narrativa israelense de que as operações buscam poupar não combatentes.
A lógica da agressão
Em outro trecho de suas falas, Halevi deixou claro que a estratégia do regime é agir primeiro e justificar depois: “Saberemos como defender isso legalmente diante do mundo, e isso é muito importante”. Para o advogado de direitos humanos Michael Sfard, tais declarações evidenciam que os conselheiros jurídicos do exército atuaram como simples “carimbos” para legitimar decisões já tomadas.
Escalada em Gaza
A cidade de Gaza, a maior da Faixa, tornou-se o epicentro da ofensiva mais intensa até o momento. Dezenas de torres residenciais foram demolidas após ordens de evacuação de última hora, em uma estratégia que, segundo a Anistia Internacional, configura-se como “ilegal e desumana”.
O atual chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, teria ignorado conselhos para retardar operações de deslocamento em massa, seguindo a mesma linha de ação de seu antecessor. A ofensiva busca submeter toda a cidade, onde vivem cerca de um milhão de pessoas, à ocupação israelense, seja pelo extermínio, seja pelo deslocamento forçado.
As revelações de Halevi reforçam acusações internacionais de que Israel conduz uma campanha de genocídio contra os palestinos, desconsiderando tratados e convenções globais de proteção de civis em zonas de conflito.