EUA: Kilmar Abrego Garcia volta a ser preso pelo ICE e pode ser deportado para Uganda
Imigrante salvadorenho, símbolo da luta contra deportações nos EUA, enfrenta ameaça de remoção a país sem vínculos pessoais ou familiares
247 - O salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, imigrante que se tornou símbolo da repressão migratória nos Estados Unidos, foi novamente detido por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE). A prisão ocorreu em Baltimore, Maryland, menos de 72 horas depois de um juiz federal do Tennessee tê-lo liberado para aguardar julgamento em casa.
Segundo a Bloomberg, o governo do presidente Donald Trump, atual chefe de Estado norte-americano, pretende deportar Abrego Garcia para Uganda — país com o qual ele não tem qualquer relação. O advogado Sean Hecker informou que Costa Rica já se dispôs a aceitá-lo como refugiado, mas as autoridades norte-americanas recusam essa alternativa. “Nosso cliente, um homem de coragem notável, apresentou-se ao ICE nesta manhã, como era obrigado a fazer. Ele foi imediatamente detido”, afirmou Hecker.
Disputa judicial e perseguição política
Abrego Garcia é casado com uma cidadã americana e mora em Maryland. Ele ficou conhecido após ter sido deportado por engano para uma prisão em El Salvador, fato que motivou uma batalha judicial até a Suprema Corte dos EUA determinar seu retorno. Desde então, tornou-se alvo prioritário da ofensiva migratória da administração Trump.
O governo condicionou sua liberdade à aceitação de um acordo: confessar-se culpado por suposto tráfico de pessoas em troca da deportação para Costa Rica. Como recusou, foi ameaçado de remoção para Uganda. Hecker classificou a medida como uma punição política. “O governo agora busca deportá-lo para Uganda como castigo, apesar de a Costa Rica estar disposta a recebê-lo”, disse o advogado.
A retórica da Casa Branca
Trump celebrou a prisão em um ato na Casa Branca ao lado da procuradora-geral Pam Bondi, do vice-presidente JD Vance e de outros integrantes do gabinete. “Os tribunais liberais são os culpados por decisões anteriores que favoreceram Abrego Garcia. Ele é um animal”, declarou o presidente. Bondi reforçou: “Ele não aterrorizará mais o nosso país. Está acusado de tráfico humano, inclusive de crianças. Esse homem precisa estar na prisão”.
A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, publicou em rede social que Abrego Garcia seria “processado para remoção a Uganda”. Em tom agressivo, acrescentou: “O presidente Trump não permitirá que este estrangeiro ilegal, membro da MS-13, traficante de pessoas, agressor doméstico e predador de crianças continue a aterrorizar cidadãos americanos”.
Abrego nega todas essas acusações e afirma ser vítima de difamação para justificar sua perseguição. Seus advogados sustentam que os processos têm caráter de retaliação por ele ter exposto erros graves da política migratória de Washington.
Reação de movimentos sociais
Organizações de defesa de imigrantes denunciam que Abrego Garcia se tornou um “exemplo” fabricado para intimidar estrangeiros que desafiem a política de deportações em massa. “Kilmar está sendo transformado em mártir por ter tido a coragem de enfrentar as práticas ilegais de deportação deste governo”, declarou Lydia Walther-Rodriguez, da entidade CASA, que acompanha sua família.
A nova ação judicial, apresentada nesta segunda-feira em Maryland, busca impedir a remoção para Uganda antes que Abrego tenha a chance de expor formalmente o risco de perseguição e tortura naquele país. Sua defesa também exige que, caso não seja libertado, ele permaneça detido em raio de até 200 milhas do tribunal responsável pelo caso.
Disputa aberta nos tribunais
O caso agora está nas mãos da juíza federal Paula Xinis, a mesma que em julho havia proibido o ICE de detê-lo no Tennessee enquanto aguardava julgamento. A decisão, no entanto, não impedia sua prisão em Maryland.