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Empresas dos EUA cortam 32 mil vagas após revisão da ADP

Relatório aponta queda inesperada no emprego privado em setembro e levanta dúvidas sobre a consistência dos dados da ADP

Pessoas esperam na fila para entrar em feira de empregos (Foto: Reuters/Shannon Stapleton)

247 - As contratações no setor privado dos Estados Unidos registraram queda inesperada em setembro, com eliminação de 32 mil postos de trabalho, de acordo com relatório da ADP Research divulgado nesta quarta-feira (1º). O dado revisa para baixo o resultado do mês anterior, que já havia mostrado recuo de 3 mil vagas.

Segundo a Bloomberg, a revisão foi fruto de um ajuste metodológico da ADP, que periodicamente calibra seus números com base na série do Bureau of Labor Statistics (BLS), responsável pelas estatísticas oficiais do mercado de trabalho. Essa atualização resultou em uma redução de 43 mil empregos em setembro em comparação com os dados pré-ajustados.

Dúvidas sobre a confiabilidade dos dados

A divulgação chamou atenção por contrariar as expectativas de economistas consultados pela Bloomberg, que previam expansão, e por reforçar a cautela do mercado em relação aos números da ADP. A consultoria Morgan Stanley, em nota assinada pelo economista Michael Gapen, afirmou: “Estamos relutantes em confiar nos dados da ADP. O novo reprocessamento aumenta as incertezas”.

O método utilizado pela ADP para aplicar a reponderação foi classificado como “opaco” por analistas, já que o último relatório do BLS incluiu um volume atípico de valores ausentes ou suprimidos em certos setores, o que obrigou a empresa a usar uma granularidade menor na comparação histórica.

Tendência de enfraquecimento no mercado

Nela Richardson, economista-chefe da ADP, destacou que a desaceleração no ritmo de contratações confirma o comportamento já observado nos últimos meses. “Apesar do crescimento econômico robusto no segundo trimestre, esta divulgação reforça o que temos visto no mercado de trabalho: os empregadores norte-americanos estão cautelosos em contratar”, afirmou.

A queda se concentrou em setores como lazer e hospitalidade, serviços empresariais, atividades financeiras, além de áreas ligadas à produção de bens, como construção e manufatura. Educação e saúde foram exceções, com aumento de pessoal. Regionalmente, apenas o Meio-Oeste apresentou retração relevante, principalmente em companhias com menos de 500 empregados.

Impactos econômicos e reação do mercado

A incerteza sobre o ritmo de criação de vagas ocorre em um momento sensível para a política monetária norte-americana. O Federal Reserve reduziu os juros no mês passado diante da fraqueza no mercado de trabalho, mas membros do banco central ainda demonstram preocupação com a persistência da inflação. A ausência do relatório oficial de empregos de setembro — adiado devido à paralisação do governo — amplia a dificuldade para definir os próximos passos da política de juros.

O mercado financeiro reagiu com queda nos rendimentos dos Treasuries e baixa no índice S&P 500. Já os salários mostraram arrefecimento: trabalhadores que trocaram de emprego tiveram ganho médio de 6,6% em setembro, o menor em um ano, enquanto aqueles que permaneceram no mesmo posto registraram alta de 4,5%.

Veronica Clark, economista do Citigroup, alertou para os riscos da atual conjuntura: “Este ainda é um ambiente de contratações muito baixo, o que significa que o crescimento mensal de empregos vai desacelerar e há risco de demissões”.

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