“Eu sou o único capaz de derrubá-lo”, escreveu Epstein sobre Trump
Mensagens divulgadas pelo Congresso dos EUA mostram que Epstein alegava ter poder para comprometer o atual presidente Donald Trump
247 - Mensagens divulgadas pelo Congresso dos Estados Unidos nesta quarta-feira (13) expuseram trechos de e-mails em que o bilionário Jeffrey Epstein afirmava ser o único capaz de comprometer politicamente Donald Trump, atual presidente dos EUA. O conteúdo veio a público por meio de documentos oficiais publicados nesta semana.
Segundo a reportagem original do G1, que revelou os detalhes da correspondência, a troca ocorreu em dezembro de 2018, quando um interlocutor não identificado comentou que setores tentavam derrubar Trump. Epstein respondeu de forma direta: “Sim, obrigado. Isso é muito louco. Eu sou o único capaz de derrubá-lo (Trump)”. Àquela altura, o bilionário já era alvo de um cerco crescente da Justiça norte-americana.
Epstein e Trump foram próximos durante cerca de duas décadas, mas se afastaram nos anos 2000. A tensão se aprofundou após reportagens do Miami Herald revelarem que um secretário do governo Trump havia assinado o acordo extrajudicial que livrou Epstein de punição severa em um processo por abuso de menores dez anos antes. Em resposta, o Departamento de Justiça abriu uma investigação criminal contra o empresário.
Novos e-mails ampliam suspeitas sobre relação entre os dois
Embora grande parte das mensagens reveladas nesta semana seja trivial, o New York Times destacou trechos considerados mais relevantes. Em 2015, ao comentar a economia dos EUA, Epstein afirmou que “Trump está amedrontando os mercados, não a China”, quando o então empresário anunciava sua pretensão de concorrer à Presidência.
Entre os arquivos tornados públicos pelo Congresso, há um e-mail de janeiro de 2019 no qual Epstein escreveu que Trump “sabia sobre as garotas”. Outra mensagem enviada a Ghislaine Maxwell, em abril de 2018, traz a frase: “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump”, seguida da afirmação de que uma das vítimas passou “horas” com o atual presidente em sua casa, sem jamais ter sido mencionada publicamente.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, rebateu as acusações e afirmou que os documentos foram divulgados pelos democratas com o objetivo de atacar Trump, insistindo que o presidente “não fez nada de errado”.
A rede de abusos mantida por Epstein
Antes de sua prisão, Epstein mantinha relações com figuras influentes da política, das finanças e do entretenimento. Ele foi acusado de explorar sexualmente mais de 250 meninas menores de idade, recrutadas para encontros em seus imóveis no Caribe, em Nova York, na Flórida e no Novo México.
As primeiras denúncias surgiram em 2005, e o bilionário chegou a assinar um acordo em 2008 que lhe garantiu apenas 13 meses de prisão. Em 2019, após nova investigação, Epstein foi detido novamente, acusado de operar uma rede internacional de exploração sexual. Um mês depois, morreu em sua cela, em Nova York, em um caso classificado como suicídio pelas autoridades.
O que há de comprovado sobre Trump no caso Epstein
Donald Trump, atual presidente dos EUA, afirma ter se afastado de Epstein assim que surgiram as denúncias de abuso. Nunca houve investigação formal contra ele no âmbito do caso, e documentos oficiais não apontam ilegalidades cometidas pelo republicano.
Em agosto, parlamentares democratas divulgaram uma suposta carta com o desenho de uma mulher nua atribuída a Trump e enviada a Epstein em 2003. A Casa Branca alegou que o material é falso. Os registros públicos também indicam viagens com a presença de Trump e familiares nos anos 1990, nas quais constam anotações com as iniciais “JE”, atribuídas a Epstein, sem menção a irregularidades.
Pressão política cresce após divulgação dos novos arquivos
A publicação dos e-mails reacendeu pressões para que Trump libere todo o acervo de documentos relacionados ao caso. Durante a campanha de 2024, ele prometeu torná-los públicos, mas, após assumir o mandato, mudou o discurso, chamando rumores sobre uma suposta “lista de clientes” de Epstein de “farsa”, “bobagem” e dizendo que apenas “idiotas” ainda davam atenção ao tema.
Apesar disso, a Câmara dos Deputados reuniu apoio suficiente nesta quarta-feira (13) para votar uma moção que obriga o governo a divulgar todos os arquivos da investigação — iniciativa que conta inclusive com republicanos e pode gerar desgaste político mesmo se for barrada pelo Senado ou vetada por Trump.
A pressão aumentou após o Wall Street Journal revelar que o Departamento de Justiça teria informado o presidente, em maio, que seu nome figurava nos documentos de Epstein, informação que a Casa Branca classificou como “fake news”.



