HOME > Mundo

Cidades dos EUA pressionam a Fifa por custos bilionários da Copa do Mundo de 2026

Governos locais questionam repasse de despesas e ameaçam reduzir festas para torcedores

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da FIFA, Gianni Infantino, na Casa Branca em Washington, D.C., EUA, em 6 de maio de 2025 (Foto: REUTERS/Kent Nishimura)

247 - A Copa do Mundo de 2026, celebrada pelo presidente Donald Trump como uma oportunidade única de mostrar os Estados Unidos ao mundo, já provoca tensão nas cidades-sede do torneio, que alertam para a escalada dos gastos públicos e para a falta de apoio financeiro da Fifa. A reportagem é do portal Politico.

Segundo o Politico, os comitês organizadores locais – entidades privadas criadas para viabilizar o evento – enfrentam restrições impostas pela Fifa para levantar recursos próprios, ao mesmo tempo em que arcam com despesas que podem ultrapassar US$ 150 milhões por cidade. Apesar da aprovação de US$ 625 milhões pelo Congresso para segurança, os gastos com transporte, infraestrutura e festas populares recaem sobre estados e municípios. “Há algum recurso entrando, mas certamente não é suficiente para cobrir nosso custo”, afirmou Lisa Gillmor, prefeita de Santa Clara, na Califórnia, cidade que sediará seis partidas.

Estados recorrem a fundos e impostos extras

Para enfrentar o déficit, governos estaduais e municipais buscam alternativas. Houston e Dallas acionaram o fundo de reembolso para grandes eventos do Texas, enquanto Kansas City avalia criar um novo imposto sobre hotéis. Já a governadora de Massachusetts, Maura Healey, solicitou US$ 20 milhões extras para atender “às necessidades da Fifa”.

Mesmo assim, várias cidades começaram a cortar gastos, sobretudo com os tradicionais FanFest, festas públicas com telões para torcedores sem ingresso. Diferente do Canadá e do México, onde todas as cidades confirmaram a realização integral dos eventos durante os 39 dias de competição, menos da metade das sedes norte-americanas garantiu a programação completa. Los Angeles cogita organizar eventos paralelos sem o selo da Fifa, o que levou a federação a ameaçar barrar licenças de exibição pública.

Desigualdade estrutural com a Fifa

A disputa expõe o desequilíbrio nas relações entre a federação e as cidades-sede. A Fifa concentra as principais receitas – patrocínios globais, venda de ingressos, direitos de transmissão e publicidade nos estádios – enquanto os organizadores locais assumem despesas de segurança, transporte e entretenimento gratuito para multidões.

Em reunião com os comitês, o diretor da Força-Tarefa da Casa Branca para a Copa, Andrew Giuliani, deixou claro que o governo federal não pretende ampliar os repasses além da segurança. “Esse é obviamente um problema econômico. Os contribuintes não podem bancar tudo”, disse.

Disputas milionárias e restrições comerciais

O modelo de organização descentralizada adotado nos EUA difere do centralizado de 1994, quando a Copa gerou superávit de US$ 50 milhões. Agora, cada cidade negocia individualmente com a federação. O comitê da região da Baía de São Francisco, por exemplo, aceitou investir US$ 25 milhões em adaptações no Levi’s Stadium. Em Los Angeles, o bilionário Stan Kroenke, dono do SoFi Stadium, resistiu a novas exigências de reformas, acirrando o conflito com a Fifa.

Além disso, a entidade restringe os tipos de patrocínios que podem ser comercializados localmente, reservando setores mais lucrativos, como bebidas e automóveis, para seus próprios contratos. Enquanto pacotes globais chegam a US$ 100 milhões, as cidades ficam limitadas a vender cotas de US$ 3 a 5 milhões em setores menos atrativos. “Se a Fifa impõe exigências milionárias, não pode também limitar nossa capacidade de arrecadação”, criticou um membro de comitê local ouvido pelo Politico.

Festas de torcedores em xeque

Os FanFest se tornaram símbolo da Copa desde 2006, mas, nos EUA, ameaçam ser reduzidos ou até cancelados devido ao custo: até US$ 1 milhão por dia por cidade. Alan Rothenberg, que presidiu o comitê organizador de 1994, foi direto: “Eles querem que todos façam uma festa para os torcedores, o que é ótimo. Mas dizem que não pode haver comercialização. Então esse é o problema: muito risco e pouca recompensa”.

Algumas cidades, como Nova York/Nova Jersey, Dallas e Houston, garantiram a manutenção dos eventos oficiais. Outras, como Seattle e Boston, estudam alternativas fora do modelo da Fifa. Em Los Angeles, a proposta é mesclar um festival oficial inicial no Memorial Coliseum com eventos comunitários menores, sem a chancela da entidade.

A Fifa, entretanto, já sinalizou que mesmo exibições alternativas precisarão de licença, reforçando seu controle sobre cada aspecto do torneio. Enquanto isso, governos locais seguem pressionados por cortes orçamentários e pela necessidade de justificar aos contribuintes os gastos bilionários para garantir a festa do futebol mundial.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...